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Saia justa infantil




Neste fim de semana estive diante de mais um episódio da vã filosofia da vida moderna. Minhas filhas receberam um convite todo caprichado para passar a tarde de sábado na casa de uma amiguinha. Para a felicidade das meninas, topei o sacrifício de dirigir quase meia hora para deixá-las lá.
Liguei para confirmar a ida e combinei de buscá-las três horas depois. Não queria abusar, criança faz bagunça e, afinal, era uma família com a qual não tinha intimidade. Nosso relacionamento era de “oi e olá” e frases curtas nos corredores da escola e nas festinhas infantis. Fiz recomendações para as meninas de não brigarem e de ajudarem a guardar os brinquedos da amiga.
Às 18h15, quinze minutos de atraso, lá estava eu tocando a campainha à cata das gêmeas. O pai atendeu... todo sorridente. Disse um olá como reza a etiqueta e me convidou a entrar ... Tudo que eu não queria.
- As meninas estão no banho!  Disse a mãe, que vinha em minha direção.
- Mas não precisava. Eu nem mandei roupa extra... Afinal eram só três horas. Achei que não precisariam...
A mãe, modelo de etiqueta, fala pausada e doce, explicou que as crianças quiseram descer para brincar no parquinho. Resultado: voltaram sujas. O que é absolutamente normal. 
- As três estão na banheira! Disse a mãe.
Santíssima Trindade! Lá fui eu ajudar...  A banheira era no quarto do casal... e as crianças pulavam na gostosura daquela água, molhando todo o banheiro. E eu de botas... o chão estava ficando um horror... Desculpei-me com a mãe, que buscou um novo tapete (branco!)
 As crianças não queriam sair.
- Deixa mais um pouquinho, mamãe!
Pedi, “repedi” e, enfim, convenci a menos geniosa a sair da banheira. Saiu de lá toda serelepe, cabelos encharcando ainda mais o banheiro:
- Mamãe, estou morrendo de fome!
Santíssima Trindade, o que se diz numa hora dessas? Fui salva pela mãe de voz doce que me explicou que as crianças tinham lanchado queijo quente, bolo e suco de uva.  
Bom, pensei lá comigo, que estava naquela hora urgente de acrescentar rigores na aula de etiqueta de como se comportar na casa das  amigas. Tinha orientado as duas criaturinhas a cumprimentarem os pais, a agradecerem o lanche e a não dizerem “não gosto disso ou daquilo”. Esqueci da proibição de dizer “estou com fome!” Até porque a fome dessa serelepe que saltou da banheira é de doce.
A mãe guardou as roupas sujas das meninas numa sacolinha e pegou dois vestidinhos no armário para emprestar.
- Agradeci, prometendo devolvê-los, lavados, na próxima terça-feira.
Fomos embora, depois de muito custo. A segunda filha serelepe queria dormir na casa da amiguinha.
- Não, querida, isso não foi combinado!
Convidei a família a ver o novo desenho da Tinker Bell no cinema, dia seguinte. Eles agradeceram, mas já tinham visto.
Ao chegarem em casa, as duas serelepes correram para tirar os vestidos emprestados.
- É para não sujar. Vamos ao cinema amanhã com eles!
Não dei importância ao fato e,  no seguinte, pedi para que se aprontassem porque já estava quase na hora da Tinker Bell. Não é que as duas que sempre reviram todas as gavetas e o armário em busca do look perfeito, nesse dia não tiveram dúvidas? Estavam com os vestidos da amiga!
Para evitar aquele estresse de qual roupa usar, deixei-as irem daquele jeito mesmo. Adivinhe? No shopping Center, nos deparamos com a família dona dos dois vestidos. Eu cumprimentei-os e comentei que as meninas quiseram usar os vestidos. Eles não disseram nada, nem que sim nem que não, e eu não dei muita bola. Criança gosta das roupas das amigas. Já tinha percebido isso com as priminhas e as amigas das gêmeas que foram à minha casa.
Mas a mãe de outra amiga das meninas, que assistiria  Tinker Bell conosco e com a qual tenho mais intimidade, disse-me na cara dura:
- Eu  morreria de vergonha, amiga, e não saberia onde esconder a cara!
Desde então fiquei pensando nisso. Afinal, o que parecia uma bobagem pode ser mal interpretado pela outra mãe.  Que impressão eu posso ter passado? De mãe relaxada? De mãe aproveitadora? Logo eu?
Recorri às amigas do trabalho. Relatei o caso e todas concordaram com a mãe cheia de vergonha.
Puxa vida, será que estou ficando desligada demais? Ou será que, pelo contrário, alcancei um patamar em que coisas bobas deixaram de ser relevantes? Ou não seria uma coisa boba e relevante? Sinceramente, não ligaria se fosse o contrário. Então, só pode ser um fato bobo.  Ou será que não?



3 comentários:

  1. Que maratona da vida moderna.

    Mas por eles, fazemos os sacrifícios valer a pena, não é mesmo.

    Um abraço e uma semana maravilhosa para você!

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  2. Adorei Rovenia! Mas sou a cegonha mesmo!
    Bjao. Adorei seu blog!

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  3. Seu blog está inteligente. Aprendeu tudo direitinho com a "sogrinha". Parabéns.

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