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Uma história para contar



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Ela disse sim. Era tudo novo e nem tinha por que dizer um não. Era aventura e isso a atraía mais que tudo. Faltavam poucos minutos para o novo ano estourar, quando ele fez o convite:
            
- Vamos assistir à queima de fogos?

- Sim, mas como? Não temos carro!

Ele pegou a bicicleta e o champanhe gelado. Olhou apaixonadamente para ela e reiterou o convite:

- Vamos? Você consegue segurar a garrafa?

Cabelos ao vento, pessoas olhando, chegaram a tempo dos fogos. O ano-novo chegou com beijo e gosto de champanhe.

Em 2013, arrisquem-se em aventuras.  Apaixonem-se a cada dia e tenham uma história para contar.

Amigos que não chateiam

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Por que não temos todo o tempo do mundo para virar uma página e depois outra e mais outra, num infindável ritmo? Bibliotecas, sebos, livrarias são lugares apaixonantes. Guardam um mundo vivido e escrito. Guardam cheiro bom...

Queria, sim, ter todo o tempo do mundo para ficar abraçada a livros, a esses guardiões de sabedoria.Queria saber todas as línguas, desvendar mistérios, estar ao lado dos monges que copiavam, na solidão dos mosteiros frios, os segredos, o conhecimento de todos.

Quando era menina, as bibliotecas públicas eram lugares que gostava de ir sozinha. Sentia-me bem ali, protegida, cercada de inteligência. Era o que mais saciava essa minha curiosidade duplicada.

Depois que a gente cresce, a vida rouba tempo. Temos de lutar para ler mais um pouco, descobrir livros, visitar estantes. Neste fim de ano quis ser prática e dar livros de presente. Não deu certo, gastei o tempo que tinha na livraria. Folheei páginas, li as orelhas, as contracapas e, no final das contas, saí de lá feliz, sem os presentes, mas abraçada a meus novos amigos.

Agora a pouco roubei um tempo do trabalho para aliviar a curiosidade em mais uma página. Psiu! Não conte a ninguém, mas vou te dar de presente essa frase que acabei de ler:

"Se você precisar de mestres, vá procurá-los nos livros: são mestres mudos e não chateiam a gente!"  (José Paulo Paes)

Lágrimas natalinas


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Um presente para Noel
A menininha na inocência dos seus oito anos pegou o teclado de brinquedo, um caderninho e o celular pink. Escreveu sua primeira música. Cantou os versos com a voz suave de criança, enquanto tocava Noite Feliz.O gravador do celular registrou o momento sublime. 

Então ela escreveu uma cartinha para o Bom Velhinho, dobrou o papelzinho com carinho dentro de um envelope fechado com adesivo de flor. Desceu os dois degraus para chegar à sala onde fica a árvore de Natal, enfeitada com bailarinas e sapatilhas. Deixou lá o envelope e o celular. 

A  curiosidade da observadora só esperou a menininha voltar para as brincandeiras. E abriu o envelope para descobrir o segredo:

- Feliz Natal, Papai Noel. Aperte a tecla do meio do meu celular. 

Ela teclou e ouviu a mais bela canção de Natal que o Noel poderia receber. Passou o dedo na lágrima que escorreu pela sua face. 


 Corações de ouro

O jovem tem 20 anos, mora numa cidade pobre do Distrito Federal. É alegre, sempre recebe a observadora com um sorriso sincero e revela seu bom humor. Na véspera do Natal, chorou. Abraçou o dono da loja, disse que o Natal seria triste. Explicou que a mãe viajou com o novo namorado. O pai com a nova mulher. Ele ficou só para a noite de Natal com a lasanha congelada deixada pela mãe. O dono da loja sentiu o coração apertar, e desabafou:

- Você é um cara muito especial. Só sei que nunca vai fazer isso quando tiver seus filhos.


A lágrima do ator

Roberto Carlos merece o título de rei. Não tem vergonha de cantar o amor. Na noite de ontem, 25 de janeiro, o show Reflexões, feito para artistas da Rede Globo, emociou o ator Rodrigo Lombardi, protogonista da novela Salve Jorge. Quando o rei cantou a música-tema do personagem e do seu amor pela Morena,(Esse cara sou eu), ele deixou a lágrima de emoção escorrer. Foi lindo assistir a isso!

