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O nome do moço

Imagem do Google

Época de chuva somada à falta de tempo, não tem mesmo jeito: o  carro de todo santo dia vai ficando encardido. Toda vez de entrar e sair, é um sufoco para não sujar a roupa. A solução menos inovadora, mas que resolve, é pedir salvação ao flanelinha – aquele do estacionamento do trabalho. É que os outros, que insistem para “dar uma olhadinha” no seu carro e pedem para lavar, são muito chatos. Acham sempre que mulher não sabe fazer baliza:
- Não cabe, não, moça! Tenta outra vaga logo ali...
Haja paciência. Conto até três, aumento o volume do som, finjo que aquela criatura que insiste em ficar ali, fazendo sinais de “vem mais pra cá um pouquinho”, “chega, tá bom” e “vai pra lá, mais pra lá”, é simplesmente uma miragem, e que não existe de fato.
Coloco o carro lá, onde ele garantiu que não dava e balanço a cabeça para dar o “sim” que ele quer ouvir.
- Sim, pode dar uma olhadinha no carro! E dá para dizer outra coisa?
Bom, voltando à nossa história. Cheguei atrasada nesse dia, estacionamento lotado, não puxei o freio de mão e deixei o carro na frente dos demais que tomaram aquela que poderia ser a minha vaga. Dei um giro de 360 graus até descobrir o flanelinha de chinelo, sorriso animado ao me ouvir chamando por ele:
- Moço, moço! Você pode lavar o meu carro? Deixei aberto. Por dentro e por fora, ok? Você sabe qual é, não?
No horário combinado, ao meio-dia, duas notas novinhas de R$ 10 na mão esquerda, precisei apenas de um giro de 180 graus para achar o tal moço:
- Moço, moço? Olá... Você estava aí! Me diga qual é o seu nome para eu parar de te chamar de moço...
Ele sorriu, todo satisfeito com a atenção:
- Meu nome é um pouco difícil.
- Não é problema. Tenho tarimba nisso – disse, já pensando num apelido para o tal moço. É que tenho um defeito terrível. Se boto na minha cabeça que uma pessoa tem um nome, só vou chamá-la assim. E não adianta me lembrar. Passei anos chamando uma amiga de Camila e o nome dela é Marcela. E a professora das meninas do ano passado? Durante o ano todo foi Adriana. E o nome dela é Meire. Ou é o contrário? 
- Meu nome é Lindoés – disse o moço de chinelo, segurando um balde amarelo cheio de água.
Lindoés... Precisei de algum tempo para me recuperar. Não há apelido para quem chama Lindoés!
- São R$ 20, não é isso?
Lindoés... Que coisa! Como posso chegar ao estacionamento e gritar Lindoés, Lindoés?  Não mesmo. Seu nome será “Seu Moço”! Muito melhor!

2 comentários:

  1. [risos...]

    Boa!

    Melhor mesmo seu Moço.

    Quando era professor, sem mentira, juro, tinha um aluno de nome Jacinto Pinto. Combinamos no primeiro dia de aula que na chamada o chamaria de Jac, ele gostou, eu mais ainda.

    Um abraço!

    ps.: você estava certa, a mulher do meu conto resolveu jogar tudo pro alto e ir passear na Grécia.

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  2. Rovênia, kkk! O negócio é usar a lei do menor esforço mesmo. Vamos de "Seu Moço".
    Grande abraço
    Manoel

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