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Malas prontas


Imagem: Google

 
Tenho asas, não vê?
Acabaram de nascer!
Ganhei-as agora de você:
- Um passarinho na mão
ou aquele voando?
Sem conhecer o óbvio,
plantei a dúvida,
e, afoita, quis logo saber
o que você já sabia:
- Na mão, a certeza.
No ar, quem sabe?
Duvidei, pensei, decidi:
Chegou a hora de voar!

 (Rovênia Amorim)



Ufa! A contagem regressiva chegou ao fim para anunciar que as malas já estão prontas. 

Levo dois livros e um olhar curioso para apreender mais um pouco dessa vida.Vou voar,navegar e me encantar por aí. Não quero escrever nesse tempo, apenas buscar histórias para depois. 

Vou sentir saudades de vocês, meus poucos e queridos amigos. Até 15 de fevereiro esta página continuará aqui, sempre imutável. Mas prometo que farei visitinhas surpresas.

Se sentirem saudades, ouçam a música que deixei de presente e que traduz um pouco o que penso sobre escrever. As palavras devem vir do coração, que abriga a nossa alma. 



Ilusões no tempo


... 2,1. Falta tão pouco!

Favim.com


Quais seriam os seus arrependimentos? Quero saber os seus porque sobre os meus, eu já pensei. Não lamento nada do que tenha feito. No caminho que percorri até agora cometi erros mas, se pudesse voltar os ponteiros do tempo, não mudaria meu trajeto de aprendizado. As consequências das minhas ações não machucaram a minha alma e nem me obrigam a carregar lamúrias.

Tenho sido amparada nesse caminhar. Um presente bom que recebi e busco retribuir com transparência. E tento não me contaminar ao esbarrar naqueles que não tiveram a mesma sorte e carregam um rancor na alma. O sofrimento provoca transformações diferentes nas pessoas. Umas recolhem essa dor e doam amor. Outros deixam a alma apodrecer, amaldiçoam a vida, aprisionam-se e tornam-se inimigos  íntimos.  
      
      Mas e sobre o que não fizemos, não vivemos? Qual seria o caminho se as escolhas tivessem sido as outras que abandonamos? Ilusões abandonadas porque não soubemos o que fazer com elas...  Se pudesse voltar os ponteiros do tempo, escolheria esses outros caminhos. Só para saber aonde me levariam. Só que não recebi esse presente. Então,vamos continuar a caminhada!


Tristeza é ilusão



3,2,1... A contagem regressiva teve início. Mas até lá, tudo continua como está. 

Imagem do Google
 
Segui ontem uns links indicados pela Tina no seu blog e descobri uma filosofia de vida desses brasileiros de pouco estudo. Procura-se tanto a felicidade, peleja-se para alcançá-la e retê-la, mas leiam só o que o senhorzinho do Sítio São Francisco, no interior do Nordeste, poetizou para o documentário Alumiar:

 “A vida da gente é do tamanho que a gente faz. A vida é um romance e a tristeza, uma ilusão. Se a pessoa não tiver arte nenhuma já nasce morta! O homem tem de ser vivo, tem de procurar a vida dele, e ser alegre e animado.”

Não é admirável? O senhorzinho nunca foi à universidade. Fala um português errado, mora num casebre, mas é rico de vida. Um poeta sem livro!

 E já que estou num dia de repassar bacanices que vi por aí, uma homenagem ao meu colega de trabalho Alexandre Marino, um poeta que decidiu se esconder atrás da pilastra, e que escreve no blog Poesia Nômade.


Terror que fica


Loose Eyes by Jeannie Phan

Pele cor do Brasil, cabelos fartos com cachos negros e sem brilho, bigode bem aparado, o seu Edson era um sujeito estranho. Dono de bom papo, fala gostosa, bem-humorado. Era um motorista que não deixava se contaminar pelo estresse no trânsito. Isso era bom, muito bom.
Mas era só a gente descer do carro para ele se transfigurar. Fechava rapidamente os vidros e não importava se o sol estivesse nos seus dias mais quentes. Ele ficava lá, trancafiado, o suor escorrendo pelo rosto. Quando a gente chegava, ele se aliviava, descia os vidros para o vapor sair e sorria. Sentia-se a salvo. 
Dizem que esse pavor de ficar só brotou na selva amazônica. Vestido de soldado, procurando refúgio na floresta úmida, ele precisava sobreviver aos bichos e aos militantes da esquerda.
Na sua casa simples que o dinheiro pôde comprar havia conserva de cobras em potes de vidro – répteis que ele aprendeu a saborear para sobreviver à Guerrilha do Araguaia.

