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PRÊMIO DARDOS

 
O PRÊMIO DARDOS, prestigiado e desejado no mundo dos blogs, reconhece o mérito diário a cada blogueiro que com amor e dedicação,  faz espalhar o seu conhecimento e criatividade, tornando-o disponível a todos na web.

De acordo com as regras, devemos:
-exibir a imagem do selo no blog
-colocar o link do blog de quem se recebeu o prêmio
-escolher outros 5 blogs para receberem o SELO PRÊMIO DARDOS
-Avisar aos escolhidos.
 
Tive a honra de ser indicado pelo amigo Will, do blog Entrelinhas:
 
http://entrelinhasdowill.blogspot.com.br/
Indico mais cinco blogs:
(Blog de Tais Luso)

(Flor de Lis - Lis)

(Manoel)

(Vanda)

(Maison de Poupée - Gabriella)

Off revelado



Crédito: Pedro Ferreira
            A palavra “off” persegue os jornalistas. Às vezes para se contar uma boa história, ou relatar um fato que ninguém quer assumir, conquistamos as fontes e seus “offs”. A gente aprende, a contragosto, a respeitar. Uma vez descumpri o prometido, mas vocês vão entender. O momento era raro e a informação única.
            O ano era 2001 e entrei de penetra no apartamento da Avenida Atlântica, de Oscar Niemeyer. Gravador ligado na bolsa, um bloquinho de papel (naquela época não usávamos tablet e laptop) e uma caneta qualquer, sentei no sofá ao lado do deputado que seria recebido pelo arquiteto. Estava combinado que me passaria por uma assessora do político.
            Antes de Niemeyer chegar, a passos lentos, e sentar-se numa cadeira na nossa frente, tive tempo de me encantar com as curvas do Pão de Açúcar, vista privilegiada da ampla janela do arquiteto. Nas paredes, alguns croquis protegidos por vidros, num ambiente austero, em preto e branco.
            Estava tudo correndo bem. Anotava cada palavra, nem piscava de tão empolgada. Niemeyer é avesso a jornalistas e eu tinha a noção exata da importância do momento e daquela reportagem que seria publicada no dia seguinte. 
            Num instante qualquer, ele parou de falar, olhou de soslaio para aquela pessoa miúda que não conseguiu passar despercebida:
            - Quem é você?
            Quanta coisa passa na nossa cabeça numa hora dessas. Contava a verdade? Mentia? Quem me conhece, já sabe de antemão o que respondi:
            - Sou jornalista  e vim a convite do deputado.
            Ele pareceu contentar-se. Eu me senti, enfim, aliviadíssima. Pronta, poderia fazer minhas perguntas. Comecei por desabar o meu encanto mineiro por Brasília. Meus olhos devem ter brilhado porque realmente sou apaixonada por essa cidade que resume ideais humanistas. Agradeci pela qualidade de vida que ele e Lucio Costa nos deixaram. Ele escutou, só escutou. Disse apenas que se entristecia de ver aqueles carros enfileirados ao redor do Congresso Nacional. Segundo ele, uma das coisas mais feias em Brasília.
            Depois, comecei a trabalhar. Estava ali para arrancar uma frase do arquiteto contra o governador Joaquim Roriz. Queria uma crítica sobre, eu acho, a Ponte JK, obra faraônica. Saí de lá sem a frase. Astuto, ele fez o contrário: um elogio ao governador que prometera concluir as obras do Eixo Monumental de Brasília – a biblioteca e o museu na Praça da República. 
Bom, mas de qualquer jeito já tinha a matéria: a história dos carros enfileirados nas proximidades do Congresso Nacional. Resultado de muitos carros, poucas vagas. Num dos últimos instantes, ele me chamou para acompanhá-lo a um canto do escritório. Retirou um livro da estante, perguntou meu nome, escreveu a dedicatória e entregou-me. “Para Rovênia, certeza neste Oscar Niemeyer”.
Terminei agora há pouco de relê-lo: “Minha Arquitetura – Oscar Niemeyer”, da Editora Revan , edição de 2000. Nesse livro, ele descreve as suas principais obras em Brasília e pelo mundo e revela seus sentimentos e sua integridade, passagens da sua vida e de figuras históricas como Lucio Costa, Le Corbusier, Juscelino e Marechal Lott  (conto em outra oportunidade, ok?)
Estava toda feliz, já na despedida, quando ele calmamente ordena:
- Só não autorizo que você publique nada que falamos aqui.

