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Terror que fica


Loose Eyes by Jeannie Phan

Pele cor do Brasil, cabelos fartos com cachos negros e sem brilho, bigode bem aparado, o seu Edson era um sujeito estranho. Dono de bom papo, fala gostosa, bem-humorado. Era um motorista que não deixava se contaminar pelo estresse no trânsito. Isso era bom, muito bom.
Mas era só a gente descer do carro para ele se transfigurar. Fechava rapidamente os vidros e não importava se o sol estivesse nos seus dias mais quentes. Ele ficava lá, trancafiado, o suor escorrendo pelo rosto. Quando a gente chegava, ele se aliviava, descia os vidros para o vapor sair e sorria. Sentia-se a salvo. 
Dizem que esse pavor de ficar só brotou na selva amazônica. Vestido de soldado, procurando refúgio na floresta úmida, ele precisava sobreviver aos bichos e aos militantes da esquerda.
Na sua casa simples que o dinheiro pôde comprar havia conserva de cobras em potes de vidro – répteis que ele aprendeu a saborear para sobreviver à Guerrilha do Araguaia.

5 comentários:

  1. Medos, que muitas vezes não conseguimos nem imaginar que existam...
    Beijo

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  2. Vitorioso, Seu Edson. Sempre que sobrevoo a floresta amazônica, mesmo cá embaixo já em Mato Grosso, fico imaginando quantos mundos existem naqueles braços de rios e naquelas extensas áres de mata fechada.

    Ótima terça para você, Rovênia.

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  3. Um Herói e daqueles de emocionar té os pelos dos braços!

    Um abraço bem apertado pra ti Rovênia!

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  4. Tipo de pavor que a gente espera nunca sentir, mas que às vezes nos aparecem nas mais simples e inusitadas situações... teimo em pensar que a nossa maior prova de sobrevivência é o sobreviver a si mesmo!

    Adorei aqui, vou ler os outros textos. Abraços

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  5. Queria saber mais coisas..o que o medo faz com a gente e a maneira de nos comportarmos. Abraços. Sandra

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