Brilho ao vento



Imagem: Fauvim.com
Queria hoje um dom especial
para te enviar alegria, sorte, paz,
amor, perfumes, viagens, cores e sonhos!
Como entreguei meu pó mágico
às crianças que esperam o Noel,
restou-me nas mãos uns poucos
grãos que acabo de soprar ao vento
para te desejar um brilho de tudo isso
neste Natal e por todo o caminho em 2013!



P.S.: De presente, uma canção linda e a dica de um filme emocionante (Les choristes)! Obrigada, de coração, por terem me achado neste cantinho discreto, que não faço questão de propagar. Melhor assim, que me achem por acaso e me leiam sem pretensão!







Vai um cafezinho?



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Acordei pensando nesse blog,  espaço que me obriga a escrever algo quase todos os dias, sem pretensão alguma. Mas hoje especialmente estava sem ideia. Fui então tomar um café, aqui na copa do trabalho. Eca, eca! Não deu para engolir. Por que colocam tanto açúcar?
Não tomei o café, mas achei a ideia. Por que o brasileiro gosta tanto de café? Não faço questão dele. Nem sei fazer café. Nas poucas vezes que me arrisquei, exagerei no pó. Qual é a medida certa? Não tem modo de fazer no pacote, já perceberam? Lá em casa, essa é uma tarefa do meu marido. É um ritual lento, quase uma terapia. Ele acorda, coloca a água para ferver, coloca o pó na medida certa no filtro de papel e fica lá aspirando o cheiro do café fresquinho. Eu fico olhando, meio impaciente. Tudo que preciso é de um pingo para o meu leite morno.
Café é motivo para um bom papo, de gentileza. É uma espécie de etiqueta nas casas dos brasileiros. Pelo menos um cafezinho é preciso oferecer. Agora então me vem a lembrança do meu avô paterno. Ele adorava um cafezinho, que minha avó passava naqueles bules de antigamente.
A bebida chegava fumegante. Ela enchia uma xícara e oferecia a ele num gesto de amor. Meu avô levava a xícara aos lábios finos, escondidos pelo bigode branco, bem aparado. Ouvia então aquele barulho que ele fazia para sorver a bebida sem se queimar. Embora o bigode escondesse, eu via um sorriso de satisfação.
Engraçado como o café parece ter nascido entre nós. Mas não é nativo daqui. Foi descoberto na Etiópia, difundido pelos árabes. E embora um terço do café que circula pelo mundo seja produzido no Brasil, não somos nós os maiores consumidores. Pódio que fica com os norte-americanos. A rede Starbucks, por exemplo, utiliza um grão produzido em Minas Gerais. Eca mais uma vez! O café deles é horrível. Ralo, parece mais um chafé.
Ok, não sou tão chata assim. Se é para uma boa prosa até que aceito um cafezinho. Lembrei até de uma animação para começamos nosso dia com uma xícara de humor!  


Visita ao mundo maia


Crianças maias: arquivo pessoal
 "Sempre lemos nos livros sobre a civilização dos maias, mas não imaginávamos que eles ainda existissem. Esse foi o nosso maior aprendizado de história na viagem que fizemos para Cancun, no México, em 2011. Após mergulharmos nas águas quentes e transparentes do mar do Caribe, enfrentamos três horas de ônibus para chegar a Chichen-Itzá, a cidade dos maias. Chichen-Itzá significa ''boca do poço (de água) do povo do Itzá". O dia estava bem quente, o suor descia pela camisa, mas foi emocionante ver aquela pirâmide de quatro faces e base quadrada e as ruínas da cidade maia, que é uma das novas maravilhas do mundo.

