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Livre para amar

Faz um ano que ela teve a genial ideia de presentear as netas com o Ted. O coelhinho branco, de olhos azuis, chegou na cesta junto com ovos de chocolate. As crianças amaram, a mãe nem tanto. 

Mas era um bicho tão fofo que a mãe pegou-o no colo, alisou-o e pronto, estava apaixonada. Mas onde o Ted moraria? Um problemão. Na casa já havia o Scooby, o destruidor das plantas. Nunca houve um cão tão voraz. Além das plantas, comeu dois dos três cogumelos de concreto das fadas, e entrou sorrateiro na cozinha para devorar o tapete da pia. 

A mãe, tão doce com a natureza, daquelas que evita pisar em formigas, teve um ataque. Era demais. Se o Scooby com aquele olhar de dog inocente não fosse para o adestrador seria morto. Por ela mesma, que se encarregaria de achar um veneninho.
Enfim, ouviram a sua fúria e o Scooby foi para o adestrador. Caminho livre para o Ted que poderia sair do banheiro. Ninguém merece morar num banheiro. 

Ted adorou a graminha, esticava as perninhas de trás, exibindo o rabinho pom-pom. Ele adorava a mãe. Bastava ela chamá-lo pelo nome, que ele vinha. Desconfiado, mas vinha, comer a alface sem agrotóxico. 

Graças ao Ted, ela descobriu que coelhos não gostam tanto assim de cenoura. Preferem alface. E ela comprava. Era uma dona dedicada. Até que um dia, o Ted descobriu o buraco na cerca-viva. Vivia de lá para cá. Sumia o dia todo, mas na manhã seguinte vinha vê-la e saborear folhas de alface frescas. 

Não demorou muito para apaixonar-se pelo gato malhado do vizinho. Passou então a ficar mais no quintal de lá. Que tristeza. Como podia ser tão fofo e tão ingrato? Qual a graça de trocar os afagos da mãe pelos daquele gato?
Imagens Tumblr

Pior foi quando ela flagrou o vizinho esquisito acariciando o Ted, carregando-o no colo... Pronto, agora ele tem um novo dono. As visitas foram escasseando, escasseando... até o dia que ela não o viu mais. Consolou-se em saber que o Ted foi livre para viver seus amores.


Feliz Páscoa para todos, com cesta cheinha de carinho, respeito, amor e liberdade de escolhas. 

Meu filósofo é verde

Arquivo Pessoal
Bruna é uma menininha de oito anos que adora revistas em quadrinhos. Ela descobriu que neste mês de março a Mônica faz 50 anos. 

- Como assim, mamãe? Você não sabe de nada, mesmo. Ela só tem sete!

Tive de falar de Mauricio de Souza e dos personagens criados por ele, que nunca envelhecem. Os olhos de todos da família começaram a brilhar. Cada um falando dos seus personagens preferidos: Coelho Caolho, Tina e Rolo, Marina, Bidu, Jotalhão. Você deve ter o seu. Todos têm!

Eu? Eu amo o dinossauro verde, o Horácio. Além de fofo, educado e humanista, ele é inteligente, vive pensando, o que é apaixonante. 

Em setembro, fará 50 anos que a Folhinha de S.Paulo publicou a primeira historinha em quadrinhos do meu filósofo verde. Então teremos em 2013 mais um personagem soprando a velinha de 50 anos. 

Pena que no Brasil os endinheirados não investem em diversão. Já imaginaram um Parque da Mônica como os de Walt Disney? Até o Parquinho da Mônica, que funcionava dentro de um shopping em São Paulo, fechou. Lembro que me encantei pela casinha da Mônica e seu armário cheio de vestidinhos, todos iguais, todos vermelhos. 

Agora imagina um parque enorme com todos os personagens do talentoso Mauricio de Souza! E o meu Horácio lá, a filosofar...

Imagem do Google

Diante do amanhã

Google Images
Diante do abismo, o que carrega o medo na alma vê a possibilidade de queda e de morte. Passa os dias evitando o novo, temeroso dos perigos que os mundo oferece. Sobrevive de cautelas, não vive, não se arrisca, prefere a segurança de uma caverna escura.