Adoráveis gays



Imagem Google
A França é fascinante nas artes, na gastronomia, na música e na própria língua, mas também exibe exemplos que envergonham o mundo. Democracia que se instalou de forma bárbara - que guilhotinou a monarquia absolutista exagerada nos seus luxos diante de um povo miserável – não é nada admirável.
A massa seguiu às cegas seu idealismo justo pondo abaixo não só a fortaleza da Bastilha (uma construção do século XIV), mas também livros, obras de arte da arquitetura, incluindo boa parte da fachada de Notre Dame.
Diante do novo século, os franceses mostram que “igualdade, liberdade e fraternidade” nada mais é que uma bandeira utópica. Qual é o mal à humanidade de um casamento entre pessoas de mesmo sexo? Um país que sempre mostrou-se vanguardista no sexo apresenta-se agora retrógrado?
Preconceito descabido como qualquer outro. Gays são ótimos conselheiros de mulheres porque têm alma feminina.São sensíveis, detalhistas, emocionam-se facilmente e são divertidos. Procuram o amor como todos nós. E quando encontram, não podem mostrá-lo porque a sociedade acha errado? É preciso uma coragem cega para protestar na Champs-Élysées pela ilegalidade desse amor.  

Leitores sacrificados


Imagem do Google

Faz tempo que não esbarro num livro tão ruim. Só não o atiro no lixo porque devo mesmo aceitar que sou teimosa. Quero chegar até o ponto final para ter a certeza de que nunca mais quero ler nada escrito por essa escritora brasileira.

Pior é saber da sua fama popular e que tem seus leitores. Como conseguem? Viro as páginas e leio palavras sem alma. A cada nova página, ratifico o quanto essa leitura me sacrifica. 

Mas pelo menos tive a sorte de esbarrar esta semana num ensaio da jornalista e professora da Universidade de Brasília Regina Dalcastagnè sobre o livro Literatura brasileira contemporânea: um território contestado (Editora Horizonte e Editora da UERJ), em que ela aborda o elitismo na literatura brasileira – uma espécie de porta a sete chaves onde passam com mais facilidade jornalistas e acadêmicos.

Como se os marginalizados não tivessem o que contar, não soubessem escrever... Como se somente os bem-nascidos soubessem escrever, tivessem o que contar...É um preconceito pouco discutido.  Há ideias, histórias, poesias perdidas, por exemplo, em blogs e sites pela internet. Às vezes, esbarramos nesses talentos desconhecidos.

Mas o que gostei mesmo foi de uma frase do ensaio, que cabe perfeitamente para explicar esse livro que teimo em ler: “Publicar um livro não transforma ninguém em escritor, ou seja, alguém que está nas livrarias e nos jornais.”  


Na próxima semana começa a contagem regressiva. Até lá, deixo com vocês uma música que adoro! Bom fim de semana!





Pequena sábia


Imagem do Google
 
Crianças nos dão lições sábias. Um dia desses, levei um susto ao descobrir que aos oito anos já é possível começar a colecionar filosofias de vida:

"Prefiro não copiar ninguém. Se eu errar, pelo menos vou errar o meu erro e não o erro da outra pessoa."
                                                                                  (Clara,em 07/01/2013)

Efeito borboleta

Crédito: qanafir

     Os dois são daqueles amigos que se reúnem sempre para trocar uma ideia e saborear uma nova cerveja ou vinho, mas um não desconfia do segredo do outro. É que a amizade ficará sem asas. 
O amigo que não sabe da existência do segredo é biólogo, com pós-doutorado, um apaixonado por borboletas. Esses seres encantadores, que nascem rastejando e ganham os ares com suas cores. Inspiram poesia, canções, amores. É quase impossível não se encantar por esses insetos frágeis, nascidos pela mágica da metamorfose.
Mas há o segredo do amigo, um construtor apaixonado por pontes e concreto, proprietário de um hobby admirável. É apaixonado por flores. O jardim da sua casa é invejável. Há frescor, vida e colorido em orquídeas que ele cultiva em xaxins pendurados em palmeiras imperiais.
     Porém, quando ninguém vê, ele assassina as borboletas que pousam em suas flores. “Elas comem as plantas da horta e as flores do jardim”, revela o menino de seis anos o segredo até então guardado pelo pai.  Conta-o assim, ingenuamente, sem espanto na voz e no olhar! Crescerá sem admirá-las porque teve essa  sensibilidade assassinada. 