Ao reler o livro que ele me presenteou, tenho certeza de que fiz absolutamente o certo em não obedecer. Segue o trecho:

“(...) Ali aprendi uma lição. Às vezes, é preciso dizer não. E, mesmo quando isso nos traz prejuízos no momento, pode nos trazer benefício no futuro. Não fosse aquele “não”, Capanema não teria se aproximado de mim, nem eu teria projetado Pampulha e Brasília.”


(*) Ganhei folga nesta sexta-feira. Até segunda-feira. Deixo vocês com um vídeo belíssimo sobre Niemeyer: “A vida é um sopro”.




No controle




Imagem do Google

Ele traz o vinho tinto de reserva e o queijo francês que ela mais gosta. Mas não há romantismo que resista ao controle-remoto! Por que os homens gostam tanto de mudar de canal? Aquele filme não parecia ótimo?

O amor dos homens pelo controle-remoto foi o assunto das três amigas na pizzaria. 
 
- Eu já desisti. Fico lá bebendo o vinhozinho até ele se decidir. É o melhor para evitar discussão. 

- Eu não consigo entender, mesmo! Por que eles têm essa mania? São todos iguais?

- É inconsciente, automático. Querem sempre ter o controle da situação.

Capítulo II – Acaso dos cadarços


Favim.com

 
            E se não fosse um sonho? E não era. Eu sabia muito bem disso. Tive dois ataques de medo. Minha mãe já havia morrido. Nem esse consolo eu tinha. Morava sozinho e era sozinho. O sujeito carrancudo arrancou-me de minhas conjecturas e me jogou dentro de seu carro, que partiu com um barulho insuportável dentro dos meus ouvidos. Só tive tempo de observar um cadáver ser carregado para o outro carro, que partiu na frente.
            Pensei que estavam atuando em um filme qualquer: o mocinho morto e o vilão preso. Pensei novamente e concordei comigo que não teria dado muita bilheteria. Estava sozinho e era sozinho. Então pensei em morrer de novo. Era tudo real e, pelo visto, eu era o vilão.
            Chegamos. Era um penitenciária. Nunca tinha visto uma por dentro. Era nojento. Tive vontade de vomitar, mas só iria piorar o seu estado. Um homem, mais carrancudo que aquele que me escoltava, olhou-me: primeiro para meus pés e depois para meus olhos. Então estremeci. Alguma coisa estava errada. Era o segundo que agia assim.
            Porém, desta vez, não olhei para os seus pés. Abaixei a cabeça e reparei nos meus. Minha nossa! Não sei se cheguei a dizer isso,mas meus sapatos estavam ensanguentados e sem cadarços. Foi quando me dei conta que também minhas roupas estavam pingadas, aqui e ali, de sangue.
            Não tinha ainda acabado minhas conjecturas quando me levaram para uma cela ainda mais nojenta. Então não hesitei: vomitei. Pude notar apenas alguns olhos sem donos me observarem por todos os lados. Estremeci novamente. Eu era um assassino? Não era possível. Acreditava em Deus e no Espírito Santo. Eu era um assassino...
Não. Eu não era um assassino. Devia estar louco ou tendo um pesadelo. Dormi aquela noite ali, em meio à sujeira e ao ser odor. Tive vontade de nunca abrir os olhos e dormir eternamente. Ou então de abri-los e sentir o ar puro e fresco da manhã passada e de atrasar constantemente os ponteiros para não chegarem nas dez horas e começar tudo de novo.
A minha cabeça doía, quando alguém entrou na cela e me enxotou para uma sala escura onde havia alguns carrancudos que me olharam com veemência e medo. Alguém foi a um canto, puxou uma espécie de gaveta e fez sinal para o carrancudo atrás de mim. Esse me dirigiu ao encontro da gaveta e senti que minhas pernas desapareciam.
O cadáver tinha um sobretudo, um cachecol xadrez em vermelho, preto e branco e as mãos agarradas ao pescoço. Um dos carrancudos tirou-lhe as mãos em volta do pescoço e afroxou-lhe o cachecol: o pescoço havia sido brutalmente afinado por um par de cadarços. Havia sangue nos cantos da boca.
Fiquei horrorizado, mas calmo, muito calmo... Não dava para acreditar, simplesmente não dava. Não mais tive vontade de morrer. Já não tinha forças.
Agora passo os dias aqui, refletindo, lembrando o dia de chuva, das crianças correndo com os braços abertos. E, aqui, nem o barulho dos pingos me deixam ouvir. Vivo com um barulho insuportável nos ouvidos. Imagino que logo cai mais um pingo e outro. Num instante são centenas... aqui e ali.

