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Um amor que ficou para a nossa história


  Aprendemos pouco, muito pouco, sobre a nossa literatura nos livros escolares. O poeta Tomaz Antônio Gonzaga, autor de Cartas Chilenas, vem à tona em 2012 porque será cobrado dos estudantes do ensino médio que farão a segunda etapa do PAS da Universidade de Brasília. Eu, confesso, que sabia bem pouco sobre esse dândi português, que gostava de camisas e meias de seda. Foi enviado para Vila Rica pela Coroa Portuguesa para o cargo de ouvidor, um espécie de relator de tudo que acontecia na próspera cidade aurífera.
Entrou para a nossa história literária por ser representante do arcadismo brasileiro. Escreveu versos para Maria Dorothea, uma jovem bonita e rica, 19 anos, pele clara, cabelos pretos e filha de uma importante família em Vila Rica. O amor no início proibido, por ser ele sem posses e muito mais velho – tinha o dobro da idade dela –, inspirou versos que espalharam-se pela cidade.
Dorothea era a Marília nos versos. E Tomaz, o apaixonado Dirceu. Pois então, eu ganhei de presente o livro Marília de Dirceu – A musa, a Inconfidência e a vida privada em Ouro Preto no século XVIII, um romance da mineira Stael Gontijo, para saber mais sobre o poeta.
Como viajar no tempo é importante, levei minhas filhas para Ouro Preto. E elas puderam entrar na casa em que o poeta viveu. Elas leram versos na parede e descobriram uma mesa, que guarda atrás de um gavetão, um fundo falso que servia para esconder dinheiro e documentos importantes – uma espécie de cofre.
Tomaz fez parte dos inconfidentes e foi condenado ao degredo em Moçambique, na África. Não casou com Marília, que morreu solteira, aos 85 anos, em Vila Rica.  Ela entrou para a história como a musa da Inconfidência e seu túmulo está no Museu da Inconfidência.  

Viagem histórica com as crianças



            Férias com crianças em idade escolar é para descansar e, por que não aprender um pouquinho da nossa história? A cidade escolhida foi Ouro Preto, em Minas Gerais, a preciosa Vila Rica que reinou absoluta na época do ciclo do ouro no Brasil. Essa parte da história está no livro do 3º ano do ensino fundamental das minhas filhas. Nascidas em Brasília, uma cidade com traçados e prédios da arquitetura modernista, estava difícil para elas entenderem o que era chafariz, ruas com paralelepípedos e casario colonial.
            Então embarcamos rumo ao passado. Contratamos um guia, o Zé Maria do Espírito Santo, filho de escravo alforriado pela Lei do Ventre Livre. Nascido numa fazenda ao redor de Ouro Preto, ele diz ter estudado história da arte na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). É um apaixonado por Aleijadinho, as igrejas em estilo barroco e a história da cidade. Dois dias ele nos acompanhou pelas ladeiras e visita aos monumentos.
Não fosse ele, teria de ter lido mais para aprender tanto em tão pouco tempo. As dicas foram boas, as crianças adoraram e se inquietaram com as sepulturas dentro das igrejas, inclusive a de Aleijadinho. Pena que nos livros de história aprendemos tão pouco sobre esse grande artista e a sua genialidade. Aprendeu o ofício com o pai, português, mas diferenciou-se na irreverência, nas particularidades que registrou em suas obras.
Imagens com dois pés direitos, um braço mais comprido, o Cristo na cruz com marca de enforcamento...  homenagem a Tiradentes, que era membro da maçonaria como ele.  “Aleijadinho não tinha lepra, mas uma doença chamada Porfírio”, explicou Zé Maria. Para esconder a doença que lhe corroeu os dedos das mãos, usava roupas compridas e o sofrimento e a crítica que recebia da sociedade aparecem nas suas obras. A beleza acaba por esconder a sutileza das imperfeições humanas.
Claro, era informação demais para duas crianças de oito anos, mas elas puderam almoçar num restaurante construído em antiga senzala, se hospedar num casarão colonial, andar pelas ruas estreitas e íngremes asfaltadas com pedras irregulares. Entenderam o valor histórico da cidade e o motivo que está tombada como patrimônio da humanidade pela UNESCO. Conheceram Gabriel, artista local, de quem comprei dois anjinhos bochechudos e de boca fechada esculpidos em cedro – uma arte que imita Aleijadinho.
            Três anjinhos formando um triângulo, símbolo da maçonaria, era uma espécie de assinatura de Aleijadinho. Entre tanta riqueza, a Igreja São Francisco de Assis, idealizada pelo próprio Aleijadinho e com pintura no teto do mestre Ataíde, que fazia Nossa Senhora mulata. São imperdíveis também as visitas às igrejas Nossa Senhora do Pilar, entre as mais ricas em ouro do Brasil, e Nossa Senhora da Conceição, onde está o túmulo de Aleijadinho, e o Museu da Inconfidência, onde se encontram os túmulos dos inconfidentes.  Menos o de Tiradentes, cujo corpo esquartejado não se sabe onde foi parar.

Isso é corrupção!




Ter gêmeos é um desafio em dose dupla. Sempre! No primeiro semestre letivo deste ano minhas filhas, que estudam em salas diferentes na mesma escola, aprenderam sobre corrupção. Levaram uma cartilha para casa e tiveram que escrever uma redação sobre o assunto.
Neste fim de semana, a lição foi posta à  prova. Vamos ao caso. As duas fizeram o mesmo teste de história e, em determina questão, por coincidência, cometeram o mesmo erro. Era uma questão sobre Brasília e as duas primeiras capitais do Brasil: Salvador e Rio de Janeiro. Bastava ligar o nome da cidade às informações corretas sobre a sua origem.  A professora de uma considerou a resposta correta e a da outra marcou um “x”.
Bom, temos um problema. Ou as duas acertam ou as duas erram. Recorri ao livro para não ter dúvidas e, infelizmente, concluí que as duas erraram. Resultado: a gêmea que acertou, na verdade, errou. O que fazer? Pensei alto demais:
- Ah, vou deixar isso quieto, como está...
A reação da outra gêmea, que tinha ganhado o “x” da professora, foi veemente:
- Isso é corrupção, mamãe. E se você não falar com a professora, eu mesma falo!
- A gêmea que teria a nota diminuída, chorou, chorou. Expliquei com todo o carinho do mundo e ela entendeu.
Não tive dúvidas. Escrevi um bilhete para a professora reivindicando a nota justa.