Ilha da fantasia?


Imagem do Google
             Brasília é uma delícia em janeiro. As pistas largas estão vazias, com poucos carros, e a cidade aproxima-se do Plano Piloto traçado por Lucio Costa. É que cinco décadas depois, a capital ficou inchada no tráfego, precisou de semáforos e de paciência no trânsito.      
             Crianças de férias, sem obrigação de não chegar atrasada à escola, vagas a escolher... Confesso, estou no paraíso. Mas um dia desses, recebi a visita de uns primos tortos de São Paulo. Impressionaram-se com a beleza e a calmaria de Brasília. Mas precisaram ir a Taguatinga. Voltaram de lá ainda mais impressionados.
            - Brasília é uma ilha da fantasia. Taguatinga é o Brasil!
            Isso me fez lembrar da Rodoviária do Plano Piloto. Está cravada no meio do Eixo Monumental, que separa a capital em Asa Sul e Asa Norte. 
            É nesse terminal, que já tentaram modernizar (embelezar), onde desembarca o povo que vem de todas as cidades do Distrito Federal. São trabalhadores, que devem rezar baixinho para chegarem sem atraso até o patrão. É que a frota coletiva é péssima. Os ônibus sempre quebram, colaborando para piorar o trânsito.
            Sim, mas o que eu queria dizer mesmo era sobre essa genial ideia de Lucio Costa, de construir uma rodoviária no Eixo Monumental, a poucos metros da Praça dos Três Poderes, onde ficam o Palácio da presidenta e o conhecido cartão-postal do Congresso Nacional. É o confronto entre o poder de quem faz a política e o poder de quem escolhe os políticos: o nobre povo.
            Não é preciso ir a Taguatinga para enxergar o Brasil. O Brasil desembarca em Brasília todos os dias. É um cenário lindo e desafiador.  As mazelas, o suor, a força e o entusiasmo do povo brasileiro abertos à contemplação. Só é preciso enxergar!

Poesia na natureza

Ilustração de Kate Powell
 
- O que você enxerga ao olhar para essa árvore torta do cerrado?

- Eu vejo a biologia, a evolução da natureza. Sei que é uma angiosperma, que há nutrientes seguindo pelo sistema vascular, que as flores vão gerar frutos, que guardam as sementes de uma nova vida. E você, o que vê?

- Eu vejo poesia.


Um fim de semana com flores e versos! O primeiro de 2013!




Coração no papel


Imagem do Google

     Que pedido mais lindo do menino que fez o Enem 2012 como “trainee” e descobriu na nota 480 que redação é o seu ponto fraco! 

- Você é jornalista, me ensina a escrever?

Como ensinar alguém a escrever? Ainda tento aprender. Acho que escrever é um tripé: leitura que deve ter começado lá atrás; sensibilidade de ver o que ninguém enxerga e sonhar para criar e a serenidade de passar os sentimentos e as informações para o papel. 

É preciso escrever com o coração, com a alma. Quando você faz isso, a mente ajuda, baixa coisas que você nem sabia que guardava. Isso explica o final que surpreende quem escreve. É como se o texto ganhasse no caminho da escrita vida própria.
      
     A redação que derruba jovens estudantes no Enem deixará de amendrontar quando eles aprenderem que não há técnica, método, para escrever. Acho tudo isso uma grande bobagem (e há quem escreva livro e ganhe dinheiro com essas receitas milagrosas)!

     Se você, como eu, quer aprender a escrever, seja humilde. Saiba que ainda não está pronto, mas nem por isso esqueça as palavras. Elas precisam estar no papel. O seu corpo pede esse exercício. Se você não enfileirar as palavras em linhas, elas vão ficar circulando pelo seu sangue, vão te dar dor de cabeça. É que a nossa alma teima, quer ser conhecida e livre.

     Para começar,tenha pelo menos uma ideia a cada dia. E vá explicá-la, defendê-la.  Seu coração vai desacelerar, a mente esvazia e você poderá, então, ler as ideias de outros escritores. 
     
    Semana passada, li um texto sobre esse tema.  São conselhos de Charles Bukowski para o jovem escritor. Respire, o texto é longo, mas vale a pena!