      Anotamos algumas das explicações do nosso guia, um mexicano típico, de estatura baixa, rosto redondo e gente boa. Aliás, segundo ele, os mexicanos são baixos por conta da quantidade de cálcio na água da região, que torna os ossos fortes e dificulta o crescimento. Sabemos lá se isso é verdade, mas o calor estava de matar e tratamos de descolar um chapelão de palha bem mexicano, um sombreiro para aliviar o sol. E ariba, ariba! Os maias colocavam talas nas cabeças dos bebês e, por isso, eles tinham cabeções. Isso era feito pelos nobres para diferenciá-los do povo em geral.
      Segundo o nosso guia, a pirâmide El Castilho tem disposição astronômica perfeita: quatro escadarias voltadas para os pontos cardeais, que somam 365 degraus, um para cada dia do ano. O guia começou a falar sobre o sacrifício para os deuses quando umas menininhas maias começaram a cantar na língua delas para agradar aos turistas e ganhar uns trocados. Demos um dólar. Reparamos nelas. Como o guia havia falado, os descendentes dos maias são diferentes dos mexicanos. Eles têm cabelos pretos e lisos, a pele de um amarelo queimado e os olhos puxados, como o dos orientais. Acima uma foto delas para quem não acredita ...
      Há 5 milhões de maias, sendo 2 milhões no México. Eles eram bons em astronomia e matemática. Foram a primeira civilização a reconhecer o zero. A escrita deles tinha 800 caracteres e o sol era referência para a agricultura. Eles plantavam muito milho. O fim do mundo anunciado para 2012 foi comentado também pelo guia. Segundo ele, não há nada disso. Os maias eram bons astrônomos e sabiam que a cada 52 anos havia o alinhamento perfeito dos astros. O próximo será em 2012 e daí a especulação toda em torno do fim do mundo.  O alinhamento durava oito dias e faz o planeta Vênus sumir do céu. Um guerreiro é sacrificado para que um ciclo de 52 anos tenha início. Após tanta informação fervilhando na  cabeça, voltamos felizes para o ar condicionado do ônibus.”
                              
(Texto escrito por Matheus e Rovênia Amorim)

  
* Republicado antes que o mundo acabe! Que bobagem, não?



Conveniência ou verdade?



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Aletheia pensou nos últimos embates e no significado da palavra conveniência. O melhor sinônimo não é mentira? Há quem defenda que o melhor é disfarçar a verdade, dosar o que se diz para que a outra pessoa não se ofenda, não se magoe. Ela entende os argumentos, mas não consegue ter meias palavras. Se não gostou, vai falar e expor seus motivos. A pessoa poderá gostar ou não,  mas será a sua verdade, o que pensa.
Num desses embates recentes, a pessoa quis convencê-la de que o melhor é o desvio para não ser grosseira.  Dizer por entrelinhas, usar o desvio, ser indireto, delicado, ter bom-senso, etc e tal. Cansou só de ouvir. No fim, a outra pessoa poderá se iludir, se deixar convencer ou se conformar com a mentira disfarçada. O que ela quer ouvir? Não está preparada para enfrentar a verdade?
Após ouvir os argumentos dessa pessoa, Aletheia passou a refletir. Será que o que ela sempre lhe disse é verdade, o que realmente pensa? Ou é um desvio, as palavras tão bem aceitas do bom-senso. Ela ficou desconfiada. Passou a gostar um pouco menos da pessoa. Não lhe pareceu mais cem por cento confiável.
Por isso, Aletheia prefere dizer e ouvir a verdade. Ainda que se ofenda, terá o direito de retrucar, expor o ponto de vista. Ou então de dar a volta por cima, buscar uma solução, tentar enxergar de outra forma. A verdade pode doer, mas é a verdade. E nada pode ser melhor do que a verdade.
Aletheia sabe que por não ter meios termos, vive se equilibrando naquele velho ditado: me ame ou me odeie. Mas não está disposta a mudar. Prefere viver a verdade, ser uma verdade, ainda que muitos nesse mundo não estejam prontos para aceitá-la. Não acha que ser assim é ser indelicado. É ser livre, é ter respeito, não se conformar com a hipocrisia dessa sociedade.
 Por favor, pede que lhe deem a verdade, sempre a verdade. Explica que não vai odiá-los por isso, ainda que chore, esperneie ou me negue a acreditar de início. Precisa ouvir e enxergar a verdade. É a chance que tem para melhorar, se refazer, mudar o rumo. A conveniência não lhe serve. E pede desculpas por dizer a verdade, a sua verdade.  Ainda que corra o risco de ver os amigos se afastarem.
Ela se lembra então de uma voz amiga, que um dia há tanto tempo lhe disse uma verdade sobre a pessoa querida que a fez chorar:
-  Às vezes, as pessoas que nos amam estão erradas, mas nos dão a mais pura verdade porque querem nos ver felizes.
Verdade que ecoou pela sua vida e que ela só entendeu anos mais tarde. Hoje embala-a na mente e no coração. 


 P.S.:  No texto A concepção filosófica da Verdade, o professor de histório Fábio Pestana Ramos explica que, em grego, a verdade (aletheia) significa aquilo que não está oculto, o não escondido, manifestando-se aos olhos e ao espírito, tal como é, ficando evidente à razão.