Diante do mesmo abismo, aquele que não traz o medo na alma vê o amanhã. Olha sempre na direção do sol e é capaz de pegar carona nessa luminosidade para transpor os desafios e chegar do outro lado, onde começa o novo dia. Ao vencer esses obstáculos, carregará a experiência de ter vivido. Terá o peito cheio de exaltação, de uma alegria infinita. Será livre num mundo claro, aberto, repleto de belezas porque teve a coragem de voar até elas.

Sabem de onde veio essa linda inspiração filosófica?  De um desenho animado, Os Croods, em cartaz nos cinemas. Dá para rir um monte, chorar um pouquinho e colher filosofia. 

Voo sublime

Foto de Breno Fortes
Três pontes cortam o Lago Paranoá, esse lindo espelho artificial construído pelos candangos e que emoldura o Plano Piloto de Lucio Costa. A primeira a ser construída e a mais simples é a Ponte das Garças. É  funcional, uma reta sobre o lago, sem a arte dos singelos pilares de Niemeyer na ponte que leva o nome do presidente do AI-5 (Costa e Silva) e sem os arcos monumentais da JK, o mais novo cartão-postal de Brasília. 
Mas a ponte mais humilde, construída para ligar a Asa Sul do Plano Piloto ao Lago Sul, o mais nobre setor habitacional da capital, é a Ponte das Garças. Recebeu esse nome porque essas aves eram comuns no Lago Paranoá.  Mas começaram a sumir e de nos presentear com a graça dos seus voos. 
Em 2003 fiz uma reportagem sobre o assunto e um biólogo especialista em pássaros confirmou o sumiço e alertou sobre a necessidade de pesquisas para descobrir se houve mudanças ambientais e alteração da rota migratória. 
Enfim... mas ontem vi um voo sublime registrado pela câmera de Breno Fortes, um fotógrafo talentoso com o qual já tive o prazer de trabalhar. Admirem, porque a imagem é de uma beleza ímpar!

Um ótimo fim de semana!


Pecado grave demais

Foto de Robert Stuckert Filho/PR
Não vou conseguir deixar passar em branco. Afinal, este é um espaço para da ti lo gra far o que penso. Nossa presidenta deu um vergonhoso mau exemplo no Vaticano. Chegou lá sem véu, com o topete à mostra para cumprimentar o Papa! Será que ninguém avisou que o véu simboliza humildade, respeito, religiosidade? Que gafe!

Para piorar, levou uma comitiva absurdamente exagerada. Precisaram de 52 quartos em hotel de luxo, claro! Ave Maria, cheia de graça... Por que tanta gente? Será que o Papa Francisco vai trazer tantos seguidores quando vier ao Brasil? 

Ele já dá mostras que não. Recusou-se até a ocupar um espaço tão grande no Vaticano. Sua santidade alega que ali daria para morar 300 pessoas. Isso, sim, é mensagem de humildade, como São Francisco pregava.

Cadê a lição de humildade do Brasil? Será que Dilma e a comitiva se empolgaram tanto em querer pedir bênção ao Papa que esqueceram o país de tantos pobres, brasileiros ainda com fome e tantas outras torturas? Cometeram, sim, um pecado grave. Que todos peguem o terço e comecem a pedir perdão.

Nasce o outono

Tumblr e arquivo pessoal
Hoje não erguerei a cabeça
Dispensarei a beleza do céu
Estou atrás da vida caída
Das folhas que perdem a cor
e estalam num último suspiro
para o prazer dos meus pés

Hoje vivo a pausa ante as alegrias
que ainda se anunciarão
O tempo não é triste,
nem é de morte
É de espera, de gestação
Natureza contida, mais bela
Tão bela que me faz sorrir
Um, dois, três ... dez
Todas as folhinhas vieram
Nasce o presente de Deus

(*) Parabéns Matheus - São 17 outonos!


Regras demais

Damos importância demais ao miojo no meio da redação. Quantas convenções, quantas regras a seguir! O texto está correto, com argumentos e propositivo. Que mal faz uma receita, assim do nada, para descontrair,como alegou o estudante? Eu, sinceramente, acho mais que justa a nota. A redação está correta, criativa, engraçada. Com falhas, com pontos a melhorar, como a educação no nosso país. Mas que bom ler um texto e rir um pouco. A vida que moldamos é regrada demais! É cheia disso pode, mas isso já não pode. Fica tão chata. Chata demais. 
A natureza não é assim. Não é tão rigorosa. Nós, humanoides, é que regramos tudo. O outono começa amanhã, a estação nostálgica ou romântica, em que há folhas caídas e levadas pelo vento. Quem disse que o outono começa de verdade amanhã? Olha que árvore mais linda fotografei ontem perto do meu trabalho? Não estamos na primavera? 

