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Educação sem flor

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Depois que acontece, é preciso um tempinho para acreditar que tudo ocorreu de verdade. Vamos aos antecedentes porque toda tragédia parece ser anunciada. Um dia desses cheguei para buscar as meninas na escola. Por serem gêmeas, estudam em salas diferentes. Portanto, cada uma tem a sua própria professora. O caso envolve a professora da Bruna. Pois então, ela me perguntou:

- Nossa, a Bruna escreve ainda tão errado, né? É engraçado porque ela lê tanto...

Dei um sorriso desse tamanho de sem graça. Teria um monte de justificativas para tirar do baú. Ela foi alfabetizada em inglês, usa óculos porque tem três graus de hipermetropia, ainda está no ciclo de alfabetização, etc, etc... Mas, não sei por que disse apenas que não entendia também os seus erros. 

Ela escreve "crese"  e tem problema com o futuro que faz com "ram" no lugar de "rão", mas nada que vá fazer alguém morrer de infarto. 

Agora, imaginem o meu susto ao receber a prova de português da menina. Um 7,5  não é uma notona, mas fui atropelada pela correção da professora. Estava lá a resposta da interpretação de texto:

Como o doutor ajudou Paulinho?

"Explicando que quando o menino crese (cresce) a alergia desaparece (desaparesse). 

O que está entre parênteses é a correção da professora. Acreditem!

Não é assustador? A professora "descorrigiu" a palavra escrita corretamente. Um erro crasso cometido por uma professora de um dos melhores colégios privados da capital do país. Fico imaginando como anda a educação Brasil afora. 

Conversava outro dia com a coordenadora de um cursinho pré-vestibular de Brasília e ela me dizia o inacreditável: alunos estão chegando ao ensino médio sem saber a tabuada. 

Pior tragédia é quando ouço pais de classe média refinada, que exibem roupas caras e sentam-se à mesa de restaurantes de luxo, acríticos quanto à educação dos filhos. Acreditam que eles estão em escolas de excelência. 

Ninguém se iluda. Não existe educação de qualidade no Brasil. O currículo é gigante, confuso, não se trabalha mais fixação de conteúdo, os docentes são carentes de informação e de dinheiro (têm mais de um emprego e, portanto, não têm dedicação exclusiva e tempo para preparar aulas criativas).  
 
As crianças leem pouco e quando leem não entendem. A alfabetização até os 8 anos, programa prioritário do governo Dilma Rousseff, tornou-se emergencial porque nossos índices são vergonhosos. A média nacional é de que 15,2% das crianças não aprendem a ler e a escrever na idade certa, o que provoca uma avalanche nos saberes dos anos seguintes. Nossa educação está em naufrágio há tempos. 

Deem uma olhada pelas comerciais da cidade. Proliferam cursinhos de reforço escolar, de aulas particulares e filiais do método japonês Kumon. São os salva-vidas da educação do século XXI. O que se produz de sucesso nas salas de aulas são exemplos pinçados, resultados quase de milagres e do esforço de professores heróis aos quais me curvo de satisfação e respeito. 

Fora isso, sobra a cegueira da nossas crianças nas suas escolas. E não se admirem se elas tirarem os sapatos dos pés para conseguirem juntar mais dedinhos para achar o resultado das operações básicas. Acordem pais para a dura realidade!

11 comentários:

  1. Palmas!
    Acordem pais, vigiem, eduquem, alfabetizem, aculturem seus filhos.
    Vão as escolas, reclamem, cobrem, nem que seja só para exercer o seu direito e sentir que não deixou passar em branco tanto descaso.

    Eu após anos de formada achei que estava realizando um sonho e realizaria feitos ao ser empregada como professora de alfabetização de uma escolinha aqui na minha rua.
    Não fiquei nem um ano, abandonei, pois tentei, me choquei, surtei e nem por dinheiro, nem por necessidade de ter uma ocupação além da caseira consegui fazer parte daquilo.

    Pais, professores, coordenadoras, diretora, cheias de pose, fofoqueiras, metidas e semi-analfabetas, sem conhecimentos básicos de cultura popular, de educar, de serem educadas, de livros, autores, histórias, de didática, de bom senso, de psicologia infantil, civilidade, senso de coletividade, valores morais, espirituais e até mesmo comerciais.

    Muitas são as histórias para contar e vc se chocar da trajetória de meu filho do jardim ao 8ºano em que ele está.
    De professora que disse que o sol dele embaixo do papel era sinal de alguma deficiência dele, quando ele simplesmente indagou se o sol não podia estra se pondo, a professora que abriu um peixinho com a faca na frente das crianças na semana do animal de estimação a coordenadora que me pediu para não comprar mais livros para ele pois ele lia muito.
    Para todos dei a resposta e tomei atitudes que me fazem ter a alma lavada e a certeza de que não posso deixar a educação de meu filho na mão de nenhuma escola.

