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Meu nome é Mayôi



Meu canto de morte
Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,

Nas selvas cresci;

Guerreiros, descendo

Da tribo tupi


Da tribo pujante,
Que agora anda errante

Por fado inconstante,

Guerreiros, nasci:

Sou bravo, sou forte,

Sou filho do Norte;

Meu canto de morte,

Guerreiros, ouvi.




Quando eu era menina, decorei essas duas estrofes do meu livro da escola. Repetia porque achava sonoro, bonito. Naquela época, só se lembrava dos índios no dia 19 de abril. Faltava informação e sobrava preconceito. Hoje a abordagem indígena nos livros didáticos é muito mais ampla. São conteúdos inseridos em várias páginas. 

Infelizmente, há muita atualidade e esquecimento de clássicos. Os versos acima, por exemplo, são do nosso poeta indigenista Gonçalves Dias. Ele tentava elaborar uma epopeia intitulada Os Timbiras, "um projeto ambicioso em que os índios substituiriam os heróis gregos numa Ilíada brasileira, tropical, com abundantes e coloridas descrições da flora e da fauna." A narrativa teria como eixo a formação e dispersão do povo timbira. A obra, contudo, não ficou pronta.

Quanto aos versos finais que não decorei ...


E à noite, nas tabas, se alguém duvidava
do que ele contava,
Dizia prudente: 

- Meninos, eu vi!

... fazem referência à sabedoria dos mais velhos, dos pajés. Visitei uma vez a tribo indígena dos Khraò, em Tocantins. Passei lá dois dias, dormi em rede amarrada na oca feita de folhas de palmeiras. Eles dançaram a noite toda, assisti a uma corrida de tora, nadei no rio com as crianças indígenas e fui batizada com o nome de Mayôi, ratinha do cerrado. Leiam aqui.

O que mais me impressionou não foi o acesso deles à internet, mas a comunidade socialista. A divisão da carne da vaca em porções iguais, o arroz cozido com grãos de feijão para o almoço era colhido com a palma das mãos. Ninguém recebia porção a mais ou tentava dar uma de esperto. 

As crianças sentavam-se no chão para ouvir os ensinamentos do velho pajé, que era respeitado por sua sabedoria. O socialismo existe ali e, nós pobres civilizados, lendo nos livros a teoria de Marx.  



Esse vídeo foi indicado pela amiga Margoh.


12 comentários:

  1. Que experiência ímpar senhora Mayôi!
    Vou lá para saber mais.
    Beijo

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  2. Maravilha te ler! Bela homenagem!!! beijos,chica

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  3. Infelizmente a relação "homem branco x índios" ainda precisa ser explicada e analisada para que a conta seja zerada. Por causa de um erro da colonização assistimos até hoje atos que fogem à nossa compreensão. Os direitos dos índios não são respeitados e por outro lado vemos centenas tentando invadir a sede do governo. Ou tendo que desocupar um Museu onde dezenas de índios viviam. Era um museu vivo??

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  4. Baila Comigo
    Rita Lee

    Se Deus quiser
    Um dia eu quero ser índio
    Viver pelado
    Pintado de verde
    Num eterno domingo
    Ser um bicho preguiça
    Espantar turista
    E tomar banho de sol
    Banho de sol!
    Banho de sol!
    Sol!...

    Se Deus quiser
    Um dia acabo voando
    Tão banal assim
    Como um pardal
    Meio de contrabando
    Desviar do estilingue
    Deixar que me xingue
    E tomar banho de sol
    Banho de sol!
    Banho de sol!
    Banho de sol!...

    Baila Comigo!
    Como se baila na tribo
    Baila Comigo!
    Lá no meu esconderijo
    Ai! Ai! Ai!
    Baila Comigo!
    Ah! Ah! Uh! Uh!
    Como se baila na tribo
    Oh! Oh! Baila ba, ba
    Baila Comigo!
    Lá no meu esconderijo...

    Se Deus quiser
    Um dia eu viro semente
    E quando a chuva
    Molhar o jardim
    Ah! Eu fico contente
    E na primavera
    Vou brotar na terra
    E tomar banho de sol
    Banho de sol!
    Banho de sol!
    Sol!...

    Se Deus quiser
    Um dia eu morro bem velha
    Na hora "H"
    Quando a bomba estourar
    Quero ver da janela
    E entrar no pacote
    De camarote...

    E tomar banho de sol
    Banho de sol!
    Banho de sol!
    Banho de sol!...