Capítulo I - Acaso dos cadarços (*)

Imagem: Favim.com

    Fim de tarde de domingo. Ventava. As primeiras florações da estação que chegava não resistiam à brutalidade da ventania e iam de encontro ao solo. E rolavam rua abaixo. Para eles, era dia de festa. Só não gritavam porque a força do vento comprimia-lhes os rostos e estagnava-lhes a voz. As caras amassadas mostravam o sorriso inocente e feliz. 
   Mulheres corriam a fechar janelas e a chamar os filhos para dentro. Um senhor forçava, com vigor, o chapéu sobre a cabeça. Escondia as mãos no sobretudo e as pontas de um cachecol xadrez em vermelho, preto e branco agitavam-se. 
   Os primeiros pingos começavam a cair. No jardim próximo, eles furavam a terra fofa com violência. E logo mais caía mais um, e depois mais outro e mais um. Num instante, já eram centenas. Poças se formavam aqui e ali. Alguns meninos chutavam a enxurrada para o desespero das mães, que se esgoelavam atrás das janelas semifechadas. 
   Manhã de oito de março de 1952. O dia era claro e fresco. A chuva da véspera apagara todo o odor da poeira e o ar era muito bem aceito por todas as narinas. Alguns pássaros arriscavam-se a sair por entre as folhagens e logo estavam saudando contentemente o dia sem sol. Por volta das dez horas, um carro com barulho insurpotável quebrava o encanto do dia. E pouco depois chegava um outro piscando luzes e com mais barulho. 
   Homens uniformizados, com cassetetes em mãos, examinavam tudo e faziam anotações numa aparente caderneta. Um deles, carrancudo, com um bigode que escondia os lábios e óculos escuros para não mostrar os olhos - sei lá por quê  - se aproximou. Olhou para meus pés e depois para meus olhos. Eu, então, o olhei também. Primeiro para seus pés e depois para seus olhos. Era uma forma de retribuir-lhe o cumprimento. Talvez ele fosse de descendência oriental e tivesse vergonha dos olhos esmiuçados e, por isso, os óculos escuros naquela manhã sem sol. 
    Porém, ele tomou-me as mãos e meteu-me atrozes algemas. Confesso que hesitei em reagir. Não sabia se perguntava-lhe o que havia ou se morria mesmo, tal era o meu espanto. Mas o carrancudo de bigode, que escondia os lábios, mostrou-me os dentes de cavalo. Tive um ataque de medo e novamente pensei em morrer. Tranquilizei-me pouco tempo depois: devia estar sonhando. Em alguns filmes era assim, e então o cara acordava e ria tanto quanto se aliviava. 

(... continua amanhã)
 
 * Texto que escrevi no primeiro semestre de  1991, na disciplina Oficina de Texto I, ministrada por Climério de Souza Ferreira, Faculdade de Comunicação/UnB.

Momentos achados



Na pressa esqueci o livro em casa. Fico devendo a foto
Resolvi revirar ontem uma caixa com livros guardados. Estava à procura de um exemplar para contar uma história sobre “off”, mas isso vai ficar para depois.  Encontrei uma raridade que simplesmente havia esquecido no tempo. Fiquei tão contente de achá-la!
 É um livro fino, coletânea de textos escritos por calouros do primeiro semestre de jornalismo da Universidade de Brasília (UnB). Cada aluno da turma teve direito a dois textos. Eu fui tão privilegiada, como pude esquecer isso... O texto que abre a coletânea é de minha autoria, aos 17 anos.
Ri de mim mesma. Era um conto policial. Imagina, nessa época lia Agatha Christie e Stephen King. Poderia ter vergonha ao relê-lo, mas não, achei até bem bonzinho. Tirando erros de pontuação e o adjetivo “carrancudo” que repeti demais, a história é bacaninha. Só é meio grande. Vou dividi-la em capítulos, como faz a minha amiga R. Vieira, para vocês lerem a partir de segunda.
Mas havia outras duas surpresas nesse livro. Eu, que vivo invejando quem escreve versos, não é que tenho uma poesia publicada? Meu Deus, eu escrevi uma poesia? Juro, havia apagado da mente, completamente. A última surpresa foi um texto escrito por uma grande amiga daquela época, chamada Ana Cláudia Ilha. Perdi o contato. Ela mudou-se para os Estados Unidos e fomos separadas pela vida. Mas naquele semestre, de caloura, um dos textos que ela escolheu para publicar era uma descrição minha. Fantástico ler e constatar como ela me via.
Saudades daquela turma, daquele momento eternizado no livro que intitulamos Com fusão em confissões.  Na contracapa, o comentário é de Carlos Chagas, nosso professor de ética. Suas aulas eram no mínimo engraçadas. Era um andar pra lá e pra cá, soltando baforadas. Naquela época, o professor não achava antiético fumar em sala de aula. Escreveu que anos mais tarde muitos de nós já não estaríamos escrevendo, outros se arrependeriam dos textos escritos, e nos aconselhava a ser como ele: um eterno sonhador.
Os textos foram escritos nas aulas de Oficina de Texto 1,  do professor Climério Ferreira. Quem não conhece? Climério Ferreira nasceu no Piauí e mudou-se para Brasília em 1962. É poeta e da sua fase como cantor, surgiram parcerias com Fagner, Dominguinhos, Nara Leão, Tim Maia. Climério é irmão dos também compositores Clodo e Clésio, com várias composições de sucesso na nossa MPB.