Então você quer ser escritor

“Se não explode de dentro de você
apesar de tudo,
não faça isso.
a não ser que saia sem que se peça
de seu coração e sua mente e sua boca
e suas entranhas,
não faça isso.
se você tem que sentar-se por horas
encarando a tela do seu computador
ou debruçado sobre sua máquina de escrever
procurando as palavras,
não faça isso.
se você está fazendo isso por dinheiro
ou por fama,
não faça isso.
se você está fazendo isso porque quer
mulheres na sua cama,
não faça isso.
se você tiver que sentar e
reescrever de novo e de novo,
não faça isso.
só de pensar em fazê-lo já um trabalho duro,
não faça isso.
se você está tentando escrever como alguém,
esqueça.
se você tem que esperar que venha o urro de dentro de você,
então espere com paciência.
se nunca vier o urro de dentro de você,
vá fazer alguma outra coisa.
se você tem que ler primeiro para sua esposa
ou sua namorada ou seu namorado
ou seus pais ou para qualquer um,
você não está pronto.

não seja como tantos escritores,
não seja como tantos milhares de
pessoas que chamam a si mesmas de escritores,
não seja chato ou entediante e
pretensioso, não se consuma como amor-
próprio.
as bibliotecas do mundo têm
bocejado a si mesmas até o sono
com o seu tipo.
não aumente isso.
não faça isso.
a não ser que saia de sua
alma como um foguete,
a não ser que ficar  quieto
o levasse à loucura
ou ao suicídio ou ao assassinato,
não faça isso.
a não ser que o sol dentro de você esteja
queimando suas entranhas,
não faça isso.

quando for a hora de verdade
e se você tiver sido escolhido,
ele fará por
si mesmo e manterá você fazendo-o
até que você morra ou que morra dentro de você.

não há outro modo.

e nunca houve.

* Respeitei a pontuação do escritor.

A morte do idealismo



Imagem do Google
Em 12 de dezembro escrevi sobre a inocência de Lula diante do mensalão. Fui extremamente dura na crítica, propus um debate e revelei a minha posição:

“Ele não sabia nada sobre as propinas do mensalão? Se queremos mudar o país, que ele seja investigado. Ou o ex-presidente, que um dia me fez votar no idealismo, vai passar incólume para a história como os generais? Ditadura e democracia não podem se igualar em absolutamente nada.”

Engraçado como ninguém ergueu a voz. Quem leu, resignou-se. Talvez por essa educação regrada que nos faz calar para não contrariar.

Bom, como ontem a TV Globo exibiu Lula, o filho do Brasil, tenho um gancho para voltar ao assunto e à provocação. Desconsiderando o romantismo perfeito que emoldurou o filme, Lula é dono de uma história fantástica. Um sobrevivente, um homem. Isso ninguém lhe tira.

Mas a história passada não o absolve de fatos recentes. Lula aprendeu com a vida a importância de não ser alienado. “Não somos burros. Nós temos informação”, alimentava mentes em seus discursos aos trabalhadores do ABC. Lula fez brotar o idealismo em gerações futuras, pós-ditadura.

Lembro de um professor de geografia que tive no ensino médio que passou quase todo o ano letivo sem abrir o livro didático. “O que está escrito aí, vocês leem em casa para fazer a prova. A aula que quero dar a vocês é sobre política. Isso é que fará a diferença”, dizia à turma de adolescentes.

Lula fez nascer no meu peito o idealismo e meu coração passou a bater mais acelerado. Mas ele também fez morrer no meu peito esse mesmo idealismo. Meu coração bate hoje devagar, sem esperança. Tudo que queria era ouvir aquele homem, na sua dignidade, revelar que errou, que foi omisso (ou  ingenuamente burro).  A nação é informada, quer a verdade e um pedido desculpas.

Pensamento não dito


"A resignação é um suicídio cotidiano." 
(Balzac)

Ilustração de Luiza Albertini
 
A luz da lua espantava a noite, havia um sapo por ali. Alguém viu. Os casais brindavam o novo ano, libertando a mente. Até que a moça de olhos verdes, sentada, fala sem pressa, a mais consciente por goles a menos, disse o impensável:

- Pois eu me considero uma pessoa normal.

Os demais libertos riram, num coral de desacordo.

O que é exatamente ser uma pessoa normal? Quem é normal perto de você? Aqueles que se portam conforme as regras? Ou são esses os mais anormais? Normais seriam os que deixam explodir seus pensamentos, suas críticas, suas verdades e danem-se as regras, as convenções?

O que se passou naquele instante na mente daquela mulher de olhos verdes? Teria concluído a anormalidade dos demais?  Não riu, não disse mais nada. Guardou para si o pensamento. Resignou-se.