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Cadê nós?


Floating lores/Rebecca Rebouché
Sabe por que mantenho esse blog? Porque adoro escrever. Mais do que isso: adoro escrever o que quero escrever. Esse era o meu maior castigo ao receber uma pauta que não me interessava. O que eu fazia? Inventei a arte-reportagem para driblar a chatice. Procurava fugir do lead acadêmico, da orientação de objetividade total. Como se isso fosse alguma vez possível. A objetividade não existe. Somos parciais, enxergamos o mundo subjetivamente.

Mas, se escritores faziam literatura no jornalismo por que não poderia dar o meu jeitinho mineiro? Quantas vezes saí para a rua orientada para uma matéria e voltei de lá com outra totalmente diferente? Deu certo e sobrevivi por uma década e meia assim: treinando o olhar desfocado do principal. Há tanto nas margens!

Ainda continuo refém das pautas. Vez ou outra preciso escrever sobre um assunto que não me interessa nem um pouco. Como o jornalismo agora é na tela do computador, e ninguém tem paciência para textos compridos, só preciso de poucas linhas para resolver a obrigação. Passa tão rápido como a dor de arrancar um dente de leite mole-mole. Não me digam que não lembram mais!

Enfim, esse nariz de cera todo aí de cima é para dizer que tantos dias chego aqui (no trabalho) questionando por que temos de trabalhar. Se não fosse escrava do trabalho, teria o ócio ao meu dispor. Tanto para ler, tanta vida lá fora... e eu aqui, emburrecendo-me! Não me diga que o trabalho dignifica o homem. Dignificaria se todos os dias a gente pudesse produzir o que quisesse. Aí, sim, seria a maravilha das maravilhas.

Mas nada que eu penso é original. Já foi pensado por Jean-Jacques Rousseau. Ele refletiu sobre esse absurdo que é a contradição humana. O homem, na sua juventude, abre mão do lazer e do ócio para desfrutar disso tudo na velhice. Ou seja, a vida toda é obrigado a tornar-se um outro homem sem poder ser ele mesmo. É um escravo que pensa ser senhor. "... tornam-se prestigiados, porém sem virtudes; racionais, mas sem sabedoria. Donos de tudo aquilo que lhes dá prazer, mas que os impede de serem felizes."

Enfim, precisamos recuperar nossa essência. Precisamos de pouco, muito pouco, para ser feliz. Afinal, para onde foram mesmo os hippies?

20 comentários:

  1. pra você esquecer do mundo



    http://www.youtube.com/watch?v=GhYePBuYXWE



    beij0 minha amiga querida.

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  2. oi Ro

    Somos escravos do dinheiro, dos status sociais e tantas outras coisas.
    Muita gente pensa: se eu tive um carro do ano serei feliz, o carro chega e a pessoa acha que precisa de uma casa nova.
    A casa chega, e logo vem outra coisa, ou seja os olhos dos homens nunca se satisfazem com o que eles tem.
    Cruel isso, pq pra ser feliz nada disto importa.

    bjokas =)

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  3. Concordo no tocante a sermos escravos do trabalho. Discordo quanto à objetividade. Em termos de jornalismo, mais ainda, já que os subjetivos só conseguem mesmo me irritar, salvo exceções. Mesmo o leigo , o homem comum, deve ser objetivo, pelo menos algumas vezes. A subjetividade faz-nos dizer o que não deve.

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  4. Ninguém está satisfeito com o que tem,precisam de mais
    para mostrarem o status.
    E aí está a pobreza de espirito que cada um carrega,por achar que necessita de valores
    para poder aparecer.
    bjs Rovênia.
    Carmen Lúcia-mamymilu

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  5. Acredito que a beleza chega até a liberdade na forma de escrever, de ver, uma flor, e reproduzir com o seu coração as ímpares sensações divinas! abração

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  6. Adorei td!

    Pois é quemos muito, depois pouco. Queremos estar numa grande corporação, empresa, entidade e ai nos cai a ficha do bom da autonomia, artesanice, caseirice.

    Eu sempre digo que se nada der certo eu viro Hippie.

    E bem baixiiiiiinho (não lembro da sensação dos tais dentes sendo arrancados), serve rancação de band aid?

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  7. Eu estava aqui olhando pela janela do prédio onde trabalho e pensando, pensando, quando resolvi ler o seu texto de hoje. Você pode imaginar sobre o que eu pensava neste dia ensolarado...

    "Lá fora faz um tempo confortável
    A vigilância cuida do normal
    Os automóveis ouvem a notícia
    Os homens a publicam no jornal...
    E correm através da madrugada
    A única velhice que chegou
    Demoram-se na beira da estrada
    E passam a contar o que sobrou...