Deixo com vocês um bom fim de semana, versos de Climério e uma letra dele cantada por Dominguinhos: Riso Cristalino.


SONHO DE CONSUMO
Quando o supermercado
Vender sentimentos
Vou querer comprar de volta
Certos momentos

Climério Ferreira






Tempos modernos



Imagem do Google
Não existe coisa mais chata do que mãe perfeccionista. Mas o menino aos 10 anos tinha essa certeza. A sua mãe era a mais chata que poderia existir. Ela era capaz de ler os livros paradidáticos da escola antes dele para depois ficar perguntando, perguntando... Só para saber se ele tinha mesmo lido.
Mas essa história que vou contar não é novidade. Contei uma vez para um amigo meu, jornalista mais velho, mas daqueles que conquistam a gente por um nada, simplesmente por emanar uma energia doce, que nos acalma. Virei fã dele e terá minha amizade eterna. Foi ele quem publicou essa história como crônica no jornal.
Então, o menino tinha essa certeza. Cara fechada, debruçado sobre os cadernos e livros para vencer o punhado de exercícios que a mãe mais chata do mundo tinha deixado, antes de sair para o trabalho, para ele fazer. E não adiantava fingir que tinha feito escrevendo qualquer coisa. Ela ia chegar, corrigir um por um e, depois, explicar o que estava errado para ele refazer.Ela era mesmo infernal.
Nesse mesmo dia, à noitinha, ela chegou e pegou a direção do quarto do menino:
- Você já acabou?
- Sim. Já fiz tudinho. Pode corrigir...
- Certo, certo, poderia ser mais completa essa resposta e... como assim? Em branco? Você não explicou como surgiu o comércio na Idade Média?
- Não expliquei porque é muito fácil, né mãe! Lá na prova eu escrevo a resposta.
- Então me diga como era o comércio antigamente?
- Muito simples!  Começou com a troca de mercadorias nos burgos. Tipo assim: o cara tinha um quilo de feijão e trocava por um ipod.

Chuva feliz


Favim.com
 

            Nesses dias de chuva forte, vi uma garotinha protegendo-se sob uma sombrinha vermelha com bolinhas brancas. Mochilas às costas, voltava da escola amuada, tentando não se encharcar. Fiquei admirando... compunha um cenário harmonioso e alegre.
            De repente, a garotinha tirou as congas vermelhas e as meias brancas. Fechou a sombrinha e abandonou a calçada. Preferiu abraçar a chuva, sorrir e seguir o caminho chutando a enxurrada da rua.

O segredo e a revelação




Um cantinho de Natal na minha casa  (foto: Rovênia Amorim)


O segredo

A menininha meiga, na inocência dos seus oito anos, trancou a avó no quarto para contar um segredo:

- Vovó, a senhora promete que não conta para a mamãe? Ela vai ficar muito triste. E não conta para a minha irmã e nem para a Tatá e a Mamá (as duas primas)...
- Prometo, meu anjo. Não conto de jeito nenhum.
- É que não estou mais acreditando no Papai Noel e nas fadas...


A revelação

O menininho, filho único, tem nove anos. Ele está sentado na escada do pátio da escola, pensativo, quando um colega chega às gargalhadas.

