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Sol nascente

Eshiley é uma menina de três anos que nunca vi. Mora numa invasão chamada Sol Nascente, um dos lugares mais pobres no Distrito Federal. Na cartinha que tenho em mãos, escrita pela mãe ao Papai Noel, o desejo da menina é uma boneca para ninar os sonhos. Brasília resume todos os antagonismos humanos. Nasceu do idealismo humanista de Lucio Costa, mas cresceu corrompida. Tornou-se parcela da civilização que somos e não somos, ou seja, a nulidade humana.

Dados atualíssimos de 2013, da Codeplan, apontam Brasília (fazendo alusão aí a todo o DF) como a quarta cidade mais desigual em renda do MUNDO. Enquanto a renda per capita no Lago Sul é de R$ 5.420,62, na Estrutural (ex-favela construída sobre e ao lado de um lixão) é de R$ 299,55. É preciso debulhar esses números. A pobreza é esmiuçada pelo cheiro, pela tristeza do olhar. Mas a riqueza muitas vezes é um vislumbre, um objetivo que pode ser tão mais decepcionante... Há no Lago Sul quem alugue limusine para as "chiquititas" ricas darem voltas pelas áreas nobres festejando o aniversário. As férias são em Aspen, nos Estados Unidos.

São crianças empobrecidas, sem noção das dicotomias que estão a pouca distância das suas mansões. E acreditem, apesar do calor semiárido de Brasília, há casas com lareira. "Acostumei-me quando morava na Europa", juro que já ouvi essa explicação. Há dondocas que saem para fazer caminhada pelo Lago Sul, enquanto o motorista segue-a de carro. "É que na volta o sol bate no meu rosto", explicou-me uma das mulheres mais ricas de Brasília. Outra viajava direto para Paris, mas nunca se deu ao trabalho de visitar a "chatice" do Louvre.

É preciso paciência. Muita. Perto do Natal, o consumismo parece nos saudar com saudades. O espírito natalino some. O nascimento do Menino Jesus e a simbologia que isso traz, não importa a religião, escondem-se no detalhe. Vivemos enjaulados nas nossas necessidades. Mas o homem racional e moderno desculpa-se ao não enxergar a si próprio. É o inventor das desigualdades irracionais, "algoz e vítima do seu tempo":

"Neste último estágio de desenvolvimento cultural, seus integrantes poderão de fato, ser chamados de ‘especialistas sem espírito, sensualistas sem coração, nulidades que imaginam ter atingido um nível de civilização nunca antes alcançado’” (Max Weber).

Acredito que podemos mais. Somos capazes de nos reinventar. Fecho os olhos para ver outro mundo!





16 comentários:

  1. Sigamos de olhos fechados e corações abertos :)

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  2. Oi Rovênia,essas cartinhas nos deixam com os corações apertados.
    Enquanto pudermos,devemos concretizar esses sonhos dessas crianças
    tão inocentes e sofredoras.
    bjs amiga e obrigada da visita.
    Carmen Lúcia-mamymilu

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  3. oi Ro

    A desigualdade social segue pelos quatro cantos do mundo. Quem tem poderia ajudar mais aqueles menos favorecidos, mas nem sempre o fazem.
    Vivemos num mundo fútil, onde o que importa é grana e status.
    Vamos morrer e vamos levar o que daqui?
    Absolutamente nada.

    bjokas =)

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  4. Rô, seu texto diz tudo! É uma desigualdade sem tamanho...
    E como tenho visto cartinhas de crianças pedindo material escolar, dá pra acreditar???
    E o direito à educação, onde fica ?
    Nessa época do ano fico arrepiada de ver a ostentação nas festas aqui em Jurerê Internacional, lugar onde os vips adoram aparecer... um horror!
    Adorei o vídeo, essa música é linda. Ela é toque no celular do meu marido. :))

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  5. Fiquei pensando na sua postagem de hoje cedo até agora e resolvi te contar da cara de espanto das pessoas e descontentamento dos em torno de meu filho por ele não querer o novo Xbox ou Playstation, ele tem o último Xbox, novinho, muitos jogos que pouco joga pois joga mais no PC, tudo sempre grátis e para ele é suficiente, com palavras dele mesmo. Tachado de sem ambição, nada antenado, fora de moda o "coitado".
    Pode?

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  6. Nossa é muita diferença esta diferença toda fez meu irmão sair de bsb...

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  7. Tocante isso! Espero ver ainda um dia as coisas mudarem e o consumismo não ser sinônimo de NATAL! um beijo,chica

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  8. Boa noite Rovênia.
    Acho que tudo tem um porque,porque a desigualdade social só Deus sabe a resposta.
    Acho que não vem ao caso ser rico ou pobre mais que cada um dentro das suas possibilidades fazem alguma coisa.
    Mais com certeza ninguém pode esquecer que natal é a data do nascimento de Jesus,isso deve ser prioridade.
    Uma ótima quinta-feira.
    Beijos.

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  9. [isso dói]


    vou ouvir a música q adoro muito.

    beij0

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  10. Brasil apresenta graves problemas, dentre eles a desigualdade social,e econômica, o que muitas vezes uns tem muitos e outros bem poucos....
    Maravilhoso texto.
    Beijos

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  11. OI ROVÊNIA!
    DESIGUALDADE QUE SE VÊ, PELO BRASIL AFORA E NÓS BRASILEIROS, SOMOS ESTAS NULIDADES QUE TEU TEXTO FALA, SOMOS OS RESPONSÁVEIS POIS, COLOCAMOS ANIMAIS, NOS GOVERNOS QUE SÓ ENXERGAM SEUS PRÓPRIOS UMBIGOS.
    REVOLTA SENTIMOS SIM, MAS O QUE DE VERDADE FAZEMOS PARA QUE MUDEM AS COISAS?
    NADA!
    QUANDO BATEREMOS NO PEITO COM ORGULHO DE SERMOS FILHO DESTA PÁTRIA?
    NÃO SEI...
    ABRÇS
    http://zilanicelia.blogspot.com.br/

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  12. Conheço bem esta triste realidade aqui em Brasília. A desigualdade começa pelos gramados,
    mas também já reparei a "solidão" do Lago Sul...

    "Amo esta música. que bateu tão bem com o poema."E todo o seu dinheiro não comprará outro minuto. Poeira no vento.
    Tudo o que somos é poeira no vento."

    Muito bom Rovênia.
    bjs.

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  13. Bom dia,
    seu texto é uma realidade que cada vez mais invade o mundo, a desigualdade aumenta com a permissão dos (des)governantes,
    Os políticos eleitos para um governo tem a responsabilidade de dar a dignidade ao povo, é o que menos acontece, não se preocupam com o estado social, com a justiça, habitação, saúde e educação, para espanto dos mais conscientes, os (des)governantes volta a ser reeleitos para os mesmos cargos.
    Abraço
    ag

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  14. Muito se fala em arrumar a casa nessa nossa capital, mas sequer arruma-se o quintal.

    Importante reflexão, Rovênia. Com seu toque único.

    Meu abraço!

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  15. E a gente fica se perguntando qual a criança mais pobre. Aquela que tudo tem e nem sempre valoriza ou a que espera que um anjo traga a boneca que tanto deseja. Mas rica mesmo é a Rovênia que sempre escreve tão bem e encontrou nas palavras um jeito de colocar o seu lobo para fora. Muito bom visitar você novamente.

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  16. É triste,muito triste,são poucas pessoas pensando no próximo e muitas pensando no seu próprio umbigo.Eu sinto esperança que um dia essa realidade mude,principalmente quando vejo pessoas com a sua atitude Rovênia.

    Um Grande Abraço!

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