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Benevolência. Até quando?

Foto: Klaus Obermaier/Ars Electronica Futurelab

Às vezes, não dá vontade de escrever nada. É uma zanga com o mundo. Ver pessoas revirando lixo para saciar a fome incomoda e esqueci o radar. Mais uma multa. Escrever sobre o quê? De novo, as mazelas sociais... O importante não parece ser o aniversário do Neymar? Ando em desencanto.

Mas hoje o dia é de luz. A renúncia do Papa Bento 16 traz esperança. É um ato de coragem. Leva os fieis à reflexão. Pelo menos seria bom que levasse. Quem no cansaço da sabedoria não faria o mesmo diante de uma igreja perdida em erros imperdoáveis, onde os casos de pedofilia são apenas os mais recentes? Sensatez a sua saída. Que sejam-lhe dadas a paz e a solidão necessárias para pedir perdão pelos desumanos deste mundo. Que a fé dos homens seja intermediada por instituições mais sagradas. 

Fé em Deus, fé nos homens. Às vezes, a descrença parece envolver-nos. Em tanto tempo de evolução, a humanidade ainda resiste à inovação. Estranha, reclama, não aceita. A Igreja Católica precisa aceitar o novo mundo, a realidade. Impõe regras bobas, ultrapassadas, que nem mesmo o mais fiel carochinha consegue cumprir à risca. 

Estamos em 2013, século 21. Faz cem anos que a encenação de um ritual pagão no qual uma jovem dança até a morte foi vaiada no centro cultural do mundo. É a intolerância ao novo, à inovação. É assim em cada faceta humana: nas artes, na religião, na vida social. A Sagração da Primavera, música de Stravinsky, coreografia de Nijinsky, figurinos e cenário de Roerich, não foram compreendidos na sua ousadia coletiva. 

A composição para o balé encenado em Paris, incompreendida pela sociedade refinada, marca o início da música moderna. Em 1940, a Disney homenageia o compositor russo e cria o longa Fantasia. A música com todas as suas dissonâncias - reconhecidas anos mais tarde pelos críticos eruditos como mais que perfeitas - cobre um mundo primitivo, uma Terra que ainda se acomoda. 

 
No balé, a história é a de uma menina oferecida ao "Deus da Primavera" em troca de benevolência. Que a renúncia do Papa, que inquieta fiéis, surta o mesmo efeito. A humanidade precisa ainda de benevolência? Precisamos ter mais fé em nós mesmos. 

Dica: O filme Coco Chanel e Igor Stravinsky, 
de Jan Kounen (2009), reproduz a reação 
do público à Sagração da Primavera. 



4 comentários:

  1. O que está acontecendo? o mundo está ao contrário e ninguém reparou?
    :) acho que você reparou.
    gostei do texto, parabéns. Prefiro seu blog do que qualquer noticia sobre o Neymar. Beijo.

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  2. São por essas e outras que temos que permanecer com o olhar doce nos ensinamentos de Cristo,não sendo demasiadamente justo , nem demasiadamente sábio isso nos levaria a destruição perdendo os doces momentos ao lado dos que amamos no "presente" dado por Deus.
    beijos
    Joelma

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  3. Parece incrível mesmo com que a mídia se preocupa e gasta tempo e dinheiro.
    E nosso povo sofrendo salários de miséria!
    Quero muito crer que o novo Papa seja a luz que precisamos!
    Bom texto,como sempre Rovênia
    abraços

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  4. Convincente argumentação, falou com propriedade.

    Doce abraço!

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