- Você não vai acreditar!
- Não vou acreditar no quê?
- O Juca acredita no Papai Noel!
- Ué, e o que tem isso? Eu também acredito.
- ká-ká-ká – gargalha ainda mais alto o menino que se acha o mais esperto do mundo, enquanto corre de braços erguidos para chamar atenção das outras crianças.
- Vocês não vão acreditar! O Pedrinho também acredita no Papai Noel!

Brasil que a gente ignora


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 Dá um sono danado depois de “cachar o cureio”. Por isso, gosto sempre de tomar uma xícara de “cajuvira” e sempre evito pôr muita “camberela” e “mantambu” no prato. Pesa na barriga, dá mais sono ainda.  Queria é, na verdade, de não ter de “curimbar” tanto!
Você deve estar imaginando que sou bem doida, não? Conheci hoje uma estudante de escola pública de Bom Sucesso, cidade do interior de Minas Gerais. Bruna Clemente Gontijo, de 17 anos, tirou o segundo lugar num concurso nacional de redação. Ela tinha de escrever sobre uma particularidade da sua cidade que tivesse a ver com o Brasil.
Ela escolheu falar de um assunto que descobrira recentemente: a existência de um dialeto africano que sobreviveu no bairro de Ana Rosa, na periferia da cidade onde mora e termina o ensino médio. É a Língua do Negro da Costa ou Língua da Tabatinga. A estudante explicou que a sua cidade foi fundada por escravos que trabalham numa área mineradora próxima.
Fascinada com a riqueza cultural da sua cidade, ela defende que o dialeto seja reconhecido como bem imaterial do Brasil. Justo, não?  Ficou curioso? Nesse endereço aqui você encontra o dicionário da Língua da Tabatinga, que mistura o português rural do Brasil-Colônia a línguas de grupos Banto, principalmente do quimbundo e do umbundo, ainda faladas em Angola.

A tradução acima:

“Dá um sono danado depois de “almoçar”. Por isso, gosto sempre de tomar uma xícara de “café” e sempre evito pôr muita “carne” e “mandioca” no prato. Pesa na barriga, dá mais sono ainda. Queria, na verdade, não ter de “trabalhar” tanto!

Reflexos da infância?

Imagem favim.com


Uma é menina, iniciando a vida e com todo o tempo do mundo. A outra vive à cata de mais tempo. Na aula de francês, leram um texto do médico William Lowenstein – Ces dépendances qui nous gouvernent - que destaca o vício pelo trabalho - “les workaholiques” . A palavra é um neologismo inventado nos anos de 1990 pelo norte-americano Wayne Oates, que juntou os termos work + alcoholic.
                No meio das aulas, em meio a todos os outros problemas psicológicos citados na lição, as duas revelaram os seus. A mais nova, linda e com aparência de perfeita, contou do armário hiperorganizado, com roupas separadas por cores. A aluna mais velha, bonita e com aparência de resolvida, não resistiu:
                - Mas isso não é um problema! É uma qualidade!
                A mais nova replicou:
                - É um problema, sim, e não sou cega diante dele. Ninguém pode mexer no meu armário. Eu sou capaz de perder um tempão organizando-o e choro em pensar que alguém pode entrar e mexer. Minha mãe já sabe e deixa meu quarto trancado.
                Então, a outra aluna revelou o seu problema:
                - Ando tão apressada que não enxergo sinais vermelhos, esqueço os vidros do carro abertos no estacionamento. É que fico pensando em tudo que preciso fazer. Uma vez até esqueci onde tinha estacionado o carro. As quadras residenciais em Brasília são tão parecidas, que não sabia em qual deixei o carro. Sabia que era por ali, mas de salto alto, as nuvens cinzas ameaçando despencar logo o temporal, atrasada para o próximo compromisso, não tive dúvida. Liguei para um táxi. Expliquei que não estava bêbada, nem drogada, mas que precisava da ajuda dele para achar o carro.
                A turma toda riu, como se não tivessem cada qual os seus. Até que outra aluna revelou outro problema:  o vício pelo trabalho. Não consegue chegar tarde e nem sair cedo. Leva trabalho para casa; no almoço, o assunto é o trabalho. No Facebook, idem. Na visão de Lowenstein, os workalcoholics procuram admiração, estima.  “Mais ou menos, segundo os testemunhos de amor recebidos durante a infância”.

Enfin... essas dependências que nos governam!
Um bom fim de semana!


