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No English, no war



"A história da vida é mais rápida que um piscar de olhos. A história do amor é oi e tchau, até nos encontrarmos de novo". (Jimi Hendrix, pouco antes de morrer)

Imagens retiradas do Google
Jimi Hendrix em Woodstock




















Nesse fim de semana, fugi de Brasília. Fui descansar numa fazenda a uma hora e meia de Brasília, cercada pelo mato e pela paz. Queria esquecer que no domingo, às 14h, teria de estar no trabalho para o plantão do Enem 2012.

No recanto da paz, ouvi uma história sobre a Guerra do Vietnã, contada pelo meu sogro. Ele foi um dos primeiros mineiros de Governador Valadares a pisar nos Estados Unidos. Era jovem e a época era boa para juntar dinheiro na Terra do Tio Sam.
Estava tudo correndo bem. Ele até conseguiu se legalizar, tornando-se cidadão norte-americano. 

O problema foi a convocação para a Guerra do Vietnã, missão que não estava nos planos do jovem mineiro. Ele então usou a astúcia para não atender a ordem dos norte-americanos:

- I no speak English, entende?

Os militares se entreolharam e deram prazo de seis meses para que o alienígena brasileiro aprendesse inglês. O prazo não foi suficiente, obviamente, e o jovem acabou sendo dispensado do matar ou morrer na guerra. 

A minha paz terminou e às 14h já monitorava as notícias sobre o Enem pela internet.  Tão logo os primeiros candidatos deixaram os locais de prova, as questões começaram a ser conhecidas. Uma delas estava na prova de inglês e citava Jimi Hendrix e a pacificação no mundo. 

- “Que coincidência!”  Pensei e pesquisei um pouco sobre o guitarrista, considerado um dos maiores da história do rock.
Meu sogro e Hendrix tinham a mesma idade. Só que Jimi Hendrix, claro, não teve como negar o idioma. Natural de Seattle, foi convocado para a guerra em 1960. Tornou-se paraquedista de um esquadrão de elite. Diz a história que certa noite, cansados de ouvir a guitarra de Hendrix, que praticava todos os dias, seus colegas de alojamento desceram a porrada no pracinha. 

Jimi não se defendeu: abraçou a guitarra, protegeu-a com o corpo e apanhou até que um amigo ajudou-o. Após 26 saltos Hendrix fraturou o tornozelo e foi dispensado. E pôde, enfim, começar a sua carreira de sucesso. 

Ele morreu aos 27 anos, abrindo o tabu da idade em que outros roqueiros famosos também se foram de forma trágica, como Jim Morrison e Janis Joplin. No próximo dia 27, Jimi Hendrix completaria 70 anos. Meu sogro vai fazer uma grande festa na sua fazenda, mês que vem, com o tema boteco, para comemorar os seus 70 anos. 

Mas o que vem ao caso é que meu sogro estava lá nessa época de efervescência política na música norte-americana em protesto pela guerra. É essa a questão que estava na prova do Enem.  Os adolescentes que fizeram a prova de língua inglesa, com certeza, sabem quem foi Jimi Hendrix, mas muitos desconhecem que foi ele quem tocou na guitarra o hino deturpado dos Estados Unidos em protesto pela guerra.
Na época da Guerra do Vietnã, o mundo passava pela ebulição do movimento pelos direitos civis, do feminismo, do movimento gay  e os jovens norte-americanos viviam em um contexto social e político de ampla contestação. O Woodstock dos hippies, realizado numa fazenda próxima a San Francisco, estava mergulhadíssimo nesse cenário da década de 1960.
  
Foi nesse festival que Jimi Hendrix usou a guitarra para escancarar The Star-Spangled Banner e evidenciar, pela música, a sua crítica política.  Era um hino sem letra, em que usou a guitarra para acrescentar barulhos de bombas, metralhadoras, sirenes, aviões e o terror da guerra. Pouco mais de um mês depois, Jimi lançaria a música Machine Gun, agora com letra, sendo mais direto em sua crítica. 

“Dessa forma, é possível perceber como a música, e mais especificamente o rock, contribuíram para a crítica política no contexto dos Estados Unidos nos anos 60. Fosse aproveitando-se da fama para passar uma mensagem, fosse utilizando-se de momentos específicos para realizar uma crítica, os músicos mostravam sua atenção com o que ocorria no mundo, contrariando a imagem de uma juventude desraigada politicamente que se limitava ao estereótipo de sexo, drogas e rock and roll." (Trecho retirado de texto escrito por Ricardo Poço Vianna, em 2009, em www.//whiplash.net)

4 comentários:

  1. Bom dia, Rovênia.

    experiência sensacional, a dele, a qual compartilhaste conosco.

    Ótima terça para você!

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  2. Realmente, artistas de todos os gêneros, tem discernimento e cultura suficiente para se posicionar de forma impactante e decisiva sobre certas questões que merecem atenção, e a guerra do Vietnã, neste contexto, era uma delas.Parabéns aos "heróis da resistência"sempre!
    Beijo de leitor e frequentador de seu blog.:-BYJOTAN.

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  3. Rovênia, isso é uma grande verdade. Da mesma forma a música colaborou para o combate a ditadura militar no brasil nos idos de 1964.
    Sempre a música, não é?
    Beijos
    Manoel

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  4. Que interessante este relato que nos trazes Rovênia. Há muitas lições aqui hein!! Gostei de mais! .)

    Tem um presente pra ti lá no meu blog, mas receba só se for do seu desejo sim. Te espero lá.

    Abraço!

    http://diariosdesafios.blogspot.com.br/2012/11/premio.html

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