Um brinde à infância


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     A cidade tem muito ainda a aprender com a civilização rural. Amigas e vizinhas, as duas acharam que levavam na mala a roupa apropriada para a festa no curral: botas e calças jeans. Mas foram as únicas. O público feminino estava a rigor para a boate rural, com vestido de lantejoulas, salto alto, batom vermelho e cabelo escovado. As duas se entreolharam, acharam graça e partiram para a diversão.
     Foi então que uma delas aceitou uma garrafa pequena do guaraná que o garçom oferecia. Olhou o nome no rótulo e achou familiar: Artemis. Ao levar na boca, o sabor desceu à  memória e lembrou a infância. Tentou ler o local de fabricação. A letra era tão minúscula e a luz do curral reforçada por gerador não ajudava... A garrafinha circulou de mão em mão até que alguém conseguiu decifrar o enigma. Era mesmo fabricada na cidade mineira da sua infância. Que doce sabor! Era, sem dúvida, o melhor refrigerante do mundo!
     O desenho do rótulo piorara. Não trazia mais a deusa da caça, mas as frutinhas do guaraná. Num instante, o assunto flutuou entre as lembranças de cheiros e sabores que memorizamos da infância. Alguém lembrou do quebra-queixo vendido na porta da escola, outro do doce de queijo da vovó,do moranguinho das festas de aniversário e alguém do guaraná Jesus, do Maranhão.
     - Ah, mas o Artemis é melhor. Guaraná Jesus tem esse nome porque é ruim.
- Como assim?
- A pessoa experimentou e disse “Jesus!” – disse o rapaz mineiro, criado no Espírito Santo e agora morador fixo da capital federal.
     A dona da memória da infância do guaraná Artemis lembrou então do amigo de São Luís, que trouxera uma vez o guaraná Jesus para ela provar. A bebida cor-de-rosa tinha gosto doce demais, mas era o sabor da infância dele e o melhor que poderia existir.
Naquela boate rural, ela refletiu então sobre os perfumes e sabores que carregamos da infância. Brindou com o guaraná Artemis o momento dividido com os amigos. E lembrou do crítico gastronômico do clássico Disney "Ratatouille" que, ao provar o prato feito pelo chef ratinho, sentiu saudade da comida da mãe e da infância. A emoção da primeira garfada encheu-lhe os olhos de lágrimas.
Pensando assim, para o amigo maranhense, Jesus superá para sempre a deusa grega Artemis, a toda-poderosa filha de Zeus, e irmã gêmea de Apolo. Para ela, no entanto, Artemis será sempre o  refrigerante dos deuses. Um brinde à infância que carregamos!

A vida tem dessas coisas



Vou fazer uma confissão: Ritchie foi a minha primeira paixão platônica. Acreditava, de fato, que me casaria com ele quando crescesse...

Bom ... a vida tem dessas coisas
e quando olhamos nos olhos da juventude
deixamos de girar nosso mundo egoista
e descobrimos que já somos derrotados.
Então, seja sábio,e se sinta feliz!


Um bom fim de semana! 



Cantada

Imagens: Google



Você é mais bonita que uma bola prateada
de papel de cigarro
Você é mais bonita que uma poça dágua
límpida
num lugar escondido
Você é mais bonita que uma zebra
que um filhote de onça
que um Boeing 707 em pleno ar
Você é mais bonita que um jardim florido
em frente ao mar em Ipanema
Você é mais bonita que uma refinaria da Petrobras
de noite
mais bonita que Ursula Andress
que o Palácio da Alvorada
que o mar azul-safira da República Dominicana

Olha, 
você é tão bela quanto o Rio de Janeiro
em maio
e quase tão bonita
quanto a Revolução Cubana

Ferreira Gullar não é lindo? Assistam à entrevista e me digam se não tenho razão!

Sem pincelar




Jogue a primeira pedra quem acredita na inocência do Lula! Ele não sabia nada sobre as propinas do mensalão? Se queremos mudar o país, que ele seja investigado. Ou o ex-presidente, que um dia me fez votar no idealismo, vai passar incólume para a história como os generais? Ditadura e democracia não podem se igualar em absolutamente nada. 