Coragem para viver


Martha Gellhorn e Hemingway (foto do Google)


Fui simplesmente atropelada nesse feriado. Aquela lista preparada na véspera de tantas coisas pra fazer de nada adiantou. Tive de desmarcar compromissos e adiar outros. Não consegui sair da cama, impedida por uma dessas horas em que o corpo exige um “basta”.  E ainda tive de ouvir a frase mortal do meu marido:
- Ótimo! Só assim para você ficar quieta!
Passei o feriado evitando abrir os olhos para não ver o teto rodando, rodando, atrapalhando meus pensamentos. Só no fim do dia, comecei a melhorar e, às 22h, consegui ver um filme na tevê. Interessante, contava a relação de Martha Gellhorn, jornalista correspondente de guerra, e de Ernest Hemingway, que todo mundo conhece.
Ficam como sugestões de presentes. Neste Natal, vou ser prática. Darei livros para todos: de crianças a adultos. A Face da Guerra, de Gellhorn, e Por quem o sinos dobram, de Hemingway, são opções.  A relação dos dois durou cinco anos. Terminou, eu acho, quando o machismo do escritor deixou escapar que ela “se fez” graças a ele. Ela, em entrevista anos mais tarde, amargurada pelos horrores que presenciou, disse que sua vida não era um rodapé de livro.
Enfim, que tal ler os livros dos dois para tirar as próprias conclusões? Dela, no filme, Hemingway comentou que nunca havia conhecido uma mulher com tanta coragem. Dele, no filme, Gellhorn disse que a pessoa que o escritor mais torturou foi ele mesmo.
Hoje, ainda meio tonta, saí de casa para o trabalho. No caminho pensei nessa vida louca que a gente leva, sem tempo para respirar e reparar nas coisas. Somos escravizados por nós mesmos. Não, não quero essa vida de falta de tempo em 2013. Está na hora de colocar em prática aquela outra frase do meu marido:
- Essa vida é para quem tem coragem ...
                  

Tantas coisas pra fazer





Imagem de Favim.com

Que bom, um feriado na semana!
Estava aqui pensando em coisinhas para fazer.
Fiz até uma listinha:

- cortar o cabelo e fazer as unhas
- ir à academia (virou religião)
- arrumar meu armário
- organizar os brinquedos das crianças
- terminar, enfim, o livro de cabeceira
- fazer uma comidinha para almoço de família
- assisti ao mestre do baião no cinema
-  fazer os deveres de francês atrasados
-  cumprir a promessa de brincar de jogo de tabuleiro
-  fazer um programa com o maridão
-  estudar com os filhotes para as provas finais
-  chamar os amigos para tomar um vinhozinho
- tirar o dia para fazer simplesmente nada
ou
- montar a árvore de Natal com toda a família

(*) Acredite na magia! A resposta está com o bichinho fofo da foto...Conto na sexta-feira, após a Proclamação da República, o que decidi fazer!

Um ótimo feriado!

Hora de ir embora




Ela era estudante de mestrado em biologia, loura, bonita e inteligente. Vinha de Porto Alegre para estudar na capital federal. Na terra natal ficou o namorado que conhecera havia 13 anos e com o qual ela se casaria anos mais tarde.

A menina do interior de Minas, caloura na universidade e na vida, tornou-se a melhor amiga. A gaúcha gostava da sinceridade da mineira. Todas as vezes que ela retocava a pintura do cabelo, vinha sobressaltada à procura da adolescente de 18 anos:

- E aí? Ficou bom?  

A mestranda sabia que a menina contaria, com a naturalidade peculiar da pouca idade, a mais pura verdade. Ainda que fosse aquela verdade que ela, no fundo, não quisesse ouvir.

Pois bem. Um dia a mestranda revelou o seu mais íntimo segredo para a menina. Ela incorporava um preto-velho e que não precisaria se assustar quando presenciasse o fenômeno.

Numa noite, após um tremelique da amiga mais velha, ele veio.  Rondou o apartamento onde as duas estudantes moravam e olhou a menina assustada, enrolada num edredom azul florido, e pediu um favor:

-  Minha filhinha, você pode buscar no criado mudo, ao lado da cama da sua amiga, um cigarro e o isqueiro?

- Onde mesmo?

- Está na gaveta do criado-mudo, ao lado da cama onde a sua amiga dorme.

A mineirinha foi até o local indicado e buscou a encomenda. Entregou-a ao preto-velho, que acendeu o vício e se satisfez bufando a fumaça. Depois, olhou novamente, para a menina e apontando para o relógio que ela trazia no braço, quis saber:

- Minha filhinha, você pode me dizer quantas horas são?

