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Sem riso, sem sátira

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Em 1967, eu não tinha nascido, o homem tentava chegar à lua e o Brasil seguia no obscurantismo de governo, tendo como presidente o marechal Artur da Costa e Silva. Viro as páginas amareladas pelo tempo, que guardam o cheiro das leituras passadas, com o mesmo cuidado de quem embala um recém-nascido. A cada página que leio um sonho, deixo um papelzinho para marcar. Num instante, são vários os papeizinhos, uma sequência para voltar, reler, pensar e utilizar em trabalhos acadêmicos.

Como não se sensibilizar com esse educador que desde a década de 1930 juntou-se aos maiores intelectuais do Brasil para lutar por uma educação universal e de qualidade? Os avanços sofridos que temos hoje na educação não são suficientes para transpor o nosso atraso histórico. É preciso correr mais rápido, é preciso fazer muito mais. Uma elite egoísta que reconhecia nos livros a riqueza que eles proporcionam decidiu não dividi-la com a massa de brasileiros. Supunham eles que não seria necessária uma população educada; o saber bastaria a eles, a classe dominante, os donos do poder.

Anísio Teixeira é o autor do livro, edição de 1967, que comprei por R$ 65 em um sebo. Tem 157 páginas, cada uma delas guarda a sensibilidade de quem sabia a importância de multiplicar o saber, torná-lo riqueza de todos nós. Hoje, quase meia década depois, todo o país, inclusive a elite, paga caro pela ignorância ensinada nas nossas escolas. Priorizamos o ensino superior, onde só a elite chegava, enquanto a escola primária era desvalorizada cruel e propositalmente.

Poderia dizer mais e mais, mas vou copiar um trecho desse educador que traduzia a educação como "não privilégio":

"Bem sei que não é só a escola primária fantasma, que esse regime criou, a causa da mentalidade do nosso país, mas é triste saber que, além de todas as outras causas da nossa singular incongruência nacional, existe esta, que não é das menores, a própria escola, a qual, instituída para formar essa mentalidade, ajuda, pelo contrário, a sua deformação. Os brasileiros depois de trinta são todos filhos da improvisação educacional que não só liquidou a escola primária, como invadiu os arraiais do ensino secundário e superior e estendeu pelo país uma rede de ginásios e universidades, cuja falta de padrões e de seriedade atingiria as raias do ridículo, se não vivêssemos em época tão crítica e tão trágica, que os nossos olhos, cheios de apreensão e de susto, já não têm vigor para o riso ou a sátira".

* Bom fim de semana! 



10 comentários:

  1. Interessante um livro de 67 ser atual... talvez por isso que vale R$ 65,00 em um sebo.

    Bom Findi!

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  2. Sim! É preciso fazer muito mais, muitas coisas grandes e pequenas
    Ana Cañas...Luz em som :)

    Luz do sol, de dentro, das meninas, do seu amor, mar calmo e céu estrelado para seu dia \o/

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  3. [e...em dias de vento soul

    voa o coração alçado.

    quanto mais alheio,

    mais distante,

    mais alado.]


    lindo findi pra vc e seus amores.

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  4. oi Ro

    Não é de hj que existe um descaso na educação. A grande verdade é que é vantajoso pra muitos que existam pessoas que não pensem e não tenham acessa a arte, cultura e leitura. Só assim não formam opiniões próprias. Fica muito mais fácil de manipular.
    Sempre foi assim, inelizmente.

    Um maravilhoso Janeiro pra vc.

    bjokas =)

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  5. a sabedoria é algo que se adquire quando já não serve! ou seja, quando envenlhecemos
    ainda assim são poucos os que chegam lá. a maioria fica até mais estúpida com o passar dos anos. abençoados os que conseguem reconhecer a sabedoria quando com ela se deparam e que oxalá ainda seja em tempo

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  6. Tive um professor [de sociologia] que falou bastante sobre a educação como ela era e como é, hoje. Via de perto duas realidades diferentes e dizia que pra muitos, a ignorância da massa era positiva. Era uma segurança de que tudo seguiria em 'p a z'...

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  7. Ler fatos de 1967, época que vivi, é interessante,.Dá pra ver detalhes e lembrar...beijos,linda semana,chica

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  8. Boa noite Rovenia.
    Quanto descaso na educação,os tempos mudam e só piora , infelizmente.
    Uma lindo més de janeiro.
    Beijos.

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  9. Quase que não consigo ler o seu texto por causa da primeira frase - Em 1967, eu não tinha nascido - Fiz as contas e vi que eu já dançava a valsa das debutantes e isto deixa a gente reflexiva, principalmente em tempos de balanço de ano novo. Que para mim será sempre mais um ano da "velha". Não conheço o livro e ele vai entrar na minha lista de desejos porque o tema me atrai. Quero aproveitar para recomendar um livro - chama-se O Mínimo Que Você Precisa Saber Para Não Ser Um Idiota, escrito por Olavo de Carvalho.
    São textos escritos entre 1997 e 2013 e publicados em diferentes jornais e revistas do país, que mostram as notícias, o que nelas fica subentendido, ou que delas passa omitido~. E a gente começa a entender melhor a gente brasileira.

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  10. Rô, é lamentável que para darmos uma boa educação para os nossos filhos tenhamos que pagar caro por isso. Nunca consegui usar meu vale alimentação para me alimentar... sempre vendi pra usar o dinheiro e pagar a escola do Matheus. Sacrifícios que a gente tem que fazer, não é mesmo?Bjs!!!

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