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Coração no papel


Imagem do Google

     Que pedido mais lindo do menino que fez o Enem 2012 como “trainee” e descobriu na nota 480 que redação é o seu ponto fraco! 

- Você é jornalista, me ensina a escrever?

Como ensinar alguém a escrever? Ainda tento aprender. Acho que escrever é um tripé: leitura que deve ter começado lá atrás; sensibilidade de ver o que ninguém enxerga e sonhar para criar e a serenidade de passar os sentimentos e as informações para o papel. 

É preciso escrever com o coração, com a alma. Quando você faz isso, a mente ajuda, baixa coisas que você nem sabia que guardava. Isso explica o final que surpreende quem escreve. É como se o texto ganhasse no caminho da escrita vida própria.
      
     A redação que derruba jovens estudantes no Enem deixará de amendrontar quando eles aprenderem que não há técnica, método, para escrever. Acho tudo isso uma grande bobagem (e há quem escreva livro e ganhe dinheiro com essas receitas milagrosas)!

     Se você, como eu, quer aprender a escrever, seja humilde. Saiba que ainda não está pronto, mas nem por isso esqueça as palavras. Elas precisam estar no papel. O seu corpo pede esse exercício. Se você não enfileirar as palavras em linhas, elas vão ficar circulando pelo seu sangue, vão te dar dor de cabeça. É que a nossa alma teima, quer ser conhecida e livre.

     Para começar,tenha pelo menos uma ideia a cada dia. E vá explicá-la, defendê-la.  Seu coração vai desacelerar, a mente esvazia e você poderá, então, ler as ideias de outros escritores. 
     
    Semana passada, li um texto sobre esse tema.  São conselhos de Charles Bukowski para o jovem escritor. Respire, o texto é longo, mas vale a pena!

Então você quer ser escritor

“Se não explode de dentro de você
apesar de tudo,
não faça isso.
a não ser que saia sem que se peça
de seu coração e sua mente e sua boca
e suas entranhas,
não faça isso.
se você tem que sentar-se por horas
encarando a tela do seu computador
ou debruçado sobre sua máquina de escrever
procurando as palavras,
não faça isso.
se você está fazendo isso por dinheiro
ou por fama,
não faça isso.
se você está fazendo isso porque quer
mulheres na sua cama,
não faça isso.
se você tiver que sentar e
reescrever de novo e de novo,
não faça isso.
só de pensar em fazê-lo já um trabalho duro,
não faça isso.
se você está tentando escrever como alguém,
esqueça.
se você tem que esperar que venha o urro de dentro de você,
então espere com paciência.
se nunca vier o urro de dentro de você,
vá fazer alguma outra coisa.
se você tem que ler primeiro para sua esposa
ou sua namorada ou seu namorado
ou seus pais ou para qualquer um,
você não está pronto.

não seja como tantos escritores,
não seja como tantos milhares de
pessoas que chamam a si mesmas de escritores,
não seja chato ou entediante e
pretensioso, não se consuma como amor-
próprio.
as bibliotecas do mundo têm
bocejado a si mesmas até o sono
com o seu tipo.
não aumente isso.
não faça isso.
a não ser que saia de sua
alma como um foguete,
a não ser que ficar  quieto
o levasse à loucura
ou ao suicídio ou ao assassinato,
não faça isso.
a não ser que o sol dentro de você esteja
queimando suas entranhas,
não faça isso.

quando for a hora de verdade
e se você tiver sido escolhido,
ele fará por
si mesmo e manterá você fazendo-o
até que você morra ou que morra dentro de você.

não há outro modo.

e nunca houve.

* Respeitei a pontuação do escritor.

4 comentários:

  1. A alma... o segredo, o nascedouro.
    Coração no papel é uma perfeita tradução para a palavra dom.
    Beijo

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  2. Mais do que concordo, amiga.
    A prática traz bons resultados... Ano passado eu fazia aulas de redação e buscava em sites alguns exemplos de temas. Então além dos textos que eu fazia em sala, também praticava em casa. Uma das corretoras era uma professora de São Paulo. Super exigente! Minhas primeiras redações não passaram de 4. Então, no final do ano, recebi uma redação com nota 10 dessa professora. Foi maravilhoso! E percebi que minha persistência havia ajudado. E percebi, além disso, que um blog pode ajudar bastante.

    Abraços!

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  3. Rovênia,

    que aula majestosa ofertaste nesse texto. Não em cima do palco, mas dando a mão à plateia. Tua perspicácia, coerência e bom senso fazem de tua escrita algo sublime, admiro muito, sinceramente.

    Até colocou cereja no bolo, citanto o espontâneo, às vezes depravado, Bukowski, que nesse caso falou irrefutavelmente: "se não explode dentro de você...". Tens muitas constelações dentro de ti, pude ver que esse texto é uma estrela nascida de uma explosão interior, uma das mais linda que li por aqui.

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  4. Rovênia, eu particularmente curti muito essa postagem. Para mim funcionou como um "manual para saber se sou escritor". Foi genial essa orientação que você compartilhou com a gente. E olha que o Charles Bukowski é um escritor "barra pesada" mesmo.
    Valeu muito essa postagem.
    Grande abraço
    Manoel

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