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Perdidos no saber

Talvez seja melhor modernizar o nome desse blog para polegrafe. É um nome mais contemporâneo, mais de acordo com a era que vivemos. A ideia não veio do nada. É plagiada do livro A Polegarzinha, escrito pelo filósofo francês Michel Serres. 

Sugestão de leitura da amiga Ana Paula (que publicou seu primeiro livro) fez-me pensar e discordar, em parte, desse pensador. Polegarzinha é como ele batizou o internauta, essa multidão anônima que inaugura a nova era do saber sobre as elites. 

Com a agilidade dos dois polegares, a geração digital mergulha na rede de informações e se iguala ou ultrapassa a velha guarda que utiliza os dez dedos para digitar num teclado real ou virtual. Serres defende essa nova era de saber que substitui o saber magistral, antes acessado apenas por aqueles que estavam nos anfiteatros universitários e no meio dos livros. 



A era da Polegarzinha traz uma nova realidade em que o saber está acessível a todos. Todos agora dividem o poder de produzir conhecimento. Passam a ser agentes e não passíveis consumidores do conhecimento. É uma verdade, mas é preciso fazer ponderações. O saber não vem de graça. É preciso esforço, querer triturá-lo para que seja absorvido. 


Quem já aventurou-se pelas redes sociais, como o Facebook, e infindáveis blogs sabe bem como faz sucesso o trivial, o engraçado, o que não custa tempo de leitura. Não é por menos o sucesso dos 140 caracteres do Twitter. Como a massa anônima vai superar uma elite do saber se a preguiça impera? De que adianta ter diante de si todo o conhecimento da humanidade, se é preciso debulhá-lo e nem todos estão dispostos a esse trabalho? 


A Polegarzinha pode ser tanto a revolução quanto a continuidade da mediocridade do saber. Se ela não for capaz de emergir no meio desse saber farto e facilitado será uma Polegarzinha iludida. 


Uma massa que tem o privilégio do acesso ao saber virtual será derrotada pelo próprio alienismo se não se der conta de que é preciso ler de verdade. Ao se desconectar do fato de que não existe saber de graça, se a Polegarzinha não vier com a fome de pensar e de inventar o saber, estraremos na era do retrocesso massivo. 


Uma era em que muitos se deixarão iludir com o acesso ao conhecimento, mas  que muito poucos - uma elite apenas - continuarão capazes  de dominá-lo.  

10 comentários:

  1. Muito bom! Há tato a saber, tantas ofertas que muitos se perdem, ficam apenas "polegarzeando" no nada, nas bobagens, no inútil.... beijos,chica

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  2. Vale dar opinião em assunto do qual pouco sei? Não li o livro e é pelo seu texto que vou dizer o que penso.
    Historicamente, o saber sempre foi privilégio de poucos. Já foi gerado e confinado em mosteiros, palácios e, até mesmo em universidades que foram criadas para serem centros de excelência nas áreas do conhecimento. E infelizmente muitas não cumprem este papel.
    Hoje a facilidade de acesso aos meios de comunicação geram estes movimentos de exposição diária, a necessidade de mostrar que possui amigos e é campeão em “curtidas”.
    Sei bem que encontramos por aí muito conhecimento raso e sem profundidade e concordo quando diz que é preciso saber ler e interpretar para aprendermos a falar, ouvir e ver. Para que alcancemos o saber. Por isto sou condescendente com o que encontro por aí porque vejo como um movimento revolucionário (ainda em evolução) para que todos sejam incluídos e o saber não seja tão exclusivista.

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  3. Excelente Rovênia! Temos a sedutora nova civilização de polegarzinhas e zinhos, o saber na ponta dos polegares, mas e a vontade, a fome, as conexões?
    Pelo que leio em comentários de notícias, já fico com receio de estarmos no retrocesso...

    Bem, já está seguindo teu livro!
    Beijo

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  4. "O melhor, sem dúvida, é escutar Platão: é preciso -diz ele - que haja no universo um sólido que seja resistente; é por isso que a terra está situada no centro, como uma ponte sobre o abismo; ela oferece um solo firme a quem sobre ela caminha, e os animais que estão em sua superfície dela tiram necessariamente uma solidez semelhante à sua".

    Guimarães Rosa -Plotino, Enéadas, II i 7



    http://www.youtube.com/watch?v=XHERlJRwisY


    (de volta ao começo)

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  5. Conhecimento é tudo! Hoje tive uma paletra no meu trabalho que falava sobre Inteligência e Produção do Conhecimento. Lá pelas tantas uma frase me chamou a atenção,
    "O conhecimento é o ato de entender a vida" (Aristóletes)
    Beijos!

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  6. Fui atrás da tal polergazinha, essa jovem bem contemporânea, conectada e virtualizada e eis-me aqui para dar meu depoimento datilográfico.

    Ganhei de aniversário de meu cunhado um livro de autor e nome desconhecidos e ele me confessou que a garimpagem dele de livros assim incomoda os atendentes que querem saber objetivamente qual título e autor ele procura. Sou meio cismada para indicações de livros por parte de anunciantes e ditos entendedores e incentivadores da contemporaneidade e por isso recortei e trouxe uma recomendação que li sobre Polergazinha:
    "Recomendado para pais, educadores, e profissionais que desejam compreender as influências das novas tecnologias nos espaços que não são mais os mesmos...estamos conectados com na ponta dos polegares instantaneamente e isso já faz parte de uma nova reconfiguração de espaço, tempo e modos de vida."

    Pensei de ser interessante haver censura do mesmo para crianças e adolescentes não o fazerem de livro santo. E se está o mundo conectado e não concordamos, ainda que entendamos? E nosso papel de apresentar e fazer valer os nossos anos 70, 80, 90, como vivemos os 60,50 e 40 de nosso pais e avós? E o que há por trás, ao lado, a frente, acima e abaixo dos polegares?

    Penso que posso usar meu polegarzinho para dizer não acho certo, não acho sadio. Não vou me conectar, nem querer saber e tenho raiva de quem sabe, como um ariana de marte malcriada.. Há vida além da falta de energia, sinal de internet e tv a cabo.

    Não sou de multidões, sou da teoria de que toda unanimidade é burra. Multidões conectadas na ponta do dedo e compreendidas, não é receita de sucesso, eu desconfio cá com meu polegar na bochecha.

    Meu carinho e canto de passarinho \o/

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  7. Ainda não tinha ouvido falar da polegarzinha, mas achei o nome incrível! Ainda ontem mesmo troquei de celular e esse novo exige muito mais polegares que o meu antigo! hehehehe Mas, olha, sábios são aqueles que ainda sabem valorizar a leitura. Por que a tecnologia pode muita coisa, mas não pode ser tão mágica quanto a história de um livro.
    Eu lamento por quem acaba colocando uma coisa em detrimento da outra, no lugar de aproveitar o que há de bom em ambas as coisas!

    @karlinhakv
    www.fizdecanetinha.com

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  8. Concordo com a Karla Cunha podemos e devemos utilizar a tecnologia sem esquecer que vamos emburrecer se nao aproveitar o que há mais por aí...
    É o que parece que vem ocorrendo...
    Cada dia gosto mais de vir ler voce.
    beijos

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  9. Rovênia, o meu cansaço de hoje está impedindo a minha vontade de escrever quilômetros e quilômetros sobre essa postagem genial.
    Se você perguntar para uma pessoa qualquer:-De que é feita a folha de papel?
    Muitos dirão que é de plástico e poucos sabem que é da madeira (madeira de árvores mesmo,rs).
    Simplificando, observo que essa evolução está apagando a história. Todo mondo conhece a roda, contudo poucos questionam o porque de terem inventado a roda. Achei genial isso que você escreveu:

    "Como a massa anônima vai superar uma elite do saber se a preguiça impera?"

    Com o avanço tecnológico, a gente sabe que 4x8=32 e normalmente viu na calculadora. Dificilmente alguem se pergunta por que é 32!
    Porque 4 vezes oito é oito mais oito , quatro vezes. Então é:
    8+8+8+8=32.
    Me preocupo com essa tal "praticidade" e "dinamismo" que estão "enlatando" o nosso cérebro.
    Logo logo os robôs estão dando ordens para nós e, o pior, nós estaremos obedecendo e não sabendo fazer nada sem consultar os robôs.
    A vida é tão fácil e tão bonita e a gente fica inventando relacionamentos virtuais...
    Enfim...
    Beijo no seu coração
    Manoel

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  10. Tua veia crítica é sempre tão convincente...

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