A mineirinha estranhou a pergunta, pensou uns instantes, daqueles impossíveis de medir, e devolveu uma pergunta:

- Mas, como o senhor conseguiu ver o local onde estavam o cigarro e o isqueiro e não consegue ver quantas horas são no meu relógio? E por que o senhor quer saber as horas? Tem hora para voltar?

O senhor preto-velho sorriu e não respondeu:

- Você é uma pentelhinha.

Instantes depois, foi embora.

A coxinha não vale a pena!




Afundada na preguiça sobre uma almofada, assisti, no sabadão, a uma entrevista no canal das mulheres (GNT) sobre o esforço do Ronaldinho Fenômeno para emagrecer. Naquela peleja, suor escorrendo enquanto corria trechos curtos e rápidos na areia da praia, ele perguntou ao personal quantas calorias tem numa coxinha:
- ... de 300 a 350.
Sem pensar, Ronaldinho respondeu, convencidíssimo:
- Não vale a pena! E nem é tão gostosa assim!
Ri sozinha e entendi perfeitamente a constatação do Fenômeno. Na contagem regressiva para as férias, estou na luta para perder três quilos. Parece pouco, mas não é fácil enxugar calorias.
Enquanto pego pesado no aeróbico na academia fiquei lembrando da coxinha e fazendo as contas: 40 minutos de escada rolante são apenas de 300 a 320 calorias queimadas. Na esteira, com picos de velocidade, 7 quilômetros consomem um pouco mais: 500 calorias.
            Nessas horas, de suor pingando, você convencendo mentalmente a seu corpo que ele aguenta, sim, mais um pouco, é que se chega ao óbvio: muito melhor a saladinha, o biscoito de gergelin e a fruta. Dá até ânimo de voltar no outro dia para a academia e malhar mais um monte! Vamos, hoje é segunda-feira.



Caminho nada suave


 
 Fim de ano chegando e a gente vai descobrindo, com gerúndio e tudo, como estamos ficando velhos depressa demais, não? Jovem Guarda... Tudo bem, vá lá, não é da minha época, mas como era da juventude dos meus pais, ouvia minha mãe cantarolar músicas da Martinha, Vanusa,  Celly  Campello, Wanderléa, Roberto e Erasmo e Silvinha e quem mais?

Neste fim de 2012, a mostra cultural do colégio das gêmeas, de oito anos, será sobre a Jovem Guarda e a Semana de 22. É impressionante como as músicas daquela época embalam gostos eternos. Elas já aprenderam a cantar os refrões e estão doidas para experimentar os vestidinhos rodados de poá.

Tomo um banho de lua, fico branca como a neve
Se o luar é meu amigo, censurar ninguém se atreve
É tão bom sonhar contigo, oh! Luar tão cândido


Era um biquíni de bolinha amarelinha tão pequinininho
Mal cabia na Ana Maria

Ele é o bom, é o bom, é o bom
Ele é o bom, é o bom, é o bom


Ave Maria, cheia de graça. Ultimamente é o que tenho ouvido. E com pedido de bis:

- Mamãe, queriidaaa, você pode gravar num CD pra gente cantar direitinho? Pode? Pode?

Para aliviar,os dois livrinhos bacanas para a Semana de Arte Moderna. Uma, que adora o bicho de pelo macio, vai ler O Mistério do Coelho Pensante, de Clarice Lispector. A outra já descobriu que Monteiro Lobato fazia críticas a Anita Malfatti. Dizia que ela não sabia pintar.

Tudo isso, em meio às provas finais do 3º ano do ensino fundamental das meninas. Nesta sexta-feira, vêm as duas piores: de matemática e a de inglês do cursinho de línguas.

No meio de toda essa efervescência, há o anúncio do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic). É triste pensar que nesse nosso Brasil, 15,2% das crianças que têm a mesma idade das minhas filhas ainda não estão alfabetizadas: não sabem ler, escrever e dominar as quatro operações básicas ao final do 3º ano, aos 8 anos de idade.

Tudo isso faz refletir em como a educação evoluiu para as crianças mais ricas, que podem estudar em colégios particulares.  Para os filhos da geração Jovem Guarda, a alfabetização começava aos 7 anos, em cartilhas, método silábico. Hoje, aos 8 anos, os netos da geração musical embalada por Roberto e Erasmo já são donos de conhecimentos avançados e capazes de se comunicar numa segunda língua. 

A educação pública no Brasil precisa avançar páginas e páginas! 


Enquanto isso, vamos curtir um pouco?