"O projeto de Lula e do PT é totalitário. O PT nunca quis democracia." (Ferreira Gullar)



Humanos infiltrados


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            De repente, ela notou o pensamento. Procurou ao redor, em meio ao pátio da escola onde as demais crianças brincavam. Então, avistou no parapeito do primeiro andar do prédio o homem careca, olhando para ela.
Ele não era deste mundo e queria se comunicar. E ela era a única com sensibilidade para escutar mentalmente. Explicou que vários outros como ele andavam pela Terra, ouvindo, observando, entendendo os seres extraterrestres que viviam nesse planeta.
Ela escutou apenas. Entendeu que os humanos eram cegos em vida, por isso não viam o óbvio. Depois, num piscar de olhos, o homem desapareceu.  Era como se nunca tivesse estado ali. Mas ela sabia que estivera. Teve o privilégio de conhecer um segredo do universo.
Anos depois, ela procura pelos outros humanos infiltrados. Mas não consegue mais ouvi-los, nem vê-los. Tornou-se insensível como os demais.

O nome do moço

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Época de chuva somada à falta de tempo, não tem mesmo jeito: o  carro de todo santo dia vai ficando encardido. Toda vez de entrar e sair, é um sufoco para não sujar a roupa. A solução menos inovadora, mas que resolve, é pedir salvação ao flanelinha – aquele do estacionamento do trabalho. É que os outros, que insistem para “dar uma olhadinha” no seu carro e pedem para lavar, são muito chatos. Acham sempre que mulher não sabe fazer baliza:
- Não cabe, não, moça! Tenta outra vaga logo ali...
Haja paciência. Conto até três, aumento o volume do som, finjo que aquela criatura que insiste em ficar ali, fazendo sinais de “vem mais pra cá um pouquinho”, “chega, tá bom” e “vai pra lá, mais pra lá”, é simplesmente uma miragem, e que não existe de fato.
Coloco o carro lá, onde ele garantiu que não dava e balanço a cabeça para dar o “sim” que ele quer ouvir.
- Sim, pode dar uma olhadinha no carro! E dá para dizer outra coisa?
Bom, voltando à nossa história. Cheguei atrasada nesse dia, estacionamento lotado, não puxei o freio de mão e deixei o carro na frente dos demais que tomaram aquela que poderia ser a minha vaga. Dei um giro de 360 graus até descobrir o flanelinha de chinelo, sorriso animado ao me ouvir chamando por ele:
- Moço, moço! Você pode lavar o meu carro? Deixei aberto. Por dentro e por fora, ok? Você sabe qual é, não?
No horário combinado, ao meio-dia, duas notas novinhas de R$ 10 na mão esquerda, precisei apenas de um giro de 180 graus para achar o tal moço:
- Moço, moço? Olá... Você estava aí! Me diga qual é o seu nome para eu parar de te chamar de moço...
Ele sorriu, todo satisfeito com a atenção:
- Meu nome é um pouco difícil.
- Não é problema. Tenho tarimba nisso – disse, já pensando num apelido para o tal moço. É que tenho um defeito terrível. Se boto na minha cabeça que uma pessoa tem um nome, só vou chamá-la assim. E não adianta me lembrar. Passei anos chamando uma amiga de Camila e o nome dela é Marcela. E a professora das meninas do ano passado? Durante o ano todo foi Adriana. E o nome dela é Meire. Ou é o contrário? 
- Meu nome é Lindoés – disse o moço de chinelo, segurando um balde amarelo cheio de água.
Lindoés... Precisei de algum tempo para me recuperar. Não há apelido para quem chama Lindoés!
- São R$ 20, não é isso?
Lindoés... Que coisa! Como posso chegar ao estacionamento e gritar Lindoés, Lindoés?  Não mesmo. Seu nome será “Seu Moço”! Muito melhor!

Liberdade do Egito



Foto: Rovênia Amorim
 
Fim de ano é uma correria. Mas aos poucos vamos vencendo os compromissos. Fim das aulas, tive que pensar num presente criativo para as professoras das gêmeas. Foi um ano especial, elas aprenderam tanto e as professoras parceiras e amigas. Cativaram até a mãe. Já tinha na cabeça a ideia do presente e um versinho ensaiado.

Queria presenteá-las com passarinhos de porcelana para “simbolizar” a liberdade maior que podemos conquistar, que é o aprender, o conhecer. Lá fui eu, na pressa, atrás do presente. Achei um passarinho lindo, numa lojinha que gosto de ir às vezes. No passarinho, havia uma etiqueta presa com versos anônimos:

“Comportamento romântico é o sonho e o devaneio;
Atitude emotiva e subjetiva!
Pensamento romântico vai muito além
do que podemos ver; expressa o sentimento...