    * Sem tempo de reler e ver se tem algum erro de digitação ou gramatical. Certa de sua compreensão e com citação de Maquiavél para arrematar:
    "O leão não sabe se defender das armadilhas e a raposa não sabe se defender da força bruta dos lobos. Portanto é preciso ser raposa, para conhecer as armadilhas e leão, para aterrorizar os lobos."

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  2. Rovênia, os errinhos de sua filha são aqueles de quem está no processo mesmo de conhecer a nossa difícil língua.
    O que é assustador é a "correção" da professora que traz de maneira clara todas as mazelas da nossa educação - da falta de preparo, da falta de tempo por acúmulo de empregos e por aí vai.
    Vamos de mal a pior e o MEC insitindo em que está tudo bem.
    Ano passado uma professora sugeriu aula particular ao meu filho e depois da minha resposta, ela disse que nunca tinha pensado nisto!
    Disse a ela que eu era absolutamente contra aulas particulares, que é por isso que a educação aqui não funciona. Tudo deveria ser resolvido dentro da escola. Exemplo de fracasso para mim são as inúmeras escolas de idiomas que no final culminam para os pais mandarem o rebento para um intercâmbio...
    E os pais das melhores escolas que param o carro em fila dupla para buscar os filhos?
    Precisamos acordar todos.
    Beijo
    Ah Adorei saber que são gêmeas!

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  3. Quase inacreditável Rovênia!
    Fico triste quando vejo situações assim. Sou professora e me preocupo demais com os rumos que nossa educação tem levado. Cada vez menos compromisso, menos tempo, menos tudo e quem perde são nossas crianças. Um tristeza saber estamos sendo mal educados nas escolas. Nosso brasil precisa de mudanças. E peço à Deus que ilumine nossas cabeças para que possamos deixar nossos lugares de comodismo e fazer como você fez aqui, mostrar o que, de fato, acontece e questionar.

    Um abraço minha amiga!

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  4. É uma lástima nossas crianças sendo assistidas por professores mal remunerados mal humorados e mal educados.Enquanto alguns usam todos os recursos e se empenham em ministrar bem, a maioria faz como voce disse não tem tempo para preparar suas aulas para se reciclar e se perde nos inúmeros locais de trabalho pulando de sala em sala apenas cumprindo horários.
    Muitas vezes me pergunto de quem a culpa _ certamente de todos que tem nas mãos o poder de 'transformar' e segue esperando que outros o façam sem dar o primeiro passo,
    Iniciemos já da melhor forma que soubermos e quem sabe outros nos seguirão ...e claro, vamos precisar de muita Fé e reza ... rs
    beijinhos Rovênia e obrigada por fazer-nos pensar.

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  5. Você não existe! Eu fico aqui sem saber se elogio a sua crítica ou seu texto maravilhoso! :)) ô perfeição...Beijos!

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  6. Por causa do meu trabalho tenho muito contato com profissionais da área de educação e erros como este que a professora da sua filha cometeu (e outros ainda piores) fazem parte do meu dia a dia. Tem que reclamar, tem que apontar a ferida com a esperança de que um dia melhore.

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  7. Olá, Rovênia!

    É bem por aí mesmo, não adianta tampar o sol com a peneira. De forma geral, nossa educação vai mal. Mesmo com a 'evolução' de certos índices de massificação do ensino que nos são divulgados, a qualidade do ensino é questionável.

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  8. nossa amei o texto!e a correção da prof hein? meu Deus
    Obrigada pela visita no blog!
    Bjs e volte sempre!
    Bel Carvalho
    http://bybelcarvalho.blogspot.com.br/

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  9. Rovênia, eu não me assusto com isso não. Quando cursei engenharia dei aulas em grandes e famosos cursinhos de São Paulo. Lecionei Física, Química e Matemática. A diferença do cursinho para a escola é que no cursinho o professor tem que ensinar e o aluno tem que aprender e o professor é muito bem pago para isso. Como professor eu ganhava quase o dobro do meu primeiro salário como engenheiro.
    Na escola, só o aluno tem que aprender porque o professor não tem condições de ensinar. O professor não ganha para fazer cursos de atualização e conheço muitos (as) que compram com seu dinheiro caixas de giz para a escola.
    Portanto, não adianta alertar os pais porque não está através deles a solução e se forem mais apertados, tenho a impressão que os professores vão desanimar de vez. Talvez seja melhor negócio vender Produtos Jequiti para o Sr. Sílvio Santos, não é?
    Infelizmente nós sabemos a solução.
    Não é a curto prazo, contudo quem será que tem interesse em que o povo seja mais instruido?

    Um abração
    Manoel

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  10. Primeira vez em seu blog, Rovênia e... fiquei encantada! Há tanta coisa que envolve a educação (ou à falta dela) neste País. Às vezes penso que há pouquíssimos "educadores" - educadores de fato! - conscientes de sua importância. Vamos levando e empurrando o problema como se isso não fosse prioridade. Fala-se muito sobre o assunto, mas...
    Virei aqui sempre!

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