 

No English, no war



"A história da vida é mais rápida que um piscar de olhos. A história do amor é oi e tchau, até nos encontrarmos de novo". (Jimi Hendrix, pouco antes de morrer)

Imagens retiradas do Google
Jimi Hendrix em Woodstock




















Nesse fim de semana, fugi de Brasília. Fui descansar numa fazenda a uma hora e meia de Brasília, cercada pelo mato e pela paz. Queria esquecer que no domingo, às 14h, teria de estar no trabalho para o plantão do Enem 2012.

No recanto da paz, ouvi uma história sobre a Guerra do Vietnã, contada pelo meu sogro. Ele foi um dos primeiros mineiros de Governador Valadares a pisar nos Estados Unidos. Era jovem e a época era boa para juntar dinheiro na Terra do Tio Sam.
Estava tudo correndo bem. Ele até conseguiu se legalizar, tornando-se cidadão norte-americano. 

O problema foi a convocação para a Guerra do Vietnã, missão que não estava nos planos do jovem mineiro. Ele então usou a astúcia para não atender a ordem dos norte-americanos:

- I no speak English, entende?

Os militares se entreolharam e deram prazo de seis meses para que o alienígena brasileiro aprendesse inglês. O prazo não foi suficiente, obviamente, e o jovem acabou sendo dispensado do matar ou morrer na guerra. 

A minha paz terminou e às 14h já monitorava as notícias sobre o Enem pela internet.  Tão logo os primeiros candidatos deixaram os locais de prova, as questões começaram a ser conhecidas. Uma delas estava na prova de inglês e citava Jimi Hendrix e a pacificação no mundo. 

- “Que coincidência!”  Pensei e pesquisei um pouco sobre o guitarrista, considerado um dos maiores da história do rock.
Meu sogro e Hendrix tinham a mesma idade. Só que Jimi Hendrix, claro, não teve como negar o idioma. Natural de Seattle, foi convocado para a guerra em 1960. Tornou-se paraquedista de um esquadrão de elite. Diz a história que certa noite, cansados de ouvir a guitarra de Hendrix, que praticava todos os dias, seus colegas de alojamento desceram a porrada no pracinha. 

Jimi não se defendeu: abraçou a guitarra, protegeu-a com o corpo e apanhou até que um amigo ajudou-o. Após 26 saltos Hendrix fraturou o tornozelo e foi dispensado. E pôde, enfim, começar a sua carreira de sucesso. 

Ele morreu aos 27 anos, abrindo o tabu da idade em que outros roqueiros famosos também se foram de forma trágica, como Jim Morrison e Janis Joplin. No próximo dia 27, Jimi Hendrix completaria 70 anos. Meu sogro vai fazer uma grande festa na sua fazenda, mês que vem, com o tema boteco, para comemorar os seus 70 anos. 

Mas o que vem ao caso é que meu sogro estava lá nessa época de efervescência política na música norte-americana em protesto pela guerra. É essa a questão que estava na prova do Enem.  Os adolescentes que fizeram a prova de língua inglesa, com certeza, sabem quem foi Jimi Hendrix, mas muitos desconhecem que foi ele quem tocou na guitarra o hino deturpado dos Estados Unidos em protesto pela guerra.
Na época da Guerra do Vietnã, o mundo passava pela ebulição do movimento pelos direitos civis, do feminismo, do movimento gay  e os jovens norte-americanos viviam em um contexto social e político de ampla contestação. O Woodstock dos hippies, realizado numa fazenda próxima a San Francisco, estava mergulhadíssimo nesse cenário da década de 1960.
  
Foi nesse festival que Jimi Hendrix usou a guitarra para escancarar The Star-Spangled Banner e evidenciar, pela música, a sua crítica política.  Era um hino sem letra, em que usou a guitarra para acrescentar barulhos de bombas, metralhadoras, sirenes, aviões e o terror da guerra. Pouco mais de um mês depois, Jimi lançaria a música Machine Gun, agora com letra, sendo mais direto em sua crítica. 

“Dessa forma, é possível perceber como a música, e mais especificamente o rock, contribuíram para a crítica política no contexto dos Estados Unidos nos anos 60. Fosse aproveitando-se da fama para passar uma mensagem, fosse utilizando-se de momentos específicos para realizar uma crítica, os músicos mostravam sua atenção com o que ocorria no mundo, contrariando a imagem de uma juventude desraigada politicamente que se limitava ao estereótipo de sexo, drogas e rock and roll." (Trecho retirado de texto escrito por Ricardo Poço Vianna, em 2009, em www.//whiplash.net)