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Tempo ignorado

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Um passarinho chocou-se contra o carro. Não tive o que fazer, rapidamente foi-se a liberdade. Incomodei-me, o que me levou a refletir sobre essa pressa que nos absorve. Quantos não atropelam pássaros e nem se incomodam? Justificam a culpabilidade da morte pelo descuido do pássaro.

Segundos antes do acidente, eu o observei. Estava sobre uma árvore e ganhou os ares da pista seguido por um outro. Estaria distraído pelo amor? Como ficou o outro pássaro diante do acidente? Jovens, afoitos, não tiveram tempo de descobrir os perigos reais da liberdade.


Pensando no pássaro morto na alegria do voo, ligo o computador. Vivemos num mundo tão esquisito. Apressado demais. Atrás de mim, uma mãe triste com a filha que procura a fama fútil, mas feliz com o filho da empregada que empolga-se com a leitura de livros. A empregada não entende o valor do incentivo da patroa. Contou-lhe que sente vergonha porque o menino só anda com livro debaixo do braço e diz que ele "está metido demais". Tornou-se um alienígena nesse mundo real.

Penso que daqui a pouco, crianças com livro na mão serão comparadas a ancestrais da humanidade - sábios na época, mas atrasados nesta atualidade. Certo é que as crianças de hoje têm "aparelhos" que as transportam para fora do mundo real. Talvez lá estejam encontrando o tempo que abandonamos nesta sociedade da tecnologia. Lá, no mundo virtual, encontram "as ruas" para brincar. É ainda possível sonhar.

O pássaro que morre em liberdade é como a criança que desperdiça a infância por nossa incompetência. Nesta sociedade apressada que criamos, é preciso dar "pause" no tempo e sentar-se no chão, abraçar os filhos, e mergulhar com eles no mundo virtual que os fascinam. Há leituras boas lá, mas os pequenos precisam da nossa orientação para se sustentarem em pleno ar. Isso não mudou: só tem sido tempo ignorado.

* Boa semana!


8 comentários:

  1. Rovênia, tua sensibilidade é tocante e como tu, fico estragada quando um pássaro se choca no nosso carro é é machucado! Eles também parecem ter pressas!!!

    Fazer o que?

    E quanto ao menino do livro, que pena que a mãe assim pense, enquanto encoraja a outra a seguir um caminho tão diferente...pena! beijos,linda semana,chica

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  2. Muitos não sentem, pensam, lamentam ao atropelar pássaros, nem cachorros ou gatos, muitos nem lamentam ao atropelar outros :(

    As pessoas apertam curtir na notícia da morte de alguém, as pessoas se acham modernas e descoladas por não lerem mais livros de papel, por não escreverem mais cartas, pelos seus filhos babys não brincarem mais de copinhos que cabem uns nos outros, bolas ou bichinhos, brincam com tablets os pobres coitados.

    Penso que muito daqui a pouco e já agora crianças e adultos com livro na mão são bizarras, esquisitas, quem não tem tatuagem também, quem não assisti ao The Voice, quem não tem celular ou Face...
    Penso que vale seguirmos, além da opinião alheia, torcendo para ela mudar, para sair dessa alienação coletiva e improdutiva, esse rótulos que não aceitam mas distribuem em grande escala.

    "Plantar um bosque na alma, e curtir a sombra, o vento, as crianças, o sossego. Não precisam ser reais. Eu até acho que a realidade não existe: existe o que nós criamos, sentimos, vemos ou simplesmente imaginamos." (Lya Luft)

    Bosques em sua alma, livros, céu de passarinhos que perdoam quem sente por eles, são leves como eles, são puros e livres de rótulos :)

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  3. Boa tarde Rovênia.. os tempos de hj estão cada vez mais afastando as crianças e nós mesmos da nossa essência para com a natureza.. tudo acontece por um sincronismo.. humanos e pequenos seres tem seus objetivos e tudo ali cessa.. a vida é imensa para entendermos os pqs.. grato pela visita.. adoro o poeta que tu citou no comentário.. abração

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  4. Ahh sim esqueci, nem me fale en correria! Ando tão arropelada que agora dei de esquecer de olhar a agenda. O que adianta se esforçar para colocar os compromissos nela? Kkkkk

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  5. 'Os homens trocam as famílias
    As filhas, filhas de suas filhas
    E tudo aquilo que não podem entender
    Os homens criam os seus filhos
    Verdadeiros ou adotivos
    Criam coisas que não deviam conceber
    O tempo passa e nem tudo fica
    A obra inteira de uma vida
    O que se move e
    O que nunca vai se mover
    O passado está escrito
    Nas colunas de um edifício
    Ou na geleira
    Onde um mamute foi morrer
    O tempo engana aqueles que pensam
    Que sabem demais que juram que pensam
    Existem também aqueles que juram
    Sem saber
    O tempo passa e nem tudo fica
    A obra inteira de uma vida
    O que se move e
    O que nunca vai se mover..
    Se mover..

    (sobre o tempo -nenhum de nós)


    em qq tempo gosto de ti ;)))

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  6. Rovênia, essa geração tecnológica que surgirá serão seres invisíveis, não enxergarão nem a si. Bjos.

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  7. Bela reflexão que resultou neste belo texto! Estamos vivendo um tempo em que nos é exigida, imposta a pressa, a não reflexão, senão a gente fica pra trás, somos retrógrados, ultrapassados se gostamos de livros e cartas "de papel". É preciso ter um tempo pra parar, para observar, para sentir a vida.
    Ana Maria

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  8. A pressa da vida, por vezes, nos faz dar cabeçadas.

    Já o menino do livro, é um pássaro aprendendo do seu jeito a voar. Que pena que falta a ele o impulso e o sopro do incentivo da mãe, não por culpa dela talvez, que nesse mundo injusto não deve ter aprendido a importância de voar.

    "O pássaro que morre em liberdade é como a criança que desperdiça a infância por nossa incompetência". Letras de ouro.

    Meu abraço, Rovênia!

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