Rovênia Amorim
Somos tão infinitamente insignificantes para perdemos minutos com bobagens. Vendo crianças no tablet de última geração estudando sobre o nosso sistema solar, recuei no tempo. À época em que pesquisa era só nos livros. O sistema solar era maior. Havia nove planetas. Lembram do distante Plutão? Agora é um plutoide. Assim mesmo, sem acento. As regras ortográficas também foram alteradas. 
E por que Marte não tem vida? Nem água mais. O que aconteceu por lá? Sabemos tão pouco, quase nada, e ficamos regrando tudo. O nosso sistema solar é um pontinho num dos braços da Via-Láctea. E há bilhões de galáxias pelo universo. 
Somos nada. E diante desse nada que guarda tanto a descobrir, vivemos de regras. Damos importância a bobagens. Isso pode, isso não pode. Que bom que os novos imigrantes que chegam ao Brasil já sabem a receita de um miojo. É prático, rápido e alimenta o corpo. Absurdo é não ter o que comer e uma alma esfomeada de saber.


Novo mundo a girar

Sabem o que é bom nesta vida? Saber que somos superados, que melhores virão cuidar deste mundo.

Ser jovem é ter um futuro a construir. Não há medos, só vontade de ir, de conquistar. Não há nada a perder, e por isso toda tentativa é grandiosa. São os sonhos, os idealismos. Sem isso, o mundo ficaria velho. Passamos todos por isso, não é? E o mundo todo girava a partir de nós. Tudo estava à nossa espera.

Quem não admira esses nossos jovens são, "déjà", derrotados. É preciso saber a hora de passar o chapéu. E entregá-lo com honra. Fomos e somos ainda, mas eles serão. 

O nosso mundo girou e aquieta-se agora. O deles está na propulsão! Novas ideias, novos talentos, novas sensibilidades, novas poesias, novas vidas. A todos eles, minhas lágrimas, meu coração mais feliz!


Olhem só, como essa minha cunhada, futura jornalista, anda aprontando em Siena, na Itália, na sua graduação-sanduíche. 




Encantos no mundo

Arquivo pessoal
Abram a janela e encantem-se com o céu. Não importa se há nuvens cinzas. Abram as suas pequenas mãos e colham a chuva. Procurem mais e vejam a lua branca. É minha. Acabei de amarrar o fiozinho aqui na minha janela para que não saia voando por aí, toda perdida. Onde eu vou, ela me segue porque sou esperta. Aprendi desde criança a amarrar o fiozinho na mão, agora amarro no carro, na janela, no galho da árvore. Amarro por aí.
Silêncio. Prestem atenção ao barulhinho... Ouviram? É a danada da Maria Fumaça que acabou de passar. Não viram? Olhem o risco roxo na parede da sala...Foi o trenzinho encantado que passou, passou, passou...
Vai viajar? Te empresto a minha lua para vocês admirarem. Podem ir no meu avião, que é invisível e ninguém vai ver vocês sonhando. E não tenham medo. Nunca, nunquinha, nuncão. Eu canto uma canção de ninar para vocês brincarem com os anjos. 
E se o vento balançar o avião, não tenham medo mais uma vez. Olhem pela janela. Aprendam a ver o que ninguém vê. Embalem-se com a chuva que bate, bate, bate ... É tão gostosa! Ou sorriam docemente para os raios do Sol. As nuvens brancas lá embaixo são fofinhas e seguram o avião. 
Daqui a pouco nascerão as estrelas nesse céu sem fim. E a minha lua, que empresto a vocês, está logo ali, amarrada na asa do avião. Podem brincar como se ela fosse um balão.
A viagem será tranquila, meus amores! O mundo encantado está logo ali, depois do arco-íris.





*  Para minhas doces meninas, alegria em dobro todos os dias!

Um ótimo fim de semana para vocês!

