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E se não
fosse um sonho? E não era. Eu sabia muito bem disso. Tive dois ataques de medo.
Minha mãe já havia morrido. Nem esse consolo eu tinha. Morava sozinho e era
sozinho. O sujeito carrancudo arrancou-me de minhas conjecturas e me jogou
dentro de seu carro, que partiu com um barulho insuportável dentro dos meus
ouvidos. Só tive tempo de observar um cadáver ser carregado para o outro carro,
que partiu na frente.
Pensei que
estavam atuando em um filme qualquer: o mocinho morto e o vilão preso. Pensei
novamente e concordei comigo que não teria dado muita bilheteria. Estava
sozinho e era sozinho. Então pensei em morrer de novo. Era tudo real e, pelo
visto, eu era o vilão.
Chegamos.
Era um penitenciária. Nunca tinha visto uma por dentro. Era nojento. Tive
vontade de vomitar, mas só iria piorar o seu estado. Um homem, mais carrancudo
que aquele que me escoltava, olhou-me: primeiro para meus pés e depois para
meus olhos. Então estremeci. Alguma coisa estava errada. Era o segundo que agia
assim.
Porém,
desta vez, não olhei para os seus pés. Abaixei a cabeça e reparei nos meus.
Minha nossa! Não sei se cheguei a dizer isso,mas meus sapatos estavam
ensanguentados e sem cadarços. Foi quando me dei conta que também minhas roupas
estavam pingadas, aqui e ali, de sangue.
Não tinha
ainda acabado minhas conjecturas quando me levaram para uma cela ainda mais
nojenta. Então não hesitei: vomitei. Pude notar apenas alguns olhos sem donos
me observarem por todos os lados. Estremeci novamente. Eu era um assassino? Não
era possível. Acreditava em Deus e no Espírito Santo. Eu era um assassino...
Não. Eu não era um assassino.
Devia estar louco ou tendo um pesadelo. Dormi aquela noite ali, em meio à
sujeira e ao ser odor. Tive vontade de nunca abrir os olhos e dormir
eternamente. Ou então de abri-los e sentir o ar puro e fresco da manhã passada
e de atrasar constantemente os ponteiros para não chegarem nas dez horas e
começar tudo de novo.
A minha cabeça doía, quando
alguém entrou na cela e me enxotou para uma sala escura onde havia alguns
carrancudos que me olharam com veemência e medo. Alguém foi a um canto, puxou
uma espécie de gaveta e fez sinal para o carrancudo atrás de mim. Esse me
dirigiu ao encontro da gaveta e senti que minhas pernas desapareciam.
O cadáver tinha um sobretudo, um
cachecol xadrez em vermelho, preto e branco e as mãos agarradas ao pescoço. Um
dos carrancudos tirou-lhe as mãos em volta do pescoço e afroxou-lhe o cachecol:
o pescoço havia sido brutalmente afinado por um par de cadarços. Havia sangue
nos cantos da boca.
Fiquei horrorizado, mas calmo,
muito calmo... Não dava para acreditar, simplesmente não dava. Não mais tive
vontade de morrer. Já não tinha forças.
Agora passo os dias aqui,
refletindo, lembrando o dia de chuva, das crianças correndo com os braços
abertos. E, aqui, nem o barulho dos pingos me deixam ouvir. Vivo com um barulho
insuportável nos ouvidos. Imagino que logo cai mais um pingo e outro. Num instante são
centenas... aqui e ali.
Obrigada por seguires ^^ Conheces alguns lugares de Portugal que nem eu conheço xD Já eu nunca fui ao Brasil =|
ResponderExcluirUm beijinho do outro lado do Atlântico*
Fabuloso, Rovênia.
ResponderExcluirGostei do desfecho.