    Baila Comigo!
    Como se baila na tribo
    Uh! Uh! Uh!
    Baila ba, ba
    Baila Comigo!
    Lá no meu esconderijo
    Ai! Ai! Oh!
    Baila Comigo!
    Ah! Ah! Uh! Uh!
    Como se baila na tribo
    Baila ba, ba
    Baila Comigo!
    Lá no meu esconderijo
    Ai! Ai! Ai!...

    Sol! Sol! Sol!...

    E tomar banho de sol
    Banho de sol!
    Banho de sol!
    Banho de sol!...

    Ah!
    Baila Comigo!
    Como se baila na tribo
    Baila!
    Baila Comigo!
    Lá no meu esconderijo
    Ai! Ai! Ai!
    Ai! Ai! Ai! Ai!
    Baila Comigo!
    Como se baila na tribo
    Baila ba, ba
    Baila Comigo!
    Lá no meu esconderijo
    Ai! Ai! Ai!
    Baila Comigo!
    Como se baila na tribo
    (Que loucura!)
    Baila ba, ba
    Baila Comigo!
    Lá no meu esconderijo
    Ai! Ai! Ai!...

    Lá no meu esconderijo
    Ai! Ai! Ai!...


    (que experiência mais humana vc
    viveu...gosto de documentários indígenas)


    http://www.youtube.com/watch?v=6bP3jibUwkA

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  5. Outro....

    Trailer do documentário Hotxuá, um registro poético sobre a tribo indígena krahô, um povo sorridente que designa um sacerdote do riso, o hotxuá, para fortalecer e unir o grupo através da alegria, do abraço e da conversa. Acompanhando o dia-a-dia da aldeia no Norte do Brasil, o filme colhe depoimentos dos índios, em sua língua nativa e em português. Eles falam sobre as crenças e o estilo de vida que sustentam e mantêm essa sociedade feliz cuja concepção de mundo é o equilíbrio entre forças opostas e o respeito à diversidade.

    http://www.youtube.com/watch?v=co0NsQKJG9k

    Beijo

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  6. Existe uma riqueza cultural impressionante nos índios, que infelizmente hoje são um número muito menor do que foram quando o país recebeu a invasão dos europeus sedentos por conquistas.
    Sorte daquele que tem a oportunidade de conhecer o dia-a-dia desses irmãos, que são o símbolo desse país.

    "O índio foi conhecer a cidade. Viu um supermercado farto de alimentos e um pobre coitado comendo comida do lixo, fora do mercado. O índio envergonhou-se daquilo e quis sair dali imediatamente. Na sua tribo não havia fome, nem frio. Pois aquilo que tinham, partilhavam entre si". Não com essas palavras, mas foi o que ouvi em certa aula de história.

    Grande abraço, Mayôi!

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  7. Ro,também lembro desses versos... hummm saudade...
    Incrível como você resgata esses tesouros da literatura. Assisti ao vídeo e acho que o filme deve ser muito interessante.
    Bjs!

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  8. Que bom seria se todos em nossa sociedade soubessem respeitar, amar e compartilhar essa cultura, mais infelizmente o que temos são grandes injustiças e crueldades, um exemplo: a cidade onde moro hoje, Vitória da Conquista - Bahia , fundada a partir de um massacre dos índios: Imborés, Mongoiós e Pataxós...Lamentável!

    Mas quanto a sua postagem eu gostei muito e o filme realmente é uma ótima indicação.
    Deixo aqui meu carinho.
    Desejo-lhe um ótimo final de semana.
    Beijos
    Joelma

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  9. Os índios sempre me causaram curiosidade , gostava de ler sobre eles quando adolescente , achava-os interessantíssimos_ até hoje gosto da leitura e das biografias deles,
    Bacana sua visita a tribo indígena, deve ser inesquecível,
    Segui o link e gostei da reportagem bem completa da nossa Rovênia_ que chic essa jornalista!
    Parabéns _ sucesso na sua profissão t?
    acho muito bonita.
    bom fim de semana
    abraços meus

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  10. Nossa, que incrível! Esse tipo de experiência deve mudar a vida da gente, né!
    Adorei!

    @karlinhakv
    www.fizdecanetinha.com

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  11. Puxa que delicia ver o documentário aqui ...eu nunca canso de vê-lo.

    beijo

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  12. Em razão do meu trabalho, não tive bons encontros com índios, sempre se dava em razão de algum problema. Mas reconheço na pureza deles uma referência inestimável para nós, 'caras pálidas'.

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