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Identidade flexível

Fonte: Pinterest
"...a obra, por força da arte, é recuperação do mundo segundo os mesmos procedimentos que produzem o mundo: mimese." Victor Knoll

Lembrei-me do meu tempo tempo de menina na escola. Dizem que quem é geminiana, uma hora é uma, outra hora é outra. Eu sempre acho que sou uma mistura de mim mesma. No entanto, porém e contudo, quando eu recebia os cadernos novos, encapados com o carinho da minha mãe, via diante das linhas um desafio: achar a minha própria letra. 

Acreditem, mudava de letra a cada dia porque achava que a da colega era mais bonita, mais criativa, mais original, mais chique e mais sei lá o quê. Meus cadernos eram então um recheio de letras diferentes que imitava. 

Pior, como escrevo com as duas mãos, a letra da mão esquerda é diferente da direita e isso me intrigava. Queria que as escritas das duas mãos fossem iguais. Nunca consegui isso. É uma frustração imitar a letra de todas as colegas da sala, do pai e da mãe, e não conseguir imitar a letra da outra mão. É como se uma tivesse birra da outra. 

Enfim, consolei-me com o passar do tempo. Não pensem que era fácil viver com essa minha obstinação do manuscrito perfeito. Minha mãe era a pior crítica, achava meus cadernos "descaprichados" e dizia que era falta de identidade. E quanto mais ela falava isso, mais eu tentava desesperadamente encontrar o desenho de letras que me satisfaria para todo o sempre, amém. Nunca achei. 

Dei-me conta, só agora, de que a letra que uso é uma imitação de uma colega de faculdade, a A.C. E a outra grafia que uso, como rascunho, é a imitação de outra colega, inteligentíssima por sinal, do ensino médio, a R.M.  Nunca tive a minha própria escrita. 

Se sou ainda frustrada? Não. Tenho as diferentes fontes do mundo digital. Quando enjoo de uma, escrevo em outra fonte. Aqui, no blog, escrevo mais em Courier porque imita os tipos das máquinas de datilografia. Mas, notem, que às vezes salto para a fonte Trebuchet por simpatia às letras miúdas, mais juntas. 

E nisso de digitar, as minhas escritas de mão esquerda e mão direita se equilibram. Tenho identidade flexível, eu acho. Mas, admito, fica a curiosidade. Como seria a minha letra original?

10 comentários:

  1. Que interessante isso das letras... A minha está perdendo o jeito arredondadinho que tinha e tá com jeito de letra mais idosa.Até ela muda com o tempo, as mãos tremem mais ou quase não escrevemos, apenas digitamos?rs beijos,adorei te ler! chica

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  2. Umas coincidências: sou geminiano e, no meu tempo do primário, imitei a letra de um colega de sala, o C.R..Sua letra era redonda e bem bonita. A minha não é bonita, caída para a direita. Minha imitação, por sinal, era muito mal feita(rs). Isso passou rápido.

    Interessante é que, ainda neste século, vi o C.R., num comercial de TV, foi neste século. Ele estava de terno; se tornou um executivo. Eu gostava dele, mas ele tinha , realmente, um tipo de burguês.rs

    Seu caso, Rovênia, sobre as letras, é coisa para Freud.rs

    Tudo de bom pra vc!

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  3. Como vc eu tambem tenho várias grafias, pois precisava disso para escrever cartas.
    Escrevia cartas e levava em sebos, sem ninguem ver colocava dentro de livros velhos, imaginando quem poderia ler...
    Olha que coisa mais maluca, mas me fazia um bem enorme.
    bjs
    Ritinha

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  4. kkkk Ro, você é ótima!
    Confesso que também não tenho uma letra definida...rsrss cada dia sai de um jeito.
    Menina, se eu tivesse o dom da escrita como você, não estaria nem aí pra letra.hehehee Beijão!

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  5. Minha letra vai variando de acordo com o tipo de caneta ou lápis que utilizo. A da minha mãe era linda e perfeita e, já idosa, quando percebeu que não era a mesma fazia exercícios com caderno de caligrafia. Mas, o que importa é que você sabe ligar as letrinhas e produzir textos lindos e encantadores. E quando vamos saber das novidades??

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  6. Linda mensagem como sempre, estou esperando seu casamento...rsrs

    Beijo

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  7. Massa isso Rovênia. Eu tb mudava muita a minha letra e falaram a mesma coisa para mim, falta de identidade. Hj em dia, eu digito os meus textos, se fosse escrever, eu não reconheceria a minha letra...rss. Bjos.

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  8. Eu li e ri com suas imitações.



    É só dos sentidos que procede toda a autenticidade, toda a boa consciência, toda a evidência da verdade.
    Friedrich Nietzsche


    Bons sonhos, Amiga querida.

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  9. Embora seja taurina, enfim encontrei pessoas que admitem, como eu, a minha letra não me representa! (rs)
    Invejei você, Rovênia, que escreve com as duas mãos. No ano passado eu quebrei a minha mão direita e foi um grande problema. A minha letra que antes disso já não era bonita agora é... só legível. (rs)

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  10. Vi aqui nesta postagem um imenso talento para a belíssima arte da caligrafia. Nunca pensou?

    Agora eu estou a rir com o comentário da Chica e a letra de velho!
    Beijo

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