Romantismo não conta, faz de conta.
Idealiza um mundo melhor”


Embora lindos, não combinavam com a ocasião. Escrevi os meus mesmos. 

Mas também não resisti e comprei um passarinho para me dar de presente.Na hora de pagar, a curiosidade falou mais alto e quis saber do vendedor com sotaque de que país ele era:

- Sou do Egito.
- Nossa! Seu país está no sufoco, não?
- Não mesmo! É liberdade, é a revolução! – disse- me com olhos de entusiasmo, carregados de orgulho.
- Mas você está falando bem o português. Árabe é muito difícil... É uma língua sem vírgula e vocês escrevem ao contrário...
- Ao contrário? Você escreve com qual mão?
- Com as duas. Sou ambidestra!
- Ah, então não tem graça. Não posso fazer a piada com você!
- Como não? Quero saber qual é a piada...
- Pois bem. A maioria não escreve com a mão direita?
- Sim, escreve.
- Então,quem escreve errado são os ocidentais que começam com a direita na esquerda...
- É... Você tem razão.

Ele então sorriu satisfeito. O nome do jovem é Ahmed. Fez a complementação de dois anos do curso universitário de direito na Universidade de Brasília para aprender a nossa legislação.Quer ficar no Brasil. Nasceu em Tanta, na província de Mansora. “Fica de frente para o Rio Nilo”, explica.

Presentes embrulhados, fui embora, levando nas mãos a “liberdade do Egito”


A difícil democracia


Penso na Argentina e nessa nossa rivalidade boba por conta do futebol. Os argentinos são um povo simpático, receptivo e que nos adora. Quem não foi a Buenos Aires e não quer voltar?
Somos um bloco de latino-americanos e devemos estar unidos. 

Nessa democracia que ainda ensaiamos, entristece a notícia do cerco da presidenta Cristina Kirchner à liberdade de imprensa. Os meios de comunicação são um poder perigoso, é verdade, mas têm seus próprios limites e leis para inibir exageros. 

Um país que poda a liberdade de expressão de seu povo não sabe o que é a plenitude da democracia. Democracia plena é aprender a ouvir e a ler o que não se quer, sabendo respeitar isso. Desde a Grécia Antiga, e as lições públicas de cidadania e filosofia em anfiteatros abertos ao povo, desconheço outro caminho para a nossa civilização evoluir.

Um tango e uma cena clássica para desejar a vocês um feliz fim de semana! 


Triste visão

Não resisti! A fotógrafa Letícia Verdi acabou de tirar essas fotos da nossa janela, que permitiu ampla vista para o cortejo de Niemeyer. Triste, não? É uma inteligência que vai embora. E a inteligência é algo apaixonante, que dá vontade de agarrar quando esbarramos nela. Apreciem as imagens e mais umas citações desse arquiteto que nunca envelheceu.




"A ideia de uma arquitetura ideal, obediente a princípios prestabelecidos, seria a disseminação da mediocridade, da monotonia e da repetição."

"O mais importante é a intuição. A intuição que vai descobrindo os segredos da vida (...)"

"Como me agrada ler um bom romance, um livro sobre a vida, sobre os mistérios do Cosmo, desse universo cheio de estrelas de onde dizem, viemos um dia!"

 (Oscar Niemeyer)

Um arquiteto do infinito



Foto: Google

Eu estava adivinhando, por isso, quis escrever sobre os poucos minutos que tive pessoalmente com Oscar Niemeyer. Um gênio, simplesmente. Da sua obra mais bela, a Catedral de Brasília. É divina, de uma sensibilidade pura, sem fé. Pura arte do concreto, em mãos postas de quem reza, abertas ao céu. É um monumento singelo, que respeita a geografia do Planalto Central.