Alma que não vemos



Imagem: Tumblr
 
- Mas por que você está desapontada com o mundo? O que o planeta tem a ver com  tudo isso? 
- O mundo é habitado por pessoas. Tem pessoas em todo o mundo...
Então ela se lembra da filosofia de uma menina que se embebedava para fugir da realidade. Em meio à dor, ela tinha inventado a sua própria filosofia:
- Gente é complicada demais. Prefiro os bichos! Os bichos... Cavalos, gatos e cachorros. É preciso enxergá-los como São Francisco de Assis. 
Já repararam que eles nos olham nos olhos? E quando nos olham tão profundamente nos intimidam mais que qualquer humano que tenha se arriscado a isso? Enxergam a alma da pessoa nesse cruzamento de olhares. 
Poucas pessoas percebem isso, ainda que tentem se enganar. Elas sabem, no inconsciente guardado, que aquele instante significante existiu. Essas são as menos egoístas, as que talvez sejam capazes de amar mais que a si mesmas. Uma esperança ao amor, a esse mundo que assusta.

Imagem: Google
Os bichos tornam-se amigos fiéis porque conhecem a essência dos seus donos. Não te abandonam, compreendendo todas as suas fraquezas. Os humanos, insensíveis, é que os menosprezam, inferiorizam. 
E eles lá, num canto qualquer, dóceis, abanando o rabo, erguendo as orelhas a cada passo que se aproxima, esperando a chance de nos dar uma lambida, um carinho...Pobres homens que não enxergam o amor em sua humildade mais sublime. Um Papa que ama São Francisco traz um novo olhar.



Erro de português


Quem é que sabe escrever esse nosso português? Eu não. E você? Mas às vezes é demais. Somos atropelados pela gramática.Os olhos saltam, a dor chega à alma.

A faixa esticada atrás do caminhão velho, carregado de adubo e parado no acostamento, anuncia a promoção:
- Um é 8. Três é 20.
Em casa, o caderno quadriculado de matemática está aberto para revelar o dever pronto.
"Qual é o presso da bisicleta? Eu tambêm não sei. Dá para comprar em prestaçõens?"

O choque é grande. Quem é que vai verificar se o "cáuculo" está correto? Os números perdem a exatidão na página. 
O alívio chega em versos de Oswald de Andrade: 



Erro de português

Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.


Vício na fala

Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados
 

Reencontro




Imagem do Google
"A solidão vira este bem precioso, o escudo quase infalível para livrar-se das intromissões humanas." 


(Paulo Renato Souza Cunha, 
em Cartas para o Espaço e 
outros Contos Surreais)


Quem diria que seria por meio de "cartas para o espaço" que me voltaria à memória uma conversa há quatro anos. Meio criança e de cabelos loiros lembra um pequeno príncipe russo. Ele foi forçado a ser meu amigo. Teve o azar de sentar-se ao meu lado na redação do jornal. Como acho sempre um assunto para conversar, ele tinha pouco tempo para escrever. 

Assim, talvez, tenha lhe incentivado a produzir no pouco tempo livre ao meu lado. Eu amava esse tempo ao lado dele. Era um jovem inteligente, que lia muito, curioso, educado, de futuro. Eu falava das minhas filhas e ele dos pais médicos, que amava tanto e que também sempre tiveram pouco tempo para oferecer aos filhos. Ouvir isso, para quem costumava ficar até 14 horas numa redação, era reconfortante. 


"Prefiro a catacrese dos papéis. Acho que me dou melhor com celuloses. Isso pode soar racional àqueles que seguram ferramentas cortantes e curam doenças. Eu me criei doenças."


Um dia, ele quis um conselho. Estava indeciso porque como estudava russo tinha a oportunidade de ganhar uma bolsa para se aperfeiçoar na Rússia. A dúvida é que se fosse perderia a chance de se contratado pelo jornal. Ele era ainda um estagiário. Não tive a menor dúvida:

- Mas você não tem o que decidir. Você tem que ir. 

"Fico longe, chateado com a existência e preciso das clausuras prolongadas a fim de encontrar qualquer pretexto para continuar respirando atmosfera. Sinto muito se choramos abraçados, juro que não foi por mal."

Na volta de Paulo Renato, eu já não estava mais naquela redação. Ao partir, o seu lugar foi ocupado por uma menina, que escrevia e patinava. Era talentosa nos dois ofícios. Também teve de aprender a escrever nas minhas pausas. Em pouco tempo éramos amigas. Achavam que era a minha irmã mais nova, a irmã que nunca tive. 

Quem sabe se tivesse tido uma irmã, teria conversado mais na infância e não falasse tanto depois. No meu tempo de menina preenchia o tempo livre lendo ou conversando comigo mesma. Gravava em fita cassete (alguém lembra ou sabe o que é?) várias perguntas e depois respondia. Bom, acho que tinha mesmo de ser jornalista, não?

"...gosto de ficar olhando as pessoas correndo lá embaixo. Elas têm muita pressa. Mas eu quase não tenho pressa. Quase não gosto de estar com as pessoas que têm pressa."

Mas voltando ao meu amigo. Um dia desses, trocamos palavras por e-mail. Ele então falou que havia publicado um livro de contos. Enviou-me um no endereço que tive de passar duas vezes. Cinco minutos depois de anotar pela primeira vez, perdeu o papel. Eu sei bem como é isso. A mente sempre em ebulição. 

O livro começou com as anotações de diário durante viagens com a família e termina com as experiências solitárias no mundo dos russos. Só lamento ter ficado com vontade de ler mais. São apenas 49 páginas. Haverá outros para me calar. 

"Entendo que a morte aparece quando a obscuridade, enfim, se instala. Isso não me perturba. Só não venham me matar em vida."


(*)Homenagem ao meu querido amigo, o pequeno príncipe russo Paulo Renato

O voo do Pequeno Príncipe

Foto do Tumblr
Ele veio de paletó azul brilhante e aqueles cabelos loiros lembraram-me de que o Pequeno Príncipe havia envelhecido. Cantou suas histórias, seu romantismo atrás de um óculos de armação azul. A cada história contada, deixava o piano, sorria, erguia o braço direito e curvava-se diante do público que teve de se virar para descobrir o local da nova casa de espetáculo em Brasília, inaugurada antes mesmo de estar cem por cento pronta. Mas, no fim, deu tudo certo. 

Elton John surgiu, como por encanto, no horário britânico e presenteou a plateia com um profissionalismo admirável. Cantou por duas horas e meia, sem intervalo, poucos goles de água para acalmar a garganta. Não reclamou do calor, não tirou o paletó do Pequeno Príncipe. 

Há dois anos, apesar da minha frescura por multidão, gente pisando no meu pé, aventurei-me no Rock in Rio. Queria apenas assistir ao show do Elton John. Difícil chegar à Cidade do Rock, Rio de Janeiro engarrafado. Para piorar, ele seria o último a se apresentar. Teria antes de aguentar Cláudia Leite e Katy Perry. Meu marido não resistiu. A cabeça explodia. 

Assisti ao show na tevê do hotel sem reclamar, mas arrasada. Ouvir um "Você não vai morrer sem assistir a um show dele.Te levo em Londres, se for preciso". Na última sexta-feira, veio a recompensa. Sem dor de cabeça, sem ninguém pisar no meu pé. 

Com essa história toda, lembrei de um amigo, fã do Bono Vox do U2. Assim que soube que a banda viria a Brasília, entrou para um cursinho de inglês, ensaiou as perguntas e convenceu o editor de que poderia entrevistá-lo. Conseguiu. Levou debaixo do braço um velho disco de vinil. Saiu de lá extasiado com a assinatura do ídolo. 

Outro amigo rastreou os raros shows de Leonard Cohen pela Europa e arrastou a mulher. Voltou de lá com alegria tão contagiante, disposto a repetir a dose no próximo ano. E repetiu seu sonho. E vocês também têm uma história de show para contar?




Palavras do lixo

Emmanuellewalker/tumblr
Nem tudo que escrevo, publico. É bom escrever para nós mesmos. Guardar para ler depois ou não guardar, mas embolar o papel e atirar na lixeira. E daí?  Hoje fiz isso novamente, mas por segundos senti pena das palavras amassadas. Resgatei o papel, desamarrotei-o com as mãos. 

Na lixeira ainda ficaram os papéis do barulhinho gostoso dos dois Sonhos de Valsa que me deram no Dia Internacional da Mulher. Fico pensando se isso é coisa de homem mesmo. Querem nos ver gordas? Não compro bombom, mas se me dão, eu vou comer como criança, ou seja, bem devagarinho que é para durar mais. 

Mas tudo bem, nada que uma boa corrida não dê jeito. Afinal não somos o sexo frágil, como canta o Erasmo. E nem podemos ser. Quem é que vai segurar nossas pontas. Os homens? Eles têm o jogo de futebol, esqueceram? E as crianças têm dever de casa.

E ainda há homens que batem em mulheres? Homens são mais fortes. Não é preciso medir força porque vão ganhar sempre essa queda de braço. Parabéns pelo seu dia! A gente ouve isso o dia todo, mas no dia seguinte vai ter um louco no trânsito chamando-nos de barbeiras ou gostosas. Será que ele não viu que trocou de faixa sem dar a seta? Queremos flores e versos, mas precisamos de respeito. 

Esse dia é uma grande bobagem. Virou data comercial, ninguém reflete sobre a luta pela igualdade de direitos, pela não violência. Já ouvi até mulher reclamando das feministas que queimaram os sutiãs. Alegam que todas nós poderíamos estar agora em casa, cuidando dos filhos, sem o estresse da dupla jornada. Melhor nem discutir.

Será que antes da luta dessas corajosas mulheres, a dedicação exclusiva das que só tinham a opção de ficar em casa era valorizada? Não era nem opção. Era obrigação. E há mulheres que não valorizam essas conquistas nos dias de hoje?


Somos românticas, sim, acreditamos sempre no final feliz. Se ele acontece, choramos. Se não acontece, choramos também. E daí? Há algo errado nisso? Gastamos dinheiro com bobagens, sapatos demais. Isso é verdade, mas não somos perfeitas. Somos mulheres. Ah, o papel... as palavras amassadas. Quer saber? Estou embolando de novo para atirar na lixeira...






Um ótimo fim de semana!


Olhos bem abertos



Foto: Rovênia Amorim
Continue sentado aí. A história que vou contar leva apenas dois  minutos e 42 segundos. Eu cronometrei. Comprei duas mudas de uma planta com flores brancas perfumadas e que não faço ideia do nome. O jardineiro veio e pedi que escolhesse dois lugares de destaque para as novas aquisições. Antes da meia-noite, lembrei-me de que não havia chovido e minhas novas flores deveriam estar morrendo de sede. Lá fui para o jardim na missão de salvá-las. 

- O que esse edredon está fazendo aí, perto da piscina?
Era o Beto, o marido 007 nessa história. 

- Não faço a menor ideia. Deve ser coisa do esquecimento da Maria. Ela sempre apronta. 

Ele veio atrás, incomodado com o edredon. Será que alguém entrou na piscina e usou o edredon para se enxugar? 

- Não sei. Será? Bom, depois a gente pergunta para a Maria.

Na volta para a casa, ela estava lá, dona do varal na área de serviço. 

- Você vai entrar? Ela é caçadora e pode te dar uma bicada. 

- Então não vou. Vamos nos sentar aqui na grama, olhar as estrelas e esperar. Ela vai embora...

Mas não foi. Ficava lá, olhando para nós e nós para ela. Nem reparamos nas estrelas. Era melhor dar um jeito. Beto 007 teve a ideia de pegar um banco, desses tipo tamborete, para passar e se defender da coruja. Isso mesmo, havia uma coruja no varal. 

- Se ela vier, eu a espanto com o banco. 

- Como assim? Você vai machucá-la! Melhor não. 

O melhor era pensar como o MacGyver. Ele sempre tinha uma solução para tudo. Falei da minha ideia genial:

- Vamos acordar as meninas. Batemos na janela, elas abrem e nós pulamos para entrar. 

Não foi fácil executar a minha ideia de gênio. Elas têm sono de pedra. Enfim, uma acordou:

- O que vocês estão fazendo aí de fora? 

- Depois explico. Você pode abrir a janela para a gente entrar?

Coitadinha, com sono, ela cumpriu com excelência a missão. E quem disse que eu conseguia pular a janela? Precisei de uma ajuda básica, aquele calço feito com as mãos do Beto 007. Deu certo, eu entrei. Subi em disparada pela escada que dá acesso ao meu quarto. Precisava da máquina para fotografar a coruja. Equipamento nas mãos, materializei-me na cozinha. Abri um pouco a janela, o Beto 007 atrás de mim:

- Você vai disparar o flash? Ela pode levar um susto e te atacar! 

- Será? Ah, mas quero muito fazer essa foto... Vou arriscar.
Três flashes e a coruja virou a cabeça, encarou-me. Fechei a janela rapidamente. 

- Está tudo explicado. 

- O que está explicado?

- O edredon. A coruja carregou o edredon porque queria ficar com o varal só para ela ou então planejava construir um ninho...

- Não viaja 007. Ela jamais ia conseguir carregar um edredon!

- Claro que sim. Elas são caçadoras, carregam as presas com as garras. Não é com o bico, não...

- Ainda não acredito. Acho que foi esquecimento da Maria. Amanhã pergunto.

Enquanto isso a Clara estava lá, olhos espantados, bem abertos, como os da coruja do varal, sem entender nada de nada. Por que vocês precisaram me acordar no meio da madrugada e pular a janela?

Lições da vida


As mortes de Chávez e Chorão nos deixam algumas reflexões:



- Não há poesia que resista às drogas.

- A riqueza efêmera do petróleo precisa ser investida na educação do povo. Conhecimento é liberdade!

Bastar a si mesmo

Já se sentiu mal por gostar de isolar-se ou não ter um milhão de amigos reais ou virtuais? Aprecia a solidão para ficar consigo mesmo, uma pausa nessa sociedade maluca e apressada para ler, pensar, curtir o nada? Quantas vezes não nos sentimos os antissociais? Tudo bem, não se aflija. Você é normalíssimo, segundo o filósofo alemão Arthur Schopenhauer, um defensor do bastar a si mesmo. 
Oscullum/Tumblr

" A solidão concede ao homem intelectualmente superior uma vantagem dupla: primeiro, a de estar só consigo mesmo; segundo, a de não estar com os outros. Esta última será altamente apreciada se pensarmos em quanta coerção, quanto dano e até mesmo quanto perigo toda convivência social traz consigo. Tout notre mal vient de ne pouvoir être seuls (Todo o nosso mal provém de não podermos estar a sós), diz La Bruyère. A sociabilidade é uma das inclinações mais perigosas e perversas, pois nos põe em contato com seres cuja maioria é moralmente ruim e intelectualmente obtusa ou invertida. O insociável é alguém que não precisa deles. Desse modo, ter em si mesmo o bastante para não precisar da sociedade já é uma grande felicidade, porque quase todo sofrimento provém justamente da sociedade, e a tranquilidade espiritual, que, depois da saúde, constitui o elemento mais essencial de nossa felicidade, é ameaçada por ela e, portanto, não pode subsistir sem uma dose significativa de solidão." 

Então não se culpe pelos momentos de solidão. Essa pausa é necessária para a felicidade!

Segunda miscigenação

Imagem Google
Já tinha pensado nessa miscigenação antes, mas o tema voltou a inquietar-me ao ler nesse fim de semana Nihonjin, de Oscar Nakasato. O brasileiro resulta de uma mistura de gente, nossos índios nativos, os africanos e os europeus, a começar pelos portugueses. Mas o livro fala dos japoneses, que vieram para o Brasil trabalhar nas plantações de café no período da Segunda Guerra Mundial. 

Neto de imigrantes japoneses, Nakasato narra com propriedade da dificuldade de adaptação desse povo ao Brasil, dos preconceitos que sofreram, das saudades e do amor ao Japão, do esforço por manter em terra estrangeira a cultura deles. Os primeiros não queriam a miscigenação, mas com o tempo, a chegada dos filhos e netos, misturariam-se naturalmente aos brasileiros. E, assim, nossa nação seguiu ainda mais puramente miscigenada. Ser brasileiro é, portanto, ser um pouco de cada um do mundo. 

Mas a minha inquietação é que na década de 1960, o Brasil viveu uma segunda miscigenação com a construção de Brasília. Brasileiros já miscigenados das nossas cinco regiões e novos imigrantes, inclusive os japoneses, vieram povoar o Planalto Central. Os orientais foram cultivar hortaliças e flores na faixa verde que contornava o Plano Piloto. 

Uma segunda saga histórica. Pena que parte dessas colônias agrícolas, terras públicas arrendadas pelo governo, renderam-se à especulação imobiliária. Foram fatiadas e transformaram-se em condomínios residenciais para a classe média.

Amores possíveis


Crédito: Rovênia Amorim
Daqui a pouco, as duas largam as bonecas e só vão querer sapato alto e vestido bem cintado. Mas até esse dia chegar, elas são daquelas que correm com o o dever de casa para brincar. Na pressa do dia a dia, desperdiço momentos tão raros em que poderia estar ao lado delas. Esta semana, tive uma surpresa:

- O que o Batman está fazendo aí?
- Ele é o namorado da Barbie!

Bom, no mundo delas tudo é possível!



(Notícia boa: uma materinha minha está publicada hoje no Terra Educação. Querem ler? Cliquem aqui.)