    Êeeeeh! Oh! Oh!
    Vida de gado
    Povo marcado, Êh!
    Povo feliz!..."

    Se dependesse só da minha memória, teria ficado nas duas primeiras frases (ainda bem que existe o Google)! rs

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  8. Amei....esta é a mais pura verdade...a sociedade impõe a escravidão disfarçada de status e nós um pouco sem perspicácia para ver além acabamos reféns desse lamentável sistema. Pelo menos ainda nos resta bons textos reflexivos como este!

    Beijos!

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  9. Eu lembro da sensação dos denters e essa semana asisti 2 deles aqui caírem... E que bom se podemos recuperar coisas boas que nos deem prazer e não só trabalhos ,chatices e coisas mais! Imagino o trabalho de jornalista com pauta marcada, não é mole não! beijos,chica num dia de emoção( Assisto, via internet, a formatura do pós do Filhão na Inglaterra.Estou à milhão de emoção. Se passa uma mosca na frente desabo e choro,rs) Por isso estou aqui sentada, lendo, escrevendo e o resto aqui me esperando, se acumulando!!
    bjs,chica

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  10. gostei muito textos fantasticos. aprendi.

    beijo boa tarde.

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  11. Escutei q nem em Jericoacoara tem Hippies logo lá que povoava meu imaginario entre estrada de terra e afins... :(

    Vc é reporter? achei q vc era professora de literatura. ;)

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  12. Dente mole era minha tormenta, tinha repulsa a todas as técnicas, desde as de vó até as de consultório rsrs.

    Somos escravos, sim, porque ao optarmos por um caminho que nos chama mais interesse, estamos escolhendo viver sob um modo regido pelo mundo e aí a gente esbarra em coisas que não nos agrada. Mas precisamos viver, fazer dinheiro pra por em casa, porque o mundo não para enquanto a gente é feliz. No final da vida, ao olhar pra trás, onde vai enxergar a sua liberdade? Na meia hora de almoço em que engoliu um cachorro-quente na esquina? Precisamos de pouco pra viver, mas gostamos de complicar tudo. TUDO.

    Excelente teu texto!

    Abraço

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  13. Olá Rovênia. Que saudade que estava de ti. Confesso que te ler é um dos maiores prazeres que tenho e este texto de hoje tocou-me profundamente. este é um tema que tenho pensado muito. É bom saber que existem outros que pensam como nós!

    Um abraço imenso cheio de saudade!!!!!

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  14. O trabalho é edificante quando amamos o que fazemos.
    Se esse não for o caso mude de ramo,a sua felicidade tem que vim em primeiro lugar.
    Beijos.

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  15. Ótimo texto, Rovênia! Essa reflexão do Rousseau vem bem a calhar, nos nossos dias! É o que fazemos... é o que eu faço agora, neste momento: preparando a minha velhice! Quando poderei ler todos os livros e assistir a todos os filmes e ir a todos os lugares sem compromisso, somente por prazer???? :)
    Eis a questão!

    Beijão, querida!

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  16. Esta sensação de estar vivendo na contramão, ´para se obter sucesso,dinheiro na tentativa de manter as aparências de que se é feliz acaba por escravizar, e assim tolidos, os nossos sonhos e verdadeiros ideais, vão ficando para um amanhã cada vez mais distante.
    É necessário manter o equilíbrio sim, enquanto pensamos em sobreviver, mas o viver intensamente, deve ser o peso maior nessa balança.
    Você demonstra grande intimidade com a escrita. Acredito que estejas no caminho certo.
    Adoro te ler.
    bjs.

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  17. Gosto quando nos propomos ir contra todos os paradigmas
    _ inovar ou simplesmente deixar fluir ...
    E sempre dá muito certo_bem vês pelos teus textos deliciosos .
    deixo aqui um abraço

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  18. Bom dia Rovênia.. somos fortemente manipuláveis.. colocamos sempre o dinheiro na frente de nós mesmos.. dinheiro é uma energia e tem que correr livre como nós, quem se mantém preso a ele, verá a roda girar e vai perder concerteza.. dai dói cair do pedestal imaginário que a gente mesmo constrói.. abração e um lindo dia

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  19. Quando me ausento dos amigos virtuais, contra a vontade, é claro. Com a faca no pescoço, pela correria dos caminhos da vida. Não deixo de pensar que peripécias literárias estarão me aguardando quando eu voltar.

    Dito e feito! Sempre bom vir aqui ler sua espontaneidade.

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  20. Rovênia, no decorrer da vida, vamos colhendo frustrações e felicidades para chegar na velhice e percebermos que gostaríamos de ser a criança que fomos. Bjos.

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