Naquele livro que ele me presenteou, em 2001, tem uma passagem sobre a Catedral de Brasília:

“ A ideia de fazer uma arquitetura diferente me permite afirmar hoje aos que visitam a nova capital: ‘Vocês vão ver os palácios de Brasília, deles podem gostar ou não, mas nunca dizer terem visto antes coisa parecida.’ E isso se verifica na Catedral de Brasília, diferente de todas as catedrais do mundo, uma expressão da técnica do concreto armado e pré-fabricado. Suas colunas foram concretadas no chão, para depois criarem juntas o espetáculo arquitetural. Um trabalho delicado (...) . E vale a pena lembrar outros detalhes, com a arquitetura se enriquecendo, como o contraste de luz com a galeria de sombra e a nave colorida. E lá estão os belos vitrais de Marianne Peretti, os anjos de Ceschiatti, e a possibilidade inédita que muito agradou ao representante do papa, de os crentes olharem pelos vidros transparentes os espaços infinitos onde acreditam estar o Senhor. É o arquiteto a inventar sua arquitetura, que poucos, muito poucos, vão poder compreender.”

Explico: Niemeyer é ateu. Por que missa por sua alma?

Acho que uma frase de Niemeyer responde essa inquietação: 

“Mediocridade ativa é uma merda!”

Flor sem perfume




Queria tanto
ter nome de flor
para me vestir,
me inundar de perfume

Poderia ter nome
de margarida
Seria eu delicada,
dona da alegria infinita

Poderia ter nome
de rosa
Seria eu majestosa,
sensual,a invejada
dona dos mistérios


Fotos: Rovênia Amorim


Poderia ter nome
de hortênsia
Seria eu dona
de todo o romantismo
Um perfeito buquê

Poderia ter nome
de flor de laranjeira
tão singela e jovial
Dona da autêntica pureza

Poderia ter nome
de gardênia,
branca e primaveril
Dona de perfume de bolero

Poderia ser a callyandra do cerrado,
solitária na beleza,
um amor-perfeito, um lírio,
um jasmim, a vitória-régia,
uma lavanda do mediterrâneo  

Até mesmo ter o nome
daquela flor silvestre
que brota no solo gelado
das montanhas da Noruega

Mas me deram um nome
sem perfume algum
Sou a dona da luz e da vida
Sou a flor do Sol 
                       (Rovênia Amorim)

Tempo de criança



Ilustração do Google

Quando a gente é criança,
o tempo demora a passar.
Os dias são longos e
o ano inteiro, uma eternidade.
tempo de deitar na grama,
fazendo das mãos um travesseiro gostoso para escorar a cabeça e 
ficar um tempo sem pressa 
olhando para o céu azul,
admirando as nuvens brancas
que passam devagar, devagar...
Temos todo o tempo do mundo
para adivinhar qual 
forma elas têm!

(Rovênia Amorim)

Uma bailarina de presente


Imagem do Google
            Em abril de 2013, os brasilienses apaixonados por balé vão ganhar um presente. A bailarina Ana Botafogo vai dividir o palco com as alunas da academia Norma Lilia, que apresentaram neste fim de semana, no Teatro Nacional, o espetáculo O Mundo de Barbie.
O anúncio foi feito antes do segundo ato pela própria Norma Lilia e, quem estava na plateia  aplaudiu a notícia. Imagino a alegria da mãe que encontrei no domingo, primeira da fila, ansiosa para ver a filha adolescente dançar. Encontrou em mim a confiança para desabafar:
- Ela só tem 16 anos! Está se formando agora e vai se aperfeiçoar em Londres. A família toda, 12 pessoas, veio de Goiânia para vê-la dançar. Fazer o quê? Desde os seis anos que ela faz o coque sozinha... Ela ama dançar! Quer dançar pra sempre!
Só quem colocou sapatilhas nos pés tem a exata noção de como é difícil se tornar uma bailarina clássica. É força, equilíbrio, talento e um desafio constante. A perfeição não existe no balé. Sempre é possível melhorar.
Aquela leveza e o sorriso para o público aparentam uma facilidade que não é real. São necessários anos de repetição para moldar o corpo. É preciso forças nas musculaturas das pernas, dobrar os pés em arco, tornar costas e braços fortes para assegurar saltos e giros. Com o tempo até a tontura é domada.   
Ana Botafogo é um desses exemplos. Com pouca flexibilidade quando criança, ela precisou insistir. Com seu carisma e talento conseguiu sucesso, reconhecimento internacional e a simpatia do povo brasileiro. Até sambar nas sapatilhas, ela já ousou. É a união perfeita do talento com a sensibilidade. O resultado é a delicadeza da bailarina no palco.
Para Norma Lilia, que teve formação no Theatro Municipal do Rio e no Bolshoi de Moscou, não poderia ser melhor o presente para o cinquentenário da sua academia, a mais tradicional em Brasília.