Páginas

Translate

De filha para mãe





        Ela veio de branco esvoaçante, um barrigão comovente de oito meses, cantar com a voz parecida as músicas consagradas pela mãe. Por duas horas em pé, Maria Rita cantou sem perder o fôlego. Sem ventilador para aplacar o calor que ganhou intensidade pela multidão sob a tenda branca de plástico armada no estacionamento do shopping mais chique de Brasília, ela bem que tentava se refrescar agitando de vez em quando as mãos sobre o rosto e o colo suado.
“Está calor aqui, não?” Reclamou uma única vez, ao entrar no palco. O público apertado em cadeiras brancas ordenadas bem juntinhas, e também padecendo de calor, riu e entendeu. Apesar da infraestrutura que pecou para quem desembolsou até R$ 360, o show não poderia ser mais simples e perfeito.
Mesmo após o bis, quando eu esperava uma música apenas, ela retornou com estrelas prateadas na roupa como usava a mãe e empolgação para mais quatro clássicos de Elis Regina: Fascinação, Madalena, Romaria e Redescobrir, música de Gonzaguinha e que acabou dando nome ao show.
            Na pesquisa por “redescobrir” a mãe que ela perdeu quando tinha apenas quatro anos, Maria Rita cantou Doce Pimenta, música de Rita Lee que Elis nunca gravou. “Mas tem lá naquele Youtube, onde a gente acha tudo, uma passagem da minha mãe com a Rita Lee se acabando numa boate cantando essa música. Vale a pena assistir”, sugeriu Maria Rita.



As duas eram muito amigas, desde o dia em que Elis puxou um dos filhos pela mão e foi exigir advogado e os demais direitos para a cantora Rita Lee, presa naqueles tempos de ditadura. “Desconfio”, disse Maria Rita baixinho ao microfone, “que meu nome Rita veio daí, dessa amizade”.  
Maria Rita ainda lembrou  da amizade da mãe por Milton Nascimento. “Ela dizia que se Deus tivesse voz, seria a voz de Milton Nascimento.” E cantou Maria, Maria, música dele interpretada tantas vezes pela mãe, uma mulher de um metro e meio, fama de “pimentinha” e “a maior cantora do Brasil”. Palavras da filha, Maria Rita.  E quem discorda?

2 comentários:

  1. Os frutos nunca caem longe da árvore.

    Elis deve piscar em forma de estrela para filha...

    ResponderExcluir
  2. Que postagem ótima!!!
    De vez em quando passo na frente da casa onde morou Elis... Na Vila IAPI. E bate a saudade. Adoro a Maria Rita, parecia que não queria nada com música, depois se descobriu! Agora... Fascinação... é a música!
    Esse vídeo é histórico, Rovênia!
    Beijinhos!
    Tais

    ResponderExcluir